Plantio da soja x chão seco: a “regra dos 25 mm” contra a germinação falsa

Com o vazio sanitário terminando em Mato Grosso e calor em alta no Brasil Central, produtores enfrentam solo seco. Plantar agora ou esperar? Entenda a regra de 25 a 30 mm e como o ZARC orienta decisões.

ZARC, Embrapa, soja
ZARC municipal: referência oficial para reduzir riscos no início da safra.

O vazio sanitário termina agora em estados-chave do agro e, em Mato Grosso, a liberação oficial para semear chega em 6 de setembro. Ao mesmo tempo, previsões apontam início de mês com calor acima da média e chuvas irregulares em partes do Brasil Central, combinação clássica para “acender a ansiedade” de entrar com a plantadeira. Esse cenário aumenta a pressão sobre produtores que dependem de boas condições iniciais para garantir uniformidade no estande.

Na dúvida, a paciência rende mais do que a pressa: sem chuva suficiente, cada semente vira aposta arriscada.

Antes de acelerar, vale lembrar a regra prática que produtores repetem há décadas: esperar um acumulado contínuo de 25–30 mm para garantir umidade uniforme no sulco. Embrapa recomenda iniciar a semeadura após pelo menos 30 mm, assegurando o stand e reduzindo riscos se a chuva falhar nos dias seguintes. Cumprir essa recomendação é essencial para transformar a expectativa de safra em produtividade efetiva, evitando prejuízos logo na largada.

Por que a pressa pode custar caro

Quando a semente encontra solo seco (“plantio no pó”), a germinação pode ser lenta e desuniforme. Isso aumenta o tempo de exposição a pragas e microrganismos do solo e eleva a chance de perder estande, o tipo de prejuízo que não se recupera depois.

Soja, agricultura, vazio sanitario
Semeadura em solo seco: risco de germinação irregular e perda de estande.

Além disso, a temperatura do solo precisa trabalhar a seu favor: a faixa adequada para emergência fica entre 20 °C e 30 °C, com desempenho ideal perto de 25 °C. Sem esse trio (umidade, contato semente-solo e temperatura), a lavoura “nasce capenga” e carrega desvantagem o ciclo inteiro.

A regra dos 25–30 mm: check prático de fazenda

Em linguagem de campo, a ideia é não apostar que “a próxima pancada resolve”. Procure chuva contínua que some 25–30 mm em curto intervalo e verifique se há previsão de sequência (mais 1–2 dias úmidos) para manter o perfil hidratado e evitar a “germinação vai-e-volta”.

Chuva, previsão
Previsão de chuva acumulada até 11 de setembro (modelo ECMWF). O mapa mostra ausência de volumes significativos no Brasil Central, mantendo solo seco em áreas-chave de plantio.

Como traduzir isso em uma decisão objetiva no seu talhão:

  • Teste rápido de umidade: abra o perfil com pá/trado; solo que modela “cobrinha” sem esfarelar indica água útil na camada de 0–10 cm.
  • Checagem de previsão: busque acúmulo ≥25–30 mm em 48–72 h e continuidade leve depois, não só pancada isolada.
  • Termômetro do solo: confirme ≥20 °C na manhã do plantio.
  • Profundidade: ajuste 3–5 cm (um pouco mais em solos leves/arenosos), garantindo bom contato semente-solo.
  • Semente protegida: trate para pragas de solo e patógenos, já que atrasos de emergência ampliam a janela de ataque.

Da previsão ao calendário no Brasil (safra 2025/26)

Para Mato Grosso, o plantio está liberado a partir de 6 de setembro; outros estados têm datas próprias de vazio sanitário e calendário de semeadura definidos pelo MAPA. Nesta safra, as portarias do ZARC 2025/26 (Zonificación Agrícola de Riesgo Climático) já estão publicadas, o produtor pode conferir por município no Painel de Indicação de Riscos e no app ZARC Plantio Certo.

No Brasil Central, setembro começa quente e com chuvas próximas à média, porém irregulares em áreas, cenário que favorece o erro de “semear na primeira pancada”. A leitura prática é simples: segure a ansiedade, espere 25–30 mm bem distribuídos + sinal de continuidade e case a decisão com a janela ZARC local. Isso reduz risco climático, protege o estande e aumenta a chance de uma lavoura mais uniforme desde a emergência.

Referência da notícia

Portaria SDA/MAPA nº 1.271. 30 de abril, 2025. Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).