Primeiros sul-americanos caçavam preguiças-gigantes e supertatus, aponta estudo

Pesquisa feita na Argentina indica que os primeiros humanos no Cone Sul tinham preferência por megafauna extinta, o que pode ter acelerado a extinção desses grandes mamíferos da Era do Gelo.

Ilustração de uma preguiça-gigante, um dos maiores mamíferos da Era do Gelo na América do Sul. Estudos indicam que esses animais eram caçados pelos primeiros humanos do continente.
Ilustração de uma preguiça-gigante, um dos maiores mamíferos da Era do Gelo na América do Sul. Estudos indicam que esses animais eram caçados pelos primeiros humanos do continente. Crédito: Nobumichi Tamura/Getty Images

Um novo estudo publicado na revista Science Advances sugere que a chegada dos primeiros seres humanos à América do Sul teve um impacto direto e significativo sobre a megafauna da Era do Gelo. A pesquisa, liderada pelo arqueólogo Luciano Prates, do Museu de La Plata, na Argentina, indica que animais como preguiças-gigantes, mastodontes e supertatus foram intensamente caçados entre 13 mil e 11,5 mil anos atrás.

Ao lado dos pesquisadores Matías Medina e Iván Pérez, Prates analisou dados de 41 sítios arqueológicos no Cone Sul, englobando Argentina, Uruguai e Chile. Após uma triagem rigorosa, 20 desses sítios, com datações mais confiáveis, revelaram uma forte associação entre restos de megafauna extinta e artefatos humanos — evidências de que esses animais estavam no centro da dieta dos primeiros sul-americanos.

Esse padrão de caça, segundo os autores, lembra o que aconteceu na América do Norte, onde a chegada do Homo sapiens também coincidiu com a rápida extinção de grandes mamíferos do Pleistoceno.

Ossos queimados e marcas de corte

Os dados revelam que todos os 20 sítios arqueológicos analisados possuem restos de megafauna, sendo que 18 têm exclusivamente ossos de espécies extintas. Em 13 desses locais há marcas claras de ação humana — como cortes, fraturas e queimaduras — indicando que os animais foram abatidos, processados e consumidos.

Mais impressionante ainda, em 15 dos sítios, os ossos de megafauna são predominantes entre os restos encontrados, representando até 80% do total em 13 deles. Isso reforça a ideia de que esses animais, com mais de 50 kg, eram preferidos como fonte de alimento.

A descoberta contrasta com evidências de outras regiões da América do Sul, como o Brasil, onde os primeiros humanos parecem ter adotado dietas mais diversificadas, com ênfase em animais menores e vegetais, e com poucos indícios de caça sistemática de grandes mamíferos.

Extinção acelerada pelo Homo sapiens?

Durante muito tempo, pesquisadores atribuíram o desaparecimento da megafauna sul-americana às mudanças climáticas do fim da Era do Gelo. Alterações nos ecossistemas teriam reduzido os habitats desses grandes animais, tornando-os mais vulneráveis. A caça, nesse cenário, seria apenas um fator adicional.

Contudo, o novo estudo reacende o debate: se a megafauna foi tão caçada no Cone Sul como sugerem os dados, a presença humana pode ter sido o fator decisivo para a extinção dessas espécies. Ainda assim, os autores ressaltam que é preciso ampliar as pesquisas para outras regiões da América do Sul antes de chegar a uma conclusão definitiva.

A investigação abre caminho para novas perguntas sobre como os primeiros sul-americanos moldaram a paisagem ecológica do continente — e que lições isso pode trazer para os desafios ambientais atuais.

Referências da notícia

MSN Brasil. Primeiros sul-americanos preferiam caçar mamíferos como preguiças-gigantes e supertatus. 2025