Greening no limite: 48% do cinturão citrícola já infectado, o que a primavera seca pode agravar
Levantamento do Fundecitrus indica 47,63% das laranjeiras do cinturão citrícola com greening. Com a primavera mais quente e seca, o vetor encontra condições favoráveis. Entenda o papel do clima e as ações práticas para conter o avanço.

Um novo levantamento do Fundecitrus confirma o cenário mais crítico já medido: 47,63% das laranjeiras do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro apresentam greening (HLB). Na prática, é “quase metade” do parque produtivo sob impacto direto de uma doença sem cura, que reduz o pegamento, derruba frutos e compromete a qualidade do suco.
O alerta não fica restrito ao campo. O Brasil é o maior fornecedor global de suco de laranja; quando a doença avança, a oferta encolhe e os preços ficam mais sensíveis. Com a primavera começando sob perspectiva de tempo mais quente e períodos secos em áreas do Sudeste, cresce o risco de condições favoráveis ao vetor do HLB, o psilídeo, justamente quando brotações jovens, o “bufê” do inseto, se multiplicam nas plantas. O resultado é interesse imediato de produtores e consumidores, do manejo ao preço no supermercado.
O que é o greening e por que ele pressiona toda a cadeia
O greening (huanglongbing) é causado por bactérias que se instalam no floema, bloqueando a circulação de seiva. As folhas amarelam de forma irregular, os frutos ficam deformados e amargam, e a queda prematura se intensifica; árvores doentes precisam ser eliminadas para conter a disseminação. Sem cura conhecida, o foco do produtor é evitar novas infecções e reduzir a fonte de inóculo.

O impacto econômico é amplo. Combinado a estresses climáticos recentes, o HLB ajudou a levar a colheita 2024/25 a um dos menores patamares em mais de 30 anos, efeito que reverbera nas cotações internacionais e no abastecimento da indústria. Em outras palavras: quando o HLB avança, a volatilidade do suco aumenta e a renda no campo fica mais vulnerável.
O ângulo agroclimático: um “termômetro do psilídeo”
Vale enxergar o clima como um acelerador ou freio do vetor. O psilídeo se move mais quando há brotações novas e clima quente; ventos ajudam a dispersão entre talhões; e extremos de umidade alteram a postura de ovos e a sobrevivência. O manejo, portanto, precisa “conversar” com a previsão do tempo e com a fenologia da planta.
Termômetro do psilídeo (explicado de forma simples):
- Dias quentes com brotação ativa, mais alimento e reprodução mais rápida.
- Vento persistente, aumenta o alcance do inseto entre bordaduras e vizinhos.
- Períodos secos, plantas estressadas e bordas mais vulneráveis; atenção redobrada.
- Janelas úmidas/chuva após calor, explosões de brotos exigem monitoramento intensivo.
Aqui e agora: como reduzir o risco nesta primavera
O dado de 47,63% é um choque de realidade, mas não uma sentença. A primeira linha de defesa é regional: vizinhanças coordenadas, erradicação célere de plantas doentes, mudas certificadas e controle do vetor com rotação de modos de ação, sempre com cobertura eficiente de copa e foco nas bordaduras, onde a pressão costuma ser maior.
Do lado agroclimático, duas ações elevam a resiliência: quebra-ventos (naturais ou estruturais) para reduzir a deriva do inseto e irrigação de suporte em talhões mais jovens para atenuar o estresse hídrico em ondas de calor.
Em semanas de brotação intensa, intensificar o monitoramento e ajustar o calendário de aplicações às janelas de temperatura e vento ajuda a “tirar o tapete” do psilídeo. É a combinação de clima + manejo, aplicada de forma prática, que pode evitar novas acelerações do HLB num parque já muito pressionado.
Referência da notícia
Levantamento anual do Greening. 10 de setembro, 2025. Fundecitrus.