Seca extrema selou o destino da civilização Maia, revela estudo

Nova pesquisa aponta uma seca de 13 anos consecutivos como fator decisivo para o colapso da civilização maia, mesmo diante de avançadas soluções hídricas. Estudo usou estalagmites como arquivo climático.

Cidade Maia de Chichen Itza (Crédito: Aleksandr Medvedkov/ Shutterstock)
Cidade Maia de Chichen Itza. Crédito: Aleksandr Medvedkov/ Shutterstock


Um novo estudo publicado na revista Science Advances propõe uma explicação mais precisa para o colapso da civilização maia clássica: uma seca devastadora que durou 13 anos seguidos. A pesquisa foi liderada por cientistas da Universidade de Cambridge, que analisaram registros geológicos para entender o impacto das mudanças climáticas na antiga sociedade.

Os pesquisadores examinaram uma estalagmite da caverna Grutas Tzabnah, no México, e encontraram um registro anual de padrões de chuva entre os anos 871 e 1021 d.C. O dado mais impressionante foi a identificação de uma seca severa e ininterrupta de 13 anos — a mais intensa registrada naquele período.

Essa nova análise oferece um nível de detalhe inédito sobre as condições climáticas enfrentadas pelos maias. Ao contrário de estudos anteriores, baseados em sedimentos de lagos, a nova técnica permite uma reconstrução ano a ano da quantidade de chuvas em cada estação.

A tecnologia escondida nas pedras

O segredo dessa precisão está na própria formação da estalagmite: cada camada, com cerca de um milímetro de espessura, corresponde a um ano de precipitação. Os cientistas analisaram os elementos químicos dessas camadas para medir a umidade, revelando se aquele período foi seco ou chuvoso.

Pesquisadores registraram oito grandes secas prolongadas entre os anos 871 e 1021 d.C (Imagem: see that wonder/iStock)
Pesquisadores registraram oito grandes secas prolongadas entre os anos 871 e 1021 d.C. Crédito: see that wonder/iStock

“Os sedimentos lacustres fornecem um panorama geral, mas as estalagmites nos permitem acessar detalhes que estávamos perdendo”, explica Daniel H. James, um dos autores da pesquisa. Essa abordagem inédita funcionou como uma espécie de “impressão digital” do clima do passado.

A nova técnica também permite entender o impacto direto de cada estação de seca ou chuva sobre a agricultura maia, evidenciando a relação entre clima e estabilidade social.

Consequências para a sociedade maia

Mesmo com seu avançado sistema de armazenamento de água — incluindo canais subterrâneos e reservatórios — os maias não conseguiram resistir à prolongada escassez hídrica. A produção de alimentos foi duramente afetada, o que comprometeu a subsistência nas cidades e enfraqueceu a estrutura política da região.

A cronologia das secas identificadas se alinha com registros arqueológicos importantes. Em vários locais, como em Chichén Itzá, monumentos com inscrições pararam de ser construídos justamente nos períodos mais secos, sugerindo instabilidade crescente.

Embora o clima não tenha sido o único fator do colapso, os cientistas apontam que ele criou um “pano de fundo persistente” que amplificou conflitos existentes, como guerras e disputas internas, levando ao abandono de centros urbanos e ao deslocamento populacional para regiões mais ao norte.

Referências da notícia

Olhar Digital. Seca histórica: a chave do colapso maia. 2025