O que as correntes marinhas nos contam sobre o óleo no litoral?

As machas de óleo continuam chegando em nossa costa e as investigações continuam. Entenda como a circulação oceânica ao longo de nossa costa pode ajudar a explicar o transporte de óleo e dar pista sobre a resposta de uma pergunta recorrente: as manchas chegarão no Sudeste?

As manchas de óleo continuam chegando ao nosso litoral e avançam para Sul.

O óleo ainda se espalha pelo litoral nordestino e as investigações sobre a origem do vazamento continuam. As questões que ainda prejudicam as modelagens de dispersão de óleo são com relação a quando e onde ocorreu o vazamento, além da quantidade e do tipo exato de produto vazado. A dinâmica da circulação oceânica ao longo da região impactada pode ajudar a explicar como o óleo chegou na costa e dá pistas sobre outras localidades que possam vir a ser afetadas.

O que as correntes marinhas podem dizer?

O que se sabe até agora é que o óleo chegou ao Brasil por intermédio da Corrente Sul Equatorial, entrando nos sistemas de correntes que fluem ao longo da nossa costa. Como o óleo afetou tanto as regiões norte quanto sul do Nordeste, é provável que o vazamento tenha ocorrido à leste ou na bifurcação da Corrente Sul Equatorial, que origina a Corrente do Brasil e a Corrente Norte do Brasil.

De acordo com as primeiras localidades atingidas, o óleo entrou primeiro na Corrente Norte do Brasil. As chegada das manchas na Bahia são evidência de que o óleo também foi transportado pela Corrente do Brasil, que flui para sul. No entanto, é importante destacar que não é por que as manchas entraram na Corrente do Brasil que elas chegarão nos estados mais ao sul.

Esquema simplificado da circulação ao largo da costa brasileira e os fatores atuantes na circulação da plataforma continental. Créditos: Carolina Barnez Gramcianinov

A Corrente do Brasil flui ao longo do talude, na quebra da plataforma continental, que varia em largura ao longo da costa. Como a origem do vazamento foi no oceano profundo, para que o óleo chegue ao litoral, é necessário que ele entre primeiro na circulação da plataforma e isso depende de vários fatores como largura da plataforma, correntes de maré e vento.

"No Nordeste, a plataforma é bem estreita, variando de 20 a 70 km aproximadamente e, os movimentos de transporte para costa estão principalmente ligados à maré e ao vento transversal a costa. Esta região apresenta marés com grandes amplitudes, que faz com que o transporte para costa seja bem eficiente", explica Helvio P. Gregório, Doutor em Oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP). A combinação da corrente oceânica próxima à costa com uma corrente de maré mais forte, além dos ventos, contribuiu para a chegada das manchas.

As manchas chegarão no Sudeste?

Já no Sudeste, principalmente ao sul de Cabo-Frio (RJ), a plataforma começa a se alargar. Na região de Santos, por exemplo, a plataforma tem quase 200 km, fazendo com que a influência da Corrente do Brasil sobre a região costeira seja mais restrita. Além disso, a amplitude das marés no Sudeste são menores, o que torna a corrente de maré menos efetiva. Porém, é importante ressaltar que na região de Cabo Frio a Corrente do Brasil tem vórtices que, em determinadas configurações, podem transportar águas da borda da plataforma continental para regiões mais próximas da costa.

Praia de Sabiguaba, Fortaleza, Ceará. Créditos: Fabio Lima/opovo.com.br

"A circulação na plataforma sudeste, especialmente da plataforma média, são lideradas principalmente pelo vento", explica Gregório. Ventos de nordeste promovem correntes para sul na plataforma, enquanto a passagem de uma frente-fria, com ventos sudoestes, inverte esse cenário. "Estamos entrando uma época que as frentes-frias ficam mais escassas, então existe uma tendência de correntes mais voltada para o sul na plataforma", completa.

Vários fatores podem influenciar o transporte de óleo para o sudeste, e tudo depende da quantidade de óleo que vazou originalmente. "É difícil imaginar que o óleo chegue no Sudeste de uma forma tão drástica como chegou no Nordeste - principalmente pela distância da provável origem do vazamento – porém, não é improvável que pequenos fragmentos atinjam algumas localidades", completa Gregório.