O derretimento de geleiras pode desencadear erupções vulcânicas mais explosivas, afirma novo estudo

Segundo um novo estudo, o derretimento de geleiras pode estar silenciosamente preparando o cenário para erupções vulcânicas mais poderosas e frequentes no futuro em todo o mundo. Veja os detalhes.

vulcão
O derretimento de geleiras pode estar silenciosamente preparando o cenário para erupções vulcânicas mais explosivas e frequentes no futuro.

Um trabalho apresentado na última terça-feira, 8 de julho, na Conferência Goldschmidt em Praga, divulgou que o derretimento de geleiras pode desencadear erupções vulcânicas mais poderosas no futuro, removendo o peso que mantém o magma preso no subsolo. E a Antártica pode abrigar várias dessas erupções explosivas. Saiba mais abaixo.

‘Bombas-relógio explosivas’: derretimento de geleiras pode causar erupções poderosas

A relação entre o derretimento de geleiras e o aumento da atividade vulcânica é conhecida desde os anos 1970, na Islândia, mas este é o primeiro estudo a explorar a relação em vulcões continentais.

Utilizando o decaimento radioativo do argônio liberado por seis vulcões continentais no sul do Chile (incluindo o Mocho-Choshuenco, atualmente adormecido) e estudando os cristais que começaram a se formar no interior das rochas magmáticas expelidas durante suas erupções, os pesquisadores conseguiram rastrear a atividade vulcânica da região e sua relação com o desaparecimento de gelo.

Vulcão Mocho-Choshuenco, Chile
Imagem aérea do Vulcão Mocho-Choshuenco, nos Andes Chilenos, em junho de 2019. Crédito: Dropus/CC BY-SA 4.0.

Com isso, os pesquisadores conseguiram rastrear como o peso e a pressão do gelo glacial da Patagônia alteram as características do magma vulcânico subterrâneo. Os resultados mostraram que, durante o pico da última era glacial (cerca de 26.000 a 18.000 anos atrás), a camada de gelo reduziu o volume das erupções, causando o acúmulo de um gigantesco reservatório de magma sob a superfície da região. Quando essa camada derreteu, a pressão aumentou dentro do reservatório e foi liberada, formando o vulcão Mocho-Choshuenco.

Essa camada de gelo foi derretendo rapidamente no final da última era glacial, diminuindo de peso, e fazendo com que a crosta terrestre relaxasse e os gases no magma se expandissem. Esse acúmulo de pressão desencadeou erupções vulcânicas explosivas a partir do reservatório profundo.

O estudo, que foi apresentado no evento por Pablo Moreno-Yaeger, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), sugere que centenas de vulcões subglaciais adormecidos em todo o mundo – particularmente na Antártica – podem se tornar mais ativos à medida que as geleiras derretem.

Explicando melhor o processo, que é simples: o peso das geleiras exerce uma força descendente sobre a crosta e o manto da Terra; então, quando o gelo recua, gases subterrâneos e magma se expandem, levando a aumentos de pressão que alimentam erupções explosivas.

Ou seja, como Pablo Moreno-Yaeger explicou na apresentação, à medida que as geleiras recuam, esses vulcões passam a entrar em erupção com mais frequência e de forma mais explosiva.

Essa descoberta sugere que o fenômeno (derretimento de geleiras causando mais vulcões explosivos) não se limita à Islândia, mas também pode ocorrer na Antártica, em partes da América do Norte, na Nova Zelândia e na Rússia. E ela pode ajudar os pesquisadores a compreender e prever melhor a atividade vulcânica em regiões continentais cobertas por geleiras.

Referências da notícia

Expansion and contraction of the Patagonian ice sheet and it's influence on magma storage beneath Mocho-Choshuenco volcano, Chile. 08 de julho, 2025. Moreno-Yaeger, et al.

Melting glaciers are awakening Earth's most dangerous volcanoes. 08 de julho, 2025. European Association of Geochemistry.

Melting glaciers could trigger volcanic eruptions around the globe, study finds. 08 de julho, 2025. Ben Turner.