Janeiro–março 2026 no campo: calor e chuvas irregulares podem afetar o milho safrinha e arroz irrigado

CPTEC/INPE, INMET e Funceme indicam janeiro–março de 2026 mais quente e com chuva irregular. Entenda onde o risco de veranico cresce, como ajustar a safrinha e por que o arroz irrigado precisa planejar água e energia agora.

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Consultar o tempo antes da operação reduz risco em semanas de calor e chuva irregular.

O verão é a estação em que o Brasil “colhe” boa parte do que planejou no fim do ano: janelas de plantio, controle de pragas, manejo de água e decisões de custo. Só que, entre janeiro e março, o tempo muda rápido, e a diferença entre uma semana chuvosa e um veranico pode definir produtividade, qualidade e até a necessidade de irrigação.

Para orientar esse planejamento, uma nota técnica de previsão climática sazonal para janeiro–fevereiro–março de 2026foi elaborada em cooperação entre CPTEC/INPE, INMET e Funceme, com mapas probabilísticos por categoria (abaixo, dentro ou acima da faixa normal).

O cenário considera, entre outros fatores, o resfriamento no Pacífico em patamar de La Niña fraca e sinais no Atlântico Tropical, que influenciam onde a chuva tende a “sobrar” ou “faltar”.

O que o modelo ECMWF indica

No recorte de chuva, a previsão indica maior probabilidade de volumes acima da faixa normal em grande parte da Região Norte, no norte do Maranhão e do Piauí e também no Rio Grande do Sul.

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Probabilidade de chuva abaixo do normal (tercil inferior) em JFM 2026; modelo SEAS5 (ECMWF Charts).

Ao mesmo tempo, aparece maior probabilidade de chuva abaixo da faixa normal na maior parte do Nordeste e em uma faixa que inclui Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e nordeste de São Paulo; em áreas “em branco”, as chances ficam mais equilibradas entre as três categorias.

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Probabilidade de chuva abaixo do normal (tercil inferior) em JFM 2026; modelo SEAS5 (ECMWF Charts).

A temperatura entra como um recado adicional para quase todo o país: o documento aponta maior probabilidade de valores acima da faixa normal em grande parte do Brasil. No campo, isso costuma significar mais evapotranspiração, secagem mais rápida do solo quando a chuva falha e, em alguns casos, aceleração do ciclo da planta, com impacto em manejo e risco fitossanitário.

Milho safrinha: decisão boa é decisão com “plano B”

O milho safrinha depende, por definição, de encaixe: ele entra depois da soja e precisa de umidade suficiente para arrancar bem e atravessar o período crítico sem perder potencial. Em áreas onde o sinal é de chuva abaixo do normal e calor acima do normal (parte do Sudeste e do Centro do país, por exemplo), o risco não é “não chover nunca”, e sim chover de forma mais irregular, o que aumenta a chance de estresse hídrico em fases sensíveis.

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Milho safrinha depende da janela pós-soja; ZARC/MAPA indica períodos de menor risco climático por município.

Para transformar probabilidade em decisão, vale trabalhar com regras simples e revisáveis, acompanhando atualizações semanais e a realidade no talhão:

  • Se o solo entrar em janeiro com pouca recarga e a previsão seguir mais seca, priorize cultivares e manejos que reduzam risco de veranico.
  • Se a colheita da soja atrasar por chuva e o plantio “escorregar”, reavalie a janela para não empurrar o milho para o período mais crítico.
  • Se o calor ficar persistente, ajuste o manejo para reduzir perda de água (palhada, cobertura do solo, controle de mato competidor).
  • Se houver sinal de tempestades concentradas, evite operações no limite e planeje logística para aproveitar as brechas de campo.

Arroz irrigado: água pode ajudar, mas o manejo precisa estar pronto

No arroz irrigado, o tema central é água, e, aqui, o mapa traz um ponto de atenção positivo para o produtor do Sul: o Rio Grande do Sul aparece entre as áreas com maior probabilidade de chuva acima da faixa normal no trimestre. Isso pode favorecer a reposição hídrica e aliviar parte da pressão sobre reservatórios, algo relevante num sistema em que a segurança de água define a estabilidade da produção.

O outro lado do verão é que chuva acima do normal também pode significar mais interrupções de operação, maior dificuldade de tráfego em área e episódios de tempo severo.

Tanto a nota do CPTEC quanto o material do INMET lembram que, nessa época do ano, sistemas como a ZCAS podem organizar períodos de chuva mais generalizada, com variação espacial e eventos intensos pontuais.

Para o arroz, a melhor leitura da previsão é prática: planejar água e energia com folga, manter drenagem e talhões preparados para excesso, e usar a previsão como bússola, não como sentença, revisando o plano conforme os boletins forem atualizados.

Referência da notícia

Previsão climática sazonal: Janeiro, fevereiro e março de 2026 (JFM/2026). 17 de dezembro, 2025. CPTEC/INPE.

Portaria SPA/MAPA nº 384, de 21 de agosto de 2025: Aprova o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para a cultura do milho, 2ª safra, ano-safra 2025/2026. 21 de agosto, 2025. MAPA.