Temperaturas globais recuam, mas Julho de 2025 ainda é o terceiro mais quente, segundo o Copernicus

Após meses seguidos de recordes históricos, julho de 2025 marcou uma pequena desaceleração no aquecimento global - mas ainda assim se destacou como o terceiro julho mais quente já registrado.

Anomalias mensais da temperatura do ar na superfície global (°C) em relação ao período de referência pré-industrial de 1850-1900. Crédito: C3S/ECMWF
Anomalias mensais da temperatura do ar na superfície global (°C) em relação ao período de referência pré-industrial de 1850-1900, destacando os meses onde a anomalia superou 1,5°C. Crédito: C3S/ECMWF

O Boletim Climático mensal do Copernicus, o Serviço Europeu de Mudanças Climáticas (C3S), baseado em dados da reanálise ERA5, aponta que a temperatura média global do ar na superfície em Julho de 2025 foi de 16,68°C. Essa marca posiciona Julho deste ano como o terceiro mais quente desde o início dos registros, atrás apenas dos meses equivalentes de 2023 e 2024.

O relatório também destaca que Julho de 2025 ficou 1,25°C acima da média estimada para o período pré-industrial (1850-1900), reforçando a continuidade do aquecimento do planeta.

Mesmo assim, o mês representou um pequeno alívio para o aquecimento recorde que vinha sendo registrado desde Julho de 2023 até Abril de 2025 - o período mais longo já registrado com anomalias superiores a 1,5°C, o limiar crítico estabelecido pelo Acordo de Paris. Esta foi apenas a quarta ocasião entre os últimos 25 meses em que a temperatura global ficou abaixo de 1,5°C.

Destaques globais de temperatura do ar

Apesar da comunidade científica tratar a desaceleração do aquecimento global como uma boa notícia e até mesmo umresfriamento, considerando o aquecimento desenfreado dos últimos dois anos, a temperatura média global de 16,68°C ainda representa um aquecimento:

  • de 1,25°C em relação à média do período pré-industrial
  • de 0,45°C em relação à média de Julho entre 1991-2020, período de referência para o clima presente
  • apenas 0,27°C mais frio que o Julho mais quente da história, em 2023
  • apenas 0,23°C mais frio que o segundo Julho mais quente da história, em 2024

As regiões que mais contribuíram para o aquecimento do planeta no último mês foram partes da Antártida, Ásia (Himalayas, China, Coreia do Sul e Japão), Arábia Saudita, norte da África e leste dos Estados Unidos, norte da Europa, Groelândia e os Andes, onde ocorreu um extenso derretimento da camada de gelo.

Anomalias globais de temperatura em julho de 2025, em relação ao período de referência de 1991-2020. Créditos: C3S/ECMWF.
Anomalias globais de temperatura em julho de 2025, em relação ao período de referência de 1991-2020. Créditos: C3S/ECMWF.

Já as regiões que apresentaram anomalias negativas de temperatura, contribuindo, portanto, para frear o aquecimento e reduzir as anomalias globais incluem:

  • América do Sul, particularmente o Brasil, que foi afetado por intensas ondas de frio
  • América do Norte, áre entre o México e o norte do Canadá
  • Índia
  • Austrália
  • Partes da África

A Antártida apresentou, novamente, forte contraste entre anomalias positivas e negativas.

Atmosfera aquecida, oceanos aquecidos

Não coincidentemente, assim como a temperatura do ar, a temperatura da superfície do mar (TSM) em Julho de 2025 também foi a terceira mais quente dos registros, perdendo apenas para os anos-recordes de 2023 e 2024:

  • A TSM média entre 60°S–60°N foi de 20,77°C
  • Isso representa 0,39°C acima da média do clima presente (1991-2020)
  • Este valor fica apenas 0,12°C abaixo do recorde de Julho de 2023 e 0,11°C abaixo de Julho de 2024
Anomalia de temperatura do mar em Julho de 2025. Créditos: C3S/ECMWF.
Anomalia de temperatura do mar em Julho de 2025. Créditos: C3S/ECMWF.

Os impactos do aquecimento, na atmosfera e nos oceanos, envolvem tanto o derretimento do gelo marinho quanto alterações nos padrões de precipitação. A extensão do gelo marinho ficou 10% abaixo da média no Ártico e 8% abaixo da média na Antártica. Além disso, Julho de 2025 registrou eventos extremos marcantes, como ondas de calor recordes na Europa e na Ásia, incêndios florestais generalizados em várias regiões europeias e secas severas em partes das Américas e da África, acompanhadas por enchentes em áreas específicas do leste dos EUA e Ásia, evidenciando a intensificação dos impactos climáticos globais.

Recuo temporário, perigo permanente

Apesar do leve recuo nas temperaturas globais observado em julho de 2025, em comparação com os recordes consecutivos dos últimos 25 meses, as anomalias ainda permanecem positivas e significativas. Carlo Buontempo, diretor do Copernicus, alerta:

Dois anos após o julho mais quente já registrado, a recente sequência de recordes globais de temperatura acabou – por enquanto. Mas isso não significa que as mudanças climáticas pararam. Continuamos a testemunhar os efeitos de um mundo em aquecimento, como ondas de calor extremas e enchentes catastróficas em julho. A menos que estabilizemos rapidamente as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, devemos esperar não apenas novos recordes de temperatura, mas também uma piora desses impactos – e precisamos nos preparar para isso.

A falsa sensação de “resfriamento” observada é apenas um breve intervalo em uma tendência global de aquecimento que continua clara e implacável. O pequeno declínio nas temperaturas não indica reversão ou pausa real no avanço da crise climática. Ignorar essa realidade, ou interpretá-la como um alívio definitivo, é perigoso e irresponsável.

Referências da notícia

Surface air temperature for July 2025, publicado em 7 de agosto de 2025 por Copernicus.

Copernicus: Third-warmest July marks slight respite from record global temperatures, publicado em 7 de agosto de 2025 por Copernicus.