Cacau em queda, superávit à vista; o que muda para Bahia e Pará

Depois de preços recordes, o cacau inicia ajuste com projeção de superávit em 2025/26. Explicamos por que o clima na África Ocidental ainda manda no jogo, e como Bahia e Pará podem reagir já, no campo.

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Ajuste nos preços do cacau pode fazer o chocolate se tornar mais acessível nas prateleiras, e trazer alívio para o bolso do consumidor.

Depois de meses históricos, o mercado de cacau começou a perder fôlego. Analistas projetam que, na temporada 2025/26, a produção global pode voltar a superar o consumo, invertendo a crise de oferta que explodiu os preços e pressionou a indústria.

Para o consumidor, isso significa alívio gradual no custo do chocolate; para o produtor, a necessidade de recalibrar manejo e finanças diante de cotações menos exuberantes.

Mesmo com a correção recente, as cotações seguem altas em termos históricos, e bastante sensíveis às notícias climáticas da África Ocidental, ainda o coração da oferta mundial. Dados diários da ICCO mostram preços elevados em Londres e Nova York, enquanto relatos de melhora de chuvas pressionam as telas no curtíssimo prazo. Ou seja: a montanha-russa não acabou, mas o trilho aponta para patamar mais baixo que o pico.

Virada de ciclo: de déficit recorde a possível superávit

A escassez global atingiu um dos maiores déficits em décadas em 2023/24; agora, projeções indicam balanço mais folgado em 2025/26. A leitura central é que a recomposição parcial das colheitas e alguma retração da demanda devem aliviar o estresse. Estimativas recentes falam em superávit acima de 100 mil toneladas, a depender do desempenho das safras principais.

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Na África Ocidental, o tempo instável e as doenças seguem como fatores decisivos para determinar os rumos do preço do cacau nos próximos meses.

Ainda assim, a normalização não será linear. A temporada na Costa do Marfim e em Gana continua vulnerável a extremos: excesso de chuva favorece doenças de vagem; janelas secas mal distribuídas abortam floradas. Alertas sobre perdas, mesmo moderadas, seguem no radar e podem dar repiques de preço.

Tempo, pragas e manejo: o que sustenta (ou derruba) a oferta

No curto prazo, o clima na África Ocidental continuará ditando o humor do tabuleiro. A literatura setorial destaca a sensibilidade do cacaueiro a ondas de calor, chuvas prolongadas e ventos sazonais que elevam a pressão de fungos, um coquetel que reduziu safra e qualidade nos últimos anos. Políticas de pulverização e distribuição de insumos tentam conter o estrago, mas o risco permanece.

Para tornar essa leitura mais prática, um checklist ajuda a entender os gatilhos que mexem com os preços nas próximas semanas:

  • Sinal de recuperação de floradas e pegamento de frutos nas principais regiões de Marfim e Gana.
  • Relatos de campo sobre incidência de “black pod” (podridão parda) após períodos muito úmidos.
  • Mapas de chuva e umidade do solo antes do pico de colheita (qualquer desvio relevante vira notícia).

Bahia e Pará na estratégia do “pós-pico”

Se a oferta mundial se recompõe, a competitividade virá do manejo. O Brasil tem uma carta forte: sistemas agroflorestais e sombreamento tradicional (cabruca) no sul da Bahia e a expansão de SAFs no Pará, hoje referência internacional em produtividade e em uma cadeia que alia renda e conservação.

Em paralelo, projetos de restauração com cacau avançam, conectando produção, crédito climático e inclusão de famílias rurais.

Quais movimentos imediatos cabem ao produtor e às políticas locais? No Oeste baiano, o pacote tecnológico do cacau irrigado (adensamento, fertirrigação, gotejamento) tem elevado produtividades e reduzido a exposição ao “humor” da chuva; no Pará, manter a liderança passa por consolidar SAFs, assistência técnica e logística, além de fortalecer viveiros de mudas e controle da vassoura-de-bruxa.

No agregado, a combinação de manejo climático e organização da cadeia ajuda a amortecer a descida dos preços, preservando margens e empregos.

Referência da notícia

Cocoa’s Historic Crunch Is Easing Further as Harvests Pick Up. 24 de setembro. Bloomberg.