Por que as telas são perigosas para a saúde dos nossos filhos?

Celulares, televisões ou videogames. As crianças são expostas ao mundo digital cada vez mais cedo, e isso tem consequências à saúde física e mental delas.

criança assistindo TV
Não use telas antes dos 3 anos e apenas 20 a 30 minutos por dia após os 3 anos. Estas são as recomendações das autoridades de saúde.

Televisão, tablets, smartphones: as telas são hoje parte integrante do cotidiano das crianças. No entanto, especialistas em saúde alertam para seus efeitos nocivos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica (INSERM) publicam regularmente estudos que demonstram que a exposição excessiva às telas prejudica o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional de crianças.

A França acaba de reforçar sua legislação, e a questão do uso razoável das telas está se tornando uma verdadeira questão de saúde pública. A OMS lembra que o tempo de tela não é recomendado para crianças menores de 2 anos e que, para crianças de 2 a 5 anos, o tempo de tela deve ser inferior a uma hora por dia.

Essas recomendações visam manter um sono de qualidade, incentivar brincadeiras ativas e apoiar o desenvolvimento da linguagem e da motricidade. Na França, o Inserm observou que as crianças excedem em muito esses limites: aos 2 anos, já passam quase uma hora por dia em frente a uma tela; aos 5 anos e meio, mais de 1 hora e meia.

Essas durações excedem as recomendações internacionais e demonstram uma preocupante banalização da exposição digital desde a mais tenra idade.

Efeitos na saúde física e mental

No nível físico, o sedentarismo induzido por telas aumenta o risco de obesidade infantil e distúrbios visuais, como miopia. No nível mental, o Inserm estabeleceu uma relação entre o uso precoce e desacompanhado de telas e certos distúrbios de linguagem. Uma criança exposta sem intervenção dos pais tem até 6 vezes mais chances de desenvolver um atraso na aquisição da linguagem.

As telas também afetam o sono. A luz azul, a estimulação cognitiva e o uso de dispositivos à noite reduzem a duração e a qualidade do sono, afetando diretamente a atenção, a memória e o comportamento. A OMS também enfatiza que esse tempo de tela substitui momentos essenciais da interação humana (conversar, brincar, explorar, etc.), essenciais para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças.

Por fim, diversos estudos destacam a relação entre o consumo excessivo de conteúdo digital e distúrbios emocionais: irritabilidade, ansiedade e déficit de atenção. Os cérebros ainda em desenvolvimento de crianças pequenas são particularmente vulneráveis à super-estimulação e à gratificação instantânea induzidas por conteúdo digital.

Uma lei para proibir telas antes dos 3 anos de idade

Desde 2019, as diretrizes da OMS especificam: tempo zero de tela antes de 1 ano de idade, limitação rigorosa entre 1 e 2 anos e não mais do que 1 hora por dia até os 5 anos. O objetivo é claro: priorizar a atividade física, o sono reparador e as interações sociais em detrimento do tempo passivo de tela.

Na França, o relatório especializado "Crianças e Telas: Em Busca do Tempo Perdido", apresentado ao Presidente da República em 2024, fez 29 recomendações para regular a exposição dos jovens. Entre elas, estavam a proibição de telas antes dos 3 anos de idade, a limitação e a supervisão do uso de telas entre 3 e 6 anos e a proibição de smartphones antes de uma determinada idade.

Essas recomendações inspiraram a nova Carta Nacional para o Cuidado de Crianças Pequenas, que entrou em vigor em 2 de julho de 2025 e agora proíbe todas as telas em creches e centros de assistência à infância. O novo registro clínico, distribuído desde janeiro de 2025, lembra os pais dessas diretrizes desde o nascimento para ajudá-los a adotar boas práticas digitais.

As autoridades de saúde esperam reduzir as desigualdades: o Inserm aponta que crianças de origens pobres costumam ser mais expostas às telas, devido à falta de alternativas ou de conscientização suficiente.