Pesquisadores brasileiros descobrem nova espécie de peixe pré-histórico na Antártica

Fóssil do Antarctichthys longipectoralis, o mais bem preservado da região, revela que a Antártica já abrigou rica biodiversidade durante o Cretáceo, entre 145 e 66 milhões de anos atrás.

Ilustração do peixe Antarctichthys longipectoralis e da biota da Formação Snow Hill Island • Maurilio Oliveira/Divulgação/Nature
Ilustração do peixe Antarctichthys longipectoralis e da biota da Formação Snow Hill Island. Crédito: Maurilio Oliveira/Divulgação/Nature

Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em colaboração com o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), identificaram uma nova espécie de peixe pré-histórico na Península Antártica. A descoberta, publicada na prestigiada revista científica Nature no último dia 11 de agosto, representa um marco para a paleontologia sul-americana.

O fóssil pertence à espécie agora batizada de Antarctichthys longipectoralis, que viveu entre 145 e 66 milhões de anos atrás, durante o período Cretáceo. Segundo os pesquisadores, trata-se do exemplar mais bem preservado já encontrado na região da Antártica, uma área ainda pouco explorada do ponto de vista paleontológico.

A descoberta foi feita durante uma expedição do projeto Paleoantar, realizada no verão de 2018/2019. A missão reuniu cientistas de diversas áreas e instituições brasileiras com o objetivo de entender melhor a vida que existia na Antártica em épocas remotas.

Reconstrução digital revela detalhes do fóssil

Após o retorno da expedição, o processo de análise do fóssil durou cinco anos e culminou com a reconstituição digital do peixe. A equipe utilizou uma técnica de microtomografia, semelhante à tomografia médica, que permite visualizar a estrutura interna do objeto com grande precisão, sem causar danos ao material original.

Com o uso de raios-x, foram geradas mais de 2 mil imagens tomográficas do fóssil. Essas imagens foram posteriormente integradas digitalmente, possibilitando a reconstrução em três dimensões do peixe tal como era na era Cretácea.

O Antarctichthys media entre 8 e 10 centímetros e apresentava características físicas como cabeça longa, corpo delgado e pequenos espinhos neurais. A preservação do fóssil em estado articulado foi crucial para a compreensão da anatomia da nova espécie.

Antártica: um passado muito diferente

A descoberta do Antarctichthys longipectoralis reforça a ideia de que a Antártica, atualmente um continente gelado e inóspito, já foi um ambiente muito diferente. A bióloga Valéria Gallo, professora titular da Uerj e uma das autoras do estudo, destaca que o continente antártico era, no passado, uma região com florestas e rica biodiversidade marinha.

“Descobertas como essa revolucionam nosso entendimento sobre como ecossistemas antigos responderam às mudanças ambientais”, explica Gallo. Ela ressalta que esse tipo de conhecimento é cada vez mais valioso em um contexto de mudanças climáticas aceleradas no planeta.

A presença do fóssil na Península Antártica sugere que a região possuía um clima significativamente mais quente durante o Cretáceo. Isso indica uma biodiversidade maior do que a observada atualmente, o que pode ajudar a entender como espécies se adaptam — ou não — a grandes transformações ambientais.

Implicações para o futuro climático

Segundo a Uerj, o estudo destaca a importância da análise de fósseis como ferramenta para prever como organismos vivos poderão reagir às mudanças climáticas atuais. Ao entender as respostas da vida terrestre e marinha no passado, os cientistas podem traçar estratégias mais eficazes de conservação e adaptação no presente.

O achado brasileiro na Antártica não é apenas um avanço científico sobre o passado da vida marinha, mas também uma peça importante para decifrar o futuro do planeta frente ao aquecimento global.

Referências da notícia

CNN Brasil. Brasileiros identificam nova espécie de peixe pré-histórico na Antártica. 2025