Pesquisadores descobrem duas novas espécies de peixes com toxina potente na Amazônia

Pesquisa descreve duas novas espécies de peixes-cascudos, encontradas na bacia do rio Tapajós. Cientistas encontraram evidência de convergência evolutiva para formato do focinho, adaptado à dieta dos animais, predadores de pequenos invertebrados.

Hoplisoma noxium, uma das espécies de cascudinhos descrita em novo estudo
Hoplisoma noxium, uma das espécies de cascudinhos descrita em novo estudo. Crédito: Divulgação/Agência Bori

Duas novas espécies de cascudinhos foram descobertas na bacia do rio Tapajós, na Amazônia brasileira, por uma equipe da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Os peixes pertencem ao gênero Hoplisoma e foram nomeados Hoplisoma noxium e Hoplisoma tenebrosum. A descrição científica das espécies foi publicada no início de abril na revista Neotropical Ichthyology.

Os novos cascudinhos chamaram atenção não apenas pela aparência e estrutura corporal, mas também por um aspecto preocupante: eles possuem uma toxina extremamente potente. De acordo com relatos dos "piabeiros" — coletores ribeirinhos de peixes ornamentais —, o contato com os espinhos desses peixes pode causar dor intensa, inchaço e vermelhidão em humanos. Além disso, sua toxina é capaz de matar outros peixes quando compartilhando o mesmo recipiente, turvando a água e formando uma espuma característica.

“Essas informações vindas do conhecimento tradicional foram essenciais para compreendermos as peculiaridades dessas novas espécies”, afirma Luiz Fernando Caserta Tencatt, um dos autores do estudo e pesquisador da UFMT.

Novas reflexões anatômicas e evolutivas

O estudo também trouxe novas reflexões sobre a anatomia da subfamília Corydoradinae, à qual pertencem os novos cascudinhos. Os cientistas analisaram a estrutura do mesetimoide, um osso localizado na cabeça, e sua relação com o formato do focinho.

Hoplisoma tenebrosum, a outra espécie descrita no novo estudo da Neotropical Ichthyology (Foto: Ingo Seidel)
Hoplisoma tenebrosum, a outra espécie descrita no novo estudo da Neotropical Ichthyology. Crédito: Ingo Seidel.

A pesquisa demonstrou que, ao contrário do que se imaginava, o formato do focinho por si só não é um indicador confiável de relações evolutivas dentro do grupo.

Segundo os pesquisadores, diferentes formas de focinho evoluíram independentemente em gêneros distintos da subfamília, o que caracteriza um processo conhecido como convergência adaptativa.

Esse fenômeno ocorre quando espécies não aparentadas desenvolvem características semelhantes como resposta a ambientes e pressões ecológicas parecidas.

Pesquisa foi realizada por meio de financiamento coletivo

A expedição que resultou na descoberta foi financiada de forma inusitada: por meio de um crowdfunding promovido por aquaristas de várias partes do mundo. A popularidade dos cascudinhos entre entusiastas da aquariofilia contribuiu diretamente para viabilizar a pesquisa.

“Tenho uma relação próxima com a comunidade aquarista, e isso foi fundamental para realizar expedições mais longas e em regiões remotas, que normalmente demandam recursos elevados”, explica Tencatt. A coleta dos exemplares foi feita em áreas próximas a Jacareacanga, no Pará, e Maués, no Amazonas.

Próximos passos e potencial da biodiversidade amazônica

A descoberta das novas espécies de Hoplisoma reforça a importância da pesquisa científica aliada ao conhecimento tradicional e ao apoio da sociedade civil. Também destaca o potencial biológico ainda pouco explorado da Amazônia, uma das regiões mais biodiversas do planeta.

Agora, os pesquisadores pretendem continuar estudando os efeitos da toxina produzida pelos novos cascudinhos e investigar se há outros membros da subfamília Corydoradinae com mecanismos de defesa semelhantes.

Referências da notícia

Peixes cascudinhos são descobertos por meio de financiamento coletivo e revelam segredos da evolução de subfamília. 04 de abril, 2025. Agência Bori.

Duas novas espécies de cascudinhos são descobertas na Amazônia. 16 de abril, 2025. Fauna News/Redação.