Missoes Artemis inspiram pesquisadores brasileiros para futuros cultivos fora da Terra

Assinar os Artemis Accords impulsionou institutos brasileiros, liderados pela Embrapa, a testar batata-doce e grão-de-bico em microgravidade. A pesquisa visa alimentar astronautas e, de quebra, criar soluções hídricas eficientes para lavouras do Semiárido, emergentes sob estresse climático.

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Os Acordos de Ártemis são um conjunto de declarações que estabelecem princípios comuns, diretrizes e melhores práticas que se aplicam à exploração segura da Lua. (Crédito da imagem: NASA)

A adesão do Brasil aos Artemis Accords colocou o País no radar da exploração lunar e marciana e abriu caminho para que a Embrapa mobilizasse dezenas de cientistas em torno da Rede Space Farming Brazil.

Desde então, sementes de batata-doce e grão-de-bico viajaram a bordo do voo suborbital NS-31 da Blue Origin, um acordo de cinco anos foi assinado com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e um simpósio internacional sobre agricultura espacial já tem data marcada para outubro de 2025.

O projeto, orçado entre R$ 10 e 20 milhões, quer desenvolver sistemas de cultivo que sirvam tanto às missões Artemis quanto às regiões áridas da Terra.

A corrida para estabelecer bases permanentes na Lua e, no futuro, em Marte tornou a produção local de alimentos uma prioridade. O Brasil enxergou nisso a chance de levar seu reconhecido know-how agrícola para além da órbita terrestre; em 2021 o País assinou os Artemis Accords, marco que pavimentou a cooperação com a NASA e outros 50 signatários.

Em 2023, a Embrapa Pecuária Sudeste articulou a criação da Rede Space Farming Brazil, hoje com mais de 40 pesquisadores de instituições como USP, UFABC, ITA e UFPel, além do apoio da AEB. O grupo foca em cultivos de batata-doce e grão-de-bico, escolhidos pela alta densidade nutricional e resiliência, e já testou ambas as espécies em microgravidade no voo NS-31 da Blue Origin, lançado em 14 de abril de 2025.

Da fazenda ao espaço: por que levar sementes brasileiras além da órbita

A principal motivação é garantir alimentos frescos e nutritivos em missões de longa duração, reduzindo o peso e o custo de cargas lançadas da Terra. Pesquisas da Embrapa indicam que variedades roxas de batata-doce acumulam antocianinas que podem ajudar a proteger contra radiação, enquanto o grão-de-bico BRS Aleppo oferece proteína de alta qualidade e triptofano, essencial para a saúde de astronautas.

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Cultivos brasileiros como a batata-doce roxa e o grão-de-bico BRS Aleppo são testados em estufas lunares para alimentar astronautas e, ao mesmo tempo, impulsionar tecnologias sustentáveis de produção agrícola na Terra.

Além dos ganhos extraterrenos, a rede trabalha para transferir as mesmas tecnologias de eficiência hídrica e energética a regiões brasileiras sujeitas à seca ou a fazendas verticais nas grandes cidades. Experimentos em clinostatos e câmaras de LED já testam como sistemas aeropônicos fechados podem economizar até 95 % de água, benefício direto para o Semiárido.

Tecnologias que sustentam os cultivos espaciais

Para que seja possível plantar na Lua ou em Marte, pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo soluções tecnológicas que imitam as condições espaciais e otimizam o uso de recursos. Essas inovações já estão em fase de testes e mostram potencial tanto fora quanto dentro da Terra.

  • Cabines de microgravidade com sensores embarcados, como no voo NS-31 da Blue Origin, que avaliam a germinação das sementes em ambiente espacial.
  • Simulantes de solo lunar (LHS-2) e marciano (MGS-1) usados por USP e ITA para estudar o crescimento das raízes e a presença de toxinas.
  • Iluminação LED ajustável e estufas fechadas que economizam energia e permitem o reaproveitamento total da água.
  • Protótipos já testados: módulo aeropônico portátil, cápsula de germinação da UFABC, estufa pressurizada no ITA e banco genético com mais de 200 linhagens.

Essas tecnologias não só abrem caminho para a agricultura fora da Terra, como também oferecem soluções sustentáveis para enfrentar a escassez hídrica e alimentar zonas áridas no Brasil.

Da Lua de volta à Terra: impactos e próximos passos

A assinatura do convênio AEB–Embrapa em julho de 2025 garante cinco anos de recursos e prioridade em futuras missões da NASA, possibilitando colocar amostras na Estação Espacial Internacional já em 2026. Em paralelo, o Brasil sediará o I Simpósio Internacional de Agricultura Espacial (SIAE) entre 14 e 16 de outubro de 2025, em São José dos Campos, colocando o País como hub latino-americano do tema.

Os resultados promissores, resistência das sementes, economia de água e avanços em LEDs, apontam para soluções que podem revolucionar lavouras em áreas áridas e expandir a agricultura vertical urbana. Se as metas forem alcançadas, cultivar alimentos na Lua deixará de ser ficção científica e, ao mesmo tempo, ajudará a tornar a produção terrestre mais sustentável frente às mudanças.

Referência da notícia

Brasil sediará simpósio internacional sobre agricultura espacial em outubro. 19 de junho, 2025. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).