O Hemisfério Sul está secando lentamente e o fenômeno El Niño pode estar por trás disso!

Um novo estudo observou que o Hemisfério Sul está secando lentamente, e que especialmente o fenômeno El Niño pode ser o responsável por isso. Como isso afeta o nosso planeta? Descubra aqui.

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Um novo estudo observou que o Hemisfério Sul está secando lentamente, e que especialmente o fenômeno El Niño pode ser o responsável por isso.

A água é muito importante para a existência da vida na Terra. E talvez, o que nem todos saibam, é que apenas cerca de 1% de toda a água do planeta é água doce disponível para o uso humano. O restante dela está nos oceanos ou preso em mantos de gelo e rochas polares. E em um mundo que está sob mudanças, em constante aquecimento e com poluição o afetando, a distribuição desse 1% torna-se muito importante.

De toda a água do planeta, cerca de 97,5% é salgada e 2,5% doce. Desses 2,5%, a maior parte (69%) é de difícil acesso, pois está concentrada nas geleiras, 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e 1% encontra-se nos rios.

Sendo assim, um novo estudo, publicado recentemente na revista Science, e liderado por pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências (CAS), relatou que o Hemisfério Sul é a região do globo que domina a recente diminuição na disponibilidade de água, ou seja, está secando lentamente - a cerca de 3,55 milímetros por ano nos últimos 20 anos.

Hemisfério Sul está perdendo água lentamente

Para o estudo, os autores combinaram diferentes tipos de dados para calcular a disponibilidade global de água nos últimos 20 anos, como: observações de fluxos de grandes bacias hidrográficas do mundo, dados de precipitação, e medidas de evaporação e armazenamento de água por satélite.

Localização (cores em azul no mapa) das 134 grandes bacias hidrográficas utilizadas no estudo. Fonte: Zhang et al. (2023).

De forma geral, os resultados mostraram que a disponibilidade global de água terrestre diminuiu entre 2001 e 2020. Além disso, o Hemisfério Sul foi responsável por mais de 95% desse declínio na disponibilidade de água.

Além disso, segundo os autores, a variabilidade e a tendência na disponibilidade hídrica nesse hemisfério são em grande parte impulsionadas por modos climáticos atmosféricos em grande escala, particularmente o El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que diminui a precipitação em áreas deste hemisfério.

A disponibilidade de água é a diferença líquida entre a quantidade de água armazenada na terra na forma de chuvas e a água removida para a atmosfera por evaporação e plantas.

As reduções mais significativas foram observadas na América do Sul, no sudoeste da África e no noroeste da Austrália. Contudo, algumas partes do Hemisfério Sul, como o extremo sul da América do Sul, tiveram mais água disponível.

E no Hemisfério Norte?

Ele apresentou uma combinação de tendências positivas (aumento na disponibilidade de água) e negativas (declínio na disponibilidade de água) em diferentes regiões (conforme pode ser visto na imagem abaixo), o que anulou-se mutuamente, resultando em uma disponibilidade de água mais ou menos equilibrada, com mudanças insignificantes.

Tendências (em mm/ano) na disponibilidade global de água de 2001 a 2020. O Hemisfério Sul tem mais cor laranja (diminuição da disponibilidade de água) do que azul. Fonte: Zhang et al. (2023).

Isto se deve em parte a influências humanas, como irrigação, barragens e produção de alimentos, que são fatores mais relevantes nesse Hemisfério, uma vez que ali vivem cerca de 90% da população mundial.

Quais as possíveis consequências no Hemisfério Sul?

Uma das regiões com maior secagem é a floresta Amazônica. Isso reduziria a vegetação e aumentaria o risco de incêndios, com potencial de liberar milhões de toneladas do carbono retido na vegetação e no solo.

Na América do Sul, que é um grande exportador de soja, açúcar, carne, café e frutas para o mercado global, haveria uma pressão sobre os sistemas alimentares a nível mundial. Na África, um país de muitas zonas climáticas, teria contrastes socioeconômicos, com recursos muitas vezes limitados para mitigar e adaptar-se.

No noroeste da Austrália, a secagem poderá alterar os padrões da vegetação e aumentará ainda mais as temperaturas, causando graves efeitos na saúde dos seres humanos e nos habitats.