Clima e safra em foco: o que julho mostrou e o que esperar para agosto a outubro no Brasil

Julho trouxe chuva no litoral e secura no interior. Para agosto a outubro, previsão indica calor e déficit hídrico em boa parte do país, com exceções no Sul. Veja agora impactos e como ajustar manejo no campo.

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A umidade do solo observada em julho influenciou o estado das pastagens no país.

Chuvas concentradas no extremo Norte e no litoral do Nordeste, secura no interior e temperaturas acima da média em boa parte do país. Esse foi o retrato climático de julho de 2025, segundo o boletim do INMET. Além de afetar plantios em fase final e pastagens, o padrão reforçou alertas de queimadas no interior e trouxe alívio pontual para áreas litorâneas ainda em período chuvoso.

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Previsão sazonal de anomalias de precipitação para o trimestre ASO, com destaque para a probabilidade da categoria mais provável de chuva em relação à climatologia 1993–2016. Fonte: ECMWF

Agora, com a chegada do trimestre agosto–setembro–outubro (ASO), o campo precisa se preparar para um mix de déficits hídricos, episódios de excesso em áreas pontuais e calor persistente, combinação que mexe com plantios e pastagens. No pano de fundo oceânico, o Atlântico Tropical segue sem um dipolo definido e a Zona de Convergência Intertropical oscilou mais ao norte, fatores que ajudam a explicar a irregularidade das chuvas.

Julho em perspectiva

No Norte, volumes acima de 150 mm apareceram no nordeste do Pará, Amapá e Roraima; Caracaraí (RR) passou de 400 mm. Já sul do Amazonas, leste do Acre e Tocantins ficaram com menos de 50 mm e solo secando.

O litoral leste do Nordeste manteve chuva, enquanto o interior registrou baixos acumulados e armazenamento de água no solo abaixo de 30% em áreas do Piauí, Bahia e sertão.

Centro-Oeste e Sudeste ficaram mais secos, e a Região Sul teve distribuição de chuva satisfatória. Em áreas de altitude do Sudeste e Sul, entradas de ar frio ainda derrubaram mínimas em alguns dias, mas o sinal predominante foi de temperaturas acima da média.

Trimestre ASO em três atos: chuva, calor e água no solo

O cenário para agosto–outubro traz um padrão de chuvas abaixo da média em grandes áreas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com temperaturas 1–2°C acima do normal em muitas regiões. A seguir, o resumo regional:

  • Norte: tendência de menos chuva em RR, RO, leste do AM, sul/noroeste do PA e AP; exceção no noroeste do AM. Calor acima da média e umidade do solo em queda.
  • Nordeste: déficit no MA, PI, CE e semiárido baiano; litoral leste de AL–SE–PE com leve sobra. Calor generalizado e solo abaixo de 30% em faixas do RN, PB, PE, AL, SE e BA.
  • Centro-Oeste: período seco típico, umidade relativa baixa e aumento de queimadas. Temperaturas até 2°C acima da média; estoques hídricos abaixo de 30% em GO e sul do MT.
  • Sudeste: calor persistente, com +2°C em áreas do oeste de SP e Triângulo Mineiro; baixa disponibilidade hídrica no centro-sul de MG, RJ, ES e norte paulista.
  • Sul: chuva acima da média em SC e RS e no sul do PR; umidade do solo entre 70–90% e excedentes que favorecem trigo, aveia e cevada.
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Anomalia da temperatura média do ar a 2 metros de altura prevista para o trimestre ASO de 2025, com base no modelo sazonal ECMWF

Esse quadro deve se intensificar entre setembro e outubro, quando o déficit hídrico tende a aumentar no interior do Nordeste e partes do Sudeste, enquanto o Sul segue com solo próximo à capacidade de campo em muitas áreas.

No campo brasileiro: riscos, manejo e chances de boa colheita

Para quem está planejando plantio de grãos de primavera, o recado é claro: atenção ao calendário e à janela de umidade. No Centro-Oeste e Matopiba, o retorno das chuvas deve ser observado de perto antes de semear para evitar perdas por germinação irregular.

No Sul, a perspectiva de chuva e boa umidade do solo favorece culturas de inverno e a preparação da safra de verão, mas requer monitoramento para evitar excesso hídrico e doenças. No Nordeste litorâneo, janelas curtas podem beneficiar hortaliças e ciclos curtos; no interior, irrigação eficiente e manejo de pastagens serão decisivos.

Referência da notícia

Boletim agroclimatológico mensal: Agosto de 2025 (v. 60, n. 08). 8 de agosto, 2025. Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).