Boletim agroclimatológico de julho: como as chuvas e o calor vão moldar a próxima safra

Chuvas acima da média no Norte, estiagem severa no Centro‑Oeste e calor recorde no Sudeste fazem do Boletim Agroclimatológico de julho de 2025 um alerta decisivo para produtores, cooperativas e gestores de políticas agrícolas brasileiras neste crítico trimestre.

Café, geada
No Sul de Minas, as incursões de frio foram breves e sem geadas significativas; a menor umidade conteve a ferrugem, mas o calor acima de 30 °C elevou o risco de broca‑do‑café.

O Boletim Agroclimatológico de Julho de 2025, recém‑divulgado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), continua a tradição iniciada em 1967 de oferecer a agricultores, cooperativas e órgãos públicos um retrato detalhado do clima no Brasil. Nesta edição, a combinação de períodos excessivamente úmidos com ondas de calor atípicas coloca o planejamento agrícola sob pressão, exigindo ajustes ágeis em plantio, irrigação e colheita.

Além do INMET, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e várias secretarias estaduais de agricultura já utilizam esses dados para calibrar recomendações técnicas, antecipar riscos e orientar tanto pequenos quanto grandes produtores. Compreender o que o boletim revela, e o que pode ocorrer nos próximos meses, é vital para quem vive do campo ou acompanha de perto a segurança alimentar do país.

Chuvas e temperaturas: o retrato de junho

O boletim mostra que junho se dividiu em extremos. Enquanto o Norte registrou acumulados que ultrapassaram 300 mm em partes do Amazonas e Roraima, o Centro‑Oeste experimentou a típica estiagem do meio do ano, com menos de 80 mm em grande parte de Goiás e Mato Grosso.

No Nordeste, o contraste foi ainda mais marcante: o litoral desde Natal até Maceió ficou encharcado, mas o interior semiárido teve precipitações quase inexistentes, alimentando a preocupação com o milho e o feijão de sequeiro.

As temperaturas também chamaram atenção. Máximas até 2 °C acima da média dominaram o Centro‑Sul, elevando a evapotranspiração e acelerando o déficit hídrico. no Sul, o excesso de chuva foi acompanhado de madrugadas amenas, condição que favoreceu o trigo recém‑semeado, mas atrasou a colheita do feijão terceira safra. Esses contrastes ilustram como a produção agrícola brasileira convive com “micro‑Brasis” climáticos num mesmo mês.

Prognóstico regional (Julho–Setembro)

O INMET projeta que a neutralidade do fenômeno El Niño–Oscilação Sul (ENSO) continuará dominando o Pacífico, enquanto o Atlântico Tropical permanecerá sem grandes anomalias. Mesmo assim, há sinais de mudanças importantes que podem afetar a janela de implantação de culturas de inverno e verão:

  • Norte: Perspectiva de chuvas acima da média no Amapá e em Roraima, mas redução acentuada no Acre e sul do Pará, com estoques de água no solo caindo abaixo de 30 %.
  • Nordeste: Tendência de déficit hídrico persistente no interior do Maranhão, Piauí e Ceará; no litoral, os volumes se aproximam da climatologia, mantendo bons níveis de umidade para a cana‑de‑açúcar.
  • Centro‑Oeste: Continuidade da seca, temperaturas 1–2 °C superiores ao normal e risco elevado de queimadas naturais, sobretudo no norte de Mato Grosso e leste de Goiás.
Previsão, ECMWF
ECMWF System 5 (ASO 2025): marrom aponta alta chance de chuvas abaixo da média; verde, probabilidade de chuvas acima da média.
  • Sudeste: Precipitações inferiores à média em todo o estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro; tardes mais quentes encurtam o ciclo do milho safrinha, mas beneficiam a colheita do café.
  • Sul: Excesso de chuva previsto para o Rio Grande do Sul, o que favorece o trigo e a cevada, mas exige manejo fitossanitário rigoroso para evitar doenças fúngicas.

Gestão de riscos: decisões que não podem esperar

A leitura conjunta dos cenários de umidade do solo e temperatura sugere ajustes urgentes no manejo hídrico. No Centro‑Oeste, a irrigação suplementar torna‑se essencial para a sobrevivência do milho safrinha em enchimento de grãos; já no interior do Nordeste, a recomendação é antecipar a colheita de culturas de sequeiro antes que o estresse hídrico se agrave.

Cooperativas têm usado as cartas de umidade publicadas pelo INMET para definir áreas prioritárias de assistência técnica, enquanto empresas de seguro rural analisam os mapas de anomalia de precipitação para adequar apólices.

Outro ponto crítico é o controle de pragas e doenças. Umidade elevada no Sul cria ambiente ideal para ferrugem do trigo, enquanto temperaturas acima de 30 °C no Sudeste aceleram o ciclo da broca‑do‑café. A integração das previsões climáticas ao monitoramento fitossanitário, defendida em cursos promovidos pela Universidade Federal de Viçosa, pode reduzir perdas de produtividade de 10 % a menos de 3 %.

O futuro do agro começa com boas escolhas hoje

Os sinais climáticos para o próximo trimestre deixam claro que a competitividade do agronegócio dependerá cada vez mais de decisões rápidas e baseadas em dados. Produtores que diversificam cultivares, escalonam plantios e investem em irrigação de precisão reduzem perdas mesmo diante de chuvas irregulares e ondas de calor.

Ao mesmo tempo, cooperativas e governos ganham insumos valiosos para direcionar crédito rural, ampliar seguros agrícolas e priorizar obras de armazenagem e infraestrutura hídrica nas regiões mais expostas à seca ou ao excesso de chuva.

Referência da notícia

Boletim Agroclimatológico: Julho de 2025 – v. 60, n.º 07. 7 de julho, 2025. Instituto Nacional de Meteorologia – INMET.