Quer ser forte como Golias? Estudo revela plantas que os filisteus consumiam em seus rituais religiosos

Descubra nesse artigo a importância da interação entre as culturas da região mediterrânea do nosso planeta e a influência dos cultos gregos nas crenças dos filisteus.

Homem forte de guerra e garotinho
As plantas encontradas nos templos dos filisteus geram uma alteração do humor.

A misteriosa cultura filisteu, que surgiu durante a Idade do Ferro (1200-604 a.C.), influenciou consideravelmente a história, a agronomia e os costumes alimentares do sul do Levante.

Depois de mais de 25 anos de escavações em Tell Es-Safi, localizado no centro de Israel e lar do bíblico Golias, foi identificada uma janela para o mundo desta antiga civilização.

Embora muitos aspectos da cultura filisteu estejam bem documentados, os detalhes de suas práticas religiosas e divindades permaneceram por muito tempo envoltos em enigma.

É por isso que o recente estudo publicado na Scientific Reports – e citado pela Phys.org – é considerado uma contribuição para a história com dados valiosos para a nossa compreensão dos rituais filisteus.

Nessa direção, a descoberta de inúmeras plantas em dois templos desenterrados no local da escavação desvendou percepções sem precedentes sobre os rituais e crenças do culto filisteu.

Alimentos e plantas para as cerimônias dos filisteus e para a decoração de seus templos

A equipe de pesquisa estudou o uso de plantas nos templos dos filisteus e desta forma descobriu uma grande quantidade de informações sobre a importância de diversas espécies em seus rituais religiosos.

Através de exame e análise meticulosos – quantitativos e qualitativos – dos tipos de plantas utilizadas, do momento da sua colheita, dos modos de oferta e do potencial significado simbólico, os pesquisadores reconstruíram uma imagem mais clara da abordagem espiritual dos filisteus.

Israel, local do estudo
A análise de sementes e frutas dos templos forneceu informações valiosas sobre o momento dos rituais e seu significado na primavera. Fonte: Frumin et al. (2024).

"Uma das descobertas mais importantes é a identificação dos primeiros usos rituais conhecidos de diversas plantas mediterrânicas, como a casta lilás (Vitex Angus-Castus), a Crown Daisy (Glebionis Coronaria) e a Silvery Scabious (Lomelosia argentea)", disse Suembikya Frumin, autora principal do estudo.

Estas plantas mediterrânicas ligam os filisteus a rituais de culto, mitologia e apetrechos relacionados com as divindades gregas Asclépios, Deméter, Ártemis e Hera.

Uma das principais conclusões apresentadas pelos pesquisadores é que a religião dos filisteus era baseada na magia e no poder da natureza, como o fluxo das águas e a sazonalidade, aspectos que influenciam diretamente na saúde e no desenvolvimento da vida humana.

Plantas e artefatos encontrados em templos filisteus
O aspecto sazonal das práticas religiosas dos filisteus destaca a sua profunda ligação com o mundo natural e os ciclos agrícolas. Fonte: Frumin et al. (2024).

"Nossas descobertas desafiam a compreensão anterior dos rituais filisteus e oferecem uma nova visão sobre suas práticas culturais e as conexões entre a cultura filisteia e as tradições religiosas mediterrâneas mais amplas", disse Ehud Weiss, coautor do estudo.

Importância da interação cultural para a execução dos rituais religiosos

O estudo também propõe paralelos intrigantes entre as práticas cerimoniais dos filisteus e dos habitantes do Egeu.

A descoberta de pesos de tear nos templos filisteus – uma característica comum nos locais de cultos egeus associados a Hera – fortalece ainda mais a hipótese de intercâmbio cultural e influência entre as duas regiões.

"Essas descobertas abrem novos caminhos para pesquisas sobre as interações culturais e religiosas entre os filisteus e as regiões vizinhas", acrescentou o professor Aren Maeir, coautor do estudo e que liderou as escavações em Tell Es-Safi durante mais de 25 anos.

Cálices encontrados em templos filisteus
Os resultados deste estudo nos permitem compreender as práticas de culto no antigo mundo mediterrânico. Fonte: Frumin et al. (2024).

"Esses novos dados indicam uma atividade bem informada por parte das pessoas do templo em relação ao uso de plantas com características que afetam o humor", concluiu Frumin.

Referência da notícia:

Frumin, S. et al. Plant-related Philistine ritual practices at biblical Gath. Scientific Reports, 14, 2024.