Gelo no café: quando o inverno chega ao Cerrado Mineiro e as geadas atingem os cafezais

Uma geada tardia queimou cafezais do Cerrado Mineiro em 11 de agosto, atingindo Patrocínio e vizinhos e podendo reduzir a próxima safra em 412 mil sacas; o frio acendeu alta nas bolsas e corrida por manejo emergencial.

Café, frio, geada
O café é mais do que uma bebida: é parte da cultura brasileira, gera milhões de empregos e movimenta a economia, além de conectar o país ao mercado internacional.

A madrugada de 11 de agosto trouxe uma reviravolta climática digna de “Game of Thrones” no agro: a geada surpreendeu os cafezais do Cerrado Mineiro em pleno início de florada, queimando folhas e ramos e comprometendo parte do potencial da próxima safra.

Um levantamento da Expocacer estima perda de ~412 mil sacas (5,5%), com Patrocínio, maior município produtor do país, e cidades como Ibiá e Araxá entre as mais atingidas.

O choque térmico não ficou só no campo: o susto puxou o mercado para cima. Após semanas de alívio, os futuros do arábica voltaram a subir em agosto com o risco de geada e baixa de estoques certificados, enquanto cotações físicas em praças mineiras reagiram. É o tipo de história que viraliza porque mexe com o bolso, com a tradição do café na mesa do brasileiro, e com a imaginação de quem vê o “inverno” chegar no coração do nosso cinturão cafeeiro.

Madrugada de 11 de agosto: o que queimou e onde

No Cerrado Mineiro, geadas radiativas de baixada atingiram talhões em fase crítica de brotação e pré-florada. A Expocacer calculou que, de quase 13 mil hectares avaliados, 1.173 ha apresentaram impacto, o suficiente para derrubar ~5,5% do potencial regional. As imagens e relatos de campo indicam queima superficial e parcial das copas nas áreas mais baixas, padrão típico quando o ar frio estagna ao amanhecer.

Café, cafezal, geada
A geada pode produzir sérios prejuízos nos cafezais, comprometendo a florada, reduzindo a safra e impactando o preço do café no mercado.

Para o leitor situar no tempo: geadas tardias em agosto não são inéditas, mas costumam ser pontuais. Em agosto de 2024, houve registro no Cerrado Mineiro sem grande quebra; já o episódio severo foi em julho de 2021, quando uma massa polar ampla castigou diversas regiões cafeeiras. O contraste ajuda a entender por que o evento de 2025 acendeu alerta, não foi uma geada histórica, mas apareceu tarde e no lugar errado para a fenologia do café.

Do campo às bolsas: o efeito cascata nos preços

A geada acendeu o alerta num mercado de café que vinha com os preços mais calmos. Em agosto, analistas já falam em mudança de tendência por causa de fatores que puxam os preços para cima, como estoques baixos e risco climático. A geada no Cerrado Mineiro entrou nesse conjunto e ajudou a manter a alta dos futuros de café na bolsa de Nova York.

Café, futuros
Após rali no 1º semestre de 2025 e uma correção no meio do ano, a geada tardia de agosto no Cerrado Mineiro ajudou a sustentar a recente recuperação. Linhas mostram a média (tracejada) e a tendência (preta). Fonte: TradingEconomics (Coffee).
  • ICE (Arábica): contratos reagiram na esteira das notícias de geada; exemplos de pregões recentes mostram altas de 1%–4% no curto prazo à medida que o risco climático entrou no preço.
  • Estoques certificados: ficaram abaixo de 740 mil sacas em meados de agosto, alimentando a percepção de aperto.
  • Mercado físico em MG: praças como Patrocínio exibiram altas, com a saca tipo 6/7 acima de R$ 2.100 em 18/08, refletindo o susto climático.

Depois da geada: o que muda no Brasil, do manejo à previsão

No curto prazo, a palavra de ordem é diagnóstico e paciência técnica. Protocolos consagrados recomendam aguardar até ~60 dias para avaliar a real extensão do dano antes de decidir por poda de recepa ou esqueletamento; decisões precipitadas podem piorar o estresse e comprometer a safra seguinte.

Ao mesmo tempo, vale priorizar nutrição equilibrada e controle de pragas secundárias que se aproveitam de plantas debilitadas.

No médio prazo, a lição é de gestão de risco climático: mapear baixadas propensas a geada, diversificar cultivares e escalonar floradas, reforçar abrigos vegetais e considerar seguros paramétricos.

Como agosto de 2024 já havia sinalizado geadas tardias, ainda que leves, e 2021 mostrou o teto do impacto possível, 2025 confirma que Eventos de Frio Fora de Época seguem no radar. Investir em alertas agrometeorológicos e integração com modelos de previsão pode ser a diferença entre “sapecada” e prejuízo.