Nova espécie de fungo descoberta: transforma aranhas em zumbis, como em “The Last of Us”
Uma equipe de cientistas descobriu um novo fungo que transforma aranhas em aranhas zumbis. E há muitos mais...

Em setembro de 2013, uma cepa do fungo Cordyceps, um parasita que infecta tecidos de insetos e prejudica suas funções motoras, sofreu mutação e infectou humanos, transformando-os em criaturas canibais. Como a infecção é transmitida por uma simples mordida, uma pandemia irrompe e devasta a maior parte da humanidade.
Este é o enredo fantástico do videogame de terror de ação e aventura chamado “The Last of Us” e que deu origem a uma série de televisão pós-apocalíptica de mesmo nome, lançada em 2023. Embora o enredo pareça irreal e digno de um filme de terror, o fungo Cordyceps é absolutamente real.
Cordyceps
Fungos do gênero Cordyceps são parasitas, principalmente de insetos e outros artrópodes. Alguns são até parasitas de outros fungos. Quando o fungo do gênero Cordyceps entra em um inseto (que se torna alimento para o fungo), uma série de filamentos muito finos, alguns invisíveis ao olho humano, chamados "micélio", o invadem e acabam substituindo os tecidos do hospedeiro. No caso da série citada, um parasitismo em formigas serviu de base para o videogame.
Algumas espécies deste gênero são capazes de afetar o comportamento do inseto hospedeiro. O Cordyceps unilateralis, por exemplo, altera o comportamento normal do inseto quando ele é parasitado por esse fungo, fazendo com que ele suba até o topo de uma planta antes de consumi-la por dentro, permitindo que os esporos sejam liberados quando brotam do cadáver do inseto, garantindo sua propagação.
Esses fungos têm distribuição mundial e a maioria de suas 400 espécies são encontradas na Ásia, especialmente China, Japão, Coreia e Tailândia, principalmente em florestas temperadas e tropicais úmidas.

O processo começa quando os esporos do fungo entram em contato com a aranha, penetrando seu exoesqueleto e se desenvolvendo dentro dele. O fungo então libera compostos químicos que alteram o sistema nervoso da aranha, transformando-a em uma aranha zumbi e forçando-a a se mover em direção a locais que favoreçam a dispersão dos esporos, de preferência lugares altos e o mais bem iluminados possível. Após a morte da aranha, o fungo emerge de seu corpo e libera novos esporos que caem como uma chuva de poeira microscópica que se espalha sobre futuras vítimas nas folhas inferiores.
Gibellula attenboroughii
Cordyceps não é o único “fungo zumbi”.
Em 2021, uma equipe da BBC TV fez uma descoberta perturbadora: uma aranha coberta de fungos presa no teto de um depósito de pólvora abandonado na Irlanda do Norte. Após um exame cuidadoso, a aranha foi identificada como a aranha tecelã Metellina merianae, enquanto o fungo parecia ser uma nova espécie.
Durante anos, vários espécimes de aranhas infectadas foram encontrados em cavernas na Irlanda, o que nos permitiu primeiro identificar a espécie de aranha infectada e depois, após estudos morfológicos e moleculares, catalogar as novas espécies de fungos. O Centro Internacional de Agricultura e Biociências (CABI), o Museu de História Natural da Dinamarca e o Jardim Botânico Real de Kew estudaram o DNA e a morfologia da espécie para verificar a descoberta.

Esta nova espécie de fungo, chamada Gibellula attenboroughii, recebeu esse nome em homenagem ao naturalista britânico David Attenborough, um dos educadores de ciências naturais mais conhecidos da televisão. David Attenborough revela um fenômeno “zumbi” pelo qual organismos infectados que controlam a mente usam sinais químicos para direcionar aranhas das cavernas para fora de suas tocas e para o ar livre. Uma vez concluída sua missão, o fungo mata o hospedeiro, a aranha neste caso, e usa seu cadáver para liberar seus esporos para que ele possa se espalhar pelo mundo.
A descoberta de Gibellula attenboroughii expande nosso conhecimento sobre fungos que afetam aranhas e levanta novas questões sobre seu papel nos ecossistemas subterrâneos. Embora os cientistas ainda não saibam exatamente como o fungo progride pelo corpo das aranhas após infectá-las, acredita-se que o fungo produza compostos que agem nos neurônios dos invertebrados e modificam seu comportamento.

A importância desta descoberta reside nas possibilidades oferecidas por este fungo de manipular o comportamento das aranhas e transformá-las em aranhas zumbis, o que pode ter implicações significativas na regulação das populações de aracnídeos. O trabalho também destaca a complexidade dos ecossistemas subterrâneos. “Ainda há muitas espécies de Gibellula a serem descobertas”, concluíram os pesquisadores.
Referência da notícia
Evans HC, Fogg T, Buddie AG, Yeap YT, Araújo JPM (2025). The araneopathogenic genus Gibellula (Cordycipitaceae: Hypocreales) in the British Isles, including a new zombie species on orb-weaving cave spiders (Metainae: Tetragnathidae). Fungal Systematics and Evolution 15: 153–178.