Sistemas de alerta precoce: a chave para a adaptação climática

Com o aumento dos eventos climáticos extremos devido às mudanças climáticas, os sistemas de alerta precoce se tornam cada vez mais essenciais para proteger vidas e minimizar impactos econômicos.

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A medida mais urgente de adaptação climática envolve a estruturação de sistemas de alertas precoces robustos e eficientes. Créditos: Reprodução/UNDP.

Os sistemas de alerta precoce são essenciais para mitigar (reduzir, amenizar) os impactos de eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações, ondas de calor e deslizamentos de terra. No entanto, poucos países possuem sistemas robustos, devido a desafios como falta de investimentos, lacunas de dados e barreiras de comunicação.

Entenda como esses sistemas funcionam, sua importância diante das mudanças climáticas e os obstáculos para sua implementação.

O que são sistemas de alerta precoce?

Esses sistemas integram o conhecimento histórico sobre vulnerabilidades climáticas, monitoramento e previsão do tempo, disseminação de informações e estratégias de resposta.

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O Camboja é um dos sete países mais vulneráveis ao clima do mundo, tornando ainda mais importante as informações climáticas e previsões acuradas. Créditos: Reprodução/UNDP.

Os sistemas de alerta precoce permitem que indivíduos e comunidades tomem conhecimento sobre eventos meteorológicos com potencial de causar danos - e tenham alternativas seguras para os enfrentar, como abrigos, por exemplo.

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Chuvas torrenciais causaram enchentes e alagamentos devastadores em mais de 90% do território gaúcho em Maio de 2024. Foto: Reprodução/Ricardo Stuckert.

Basta lembrar de tragédias recentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul em maio de 2024, para entender seu impacto. Com um sistema de alerta e, principalmente, de resposta, muitas vidas poderiam ter sido poupadas. A seguir, discutimos os quatro pilares essenciais para um sistema eficaz.

Conhecimento de risco

A implementação começa com o mapeamento dos padrões climáticos e riscos regionais. O Sul do Brasil, por exemplo, está mais vulnerável a tempestades severas, enquanto o Nordeste enfrenta riscos associados a secas prolongadas. A nível global, o Caribe está muito mais exposto a furacões que o Brasil.

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Cerca de 90% da infraestrutura da ilha de Barbuda, no Caribe, foi destruída durante a passagem do furacão Irma, em 2017.

Cada lugar tem um tipo de evento extremo preferencial e o mapeamento exige investimentos sólidos em pesquisa científica nos níveis internacional, federal e estadual, garantindo que políticas públicas sejam baseadas em evidências científicas.

Monitoramento e previsão

A previsão do tempo depende de redes de estações meteorológicas, radares, satélites e modelos computacionais. Uma base de dados observacionais robusta é essencial para previsões acuradas.

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Estação meteorológica automática instalada no norte do Paquiestão fornece dados em tempo real que são chave para a melhoria dos sistemas de alertas precoces. Créditos: Reprodução/UNDP/Jamil Akhtar.

Para isso, se faz necessário investimentos a nível federal e estadual, tanto na forma de infraestrutura, para instalação e manutenção de estações e radares meteorológicos, por exemplo, quanto na ampliação da contratação de profissionais qualificados para suprir essas demandas.

Disseminação e comunicação

Os avisos meteorológicos precisam ser claros, acessíveis e transmitidos por canais diversos, como TV, rádio, internet e SMSs. Além disso, campanhas educativas são fundamentais para conscientizar a população sobre a interpretação e a importância dos alertas.

Na imagem abaixo reunimos dois exemplos valiosos que ilustram este tópico. À esquerda, uma criança agradece aos meteorologistas da NOAA, agência dos EUA de monitoramento oceânico e atmosférico, pela previsão do tornado de 2 de março de 2012, que ajudou a mantê-los em segurança. À direita, crianças na Tanzânia estudam o clima em um quadro negro. Integrar o clima aos currículos escolares é essencial para o enfrentamento às mudanças climáticas.

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À esquerda, carta de criança para a NOAA (Créditos: NOAA/NWS), à direita, crianças estudam o clima na Tanzânia (Créditos: UNDP)

O investimento deve ser amplo, abrangendo esferas federais, estaduais e municipais, para garantir que as informações cheguem a todos de forma eficaz.

Preparação e resposta

Emitir alertas não basta; é preciso garantir proteção à população vulnerável. Se uma onda de calor for prevista, por exemplo, medidas como distribuição de água e suspensão de atividades podem ser adotadas. Em caso de enchentes ou deslizamentos de terra, a remoção e abrigamento de comunidades ribeirinhas e vulneráveis são fundamentais. Cada tipo de evento exige um tipo de planejamento e de resposta.

Neste ponto, a ação precisa ser municipalizada, garantindo uma resposta rápida e eficaz.

É essencial viabilizar financiamentos para o investimento necessário em infraestrutura para abrigos, segurança e alimentação de comunidades vulneráveis. Os investimentos devem ser feitos a nível global (a chamada justiça climática, onde os maiores poluidores devem ‘pagar a conta’ auxiliando populações vulneráveis), federal, estadual e municipal, garantindo a eficácia máxima do sistema.

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Rede de arquitetos voluntários cria divisórias de papelão em abrigos para vítimas de inundações no Japão. Créditos: Deezen.

A criação de um sistema de alerta precoce eficaz é complexa, urgente e necessária. Monitorar o clima, prever eventos extremos, alertar a população e oferecer soluções seguras são medidas essenciais para minimizar danos. No entanto, desafios orçamentários e políticos ainda limitam sua implementação, tornando imprescindível um esforço coletivo para superar essas barreiras.

Referência da notícia

What are early warning systems and why do they matter for climate action?, Publicado em 28 de fevereiro de 2025 pela UNDP.