Neve de microplásticos está ameaçando o equilíbrio dos oceanos

O plástico, normalmente um material flutuante, está afundando com a neve marinha e sendo levado para as camadas mais profundas do oceano - processo que ameaça o frágil equilíbrio da cadeia alimentar marítima.

Neve de microplásticos está ameaçando o equilíbrio dos oceanos
Com auxílio da neve marinha, partículas de microplástico estão afundando e ameaçam o frágil equilíbrio da cadeia alimentar no oceano profundo. (imagem: ECOGIG / NYT)

Quando se ouve falar em "neve", a imagem que vem à nossa cabeça é de flocos brancos e macios caindo do céu. A neve marinha, no entanto, é bem diferente: Trata-se de uma corrente incessante de resíduos e seres mortos que caem por quilômetros até atingirem as profundezas do oceano.

A neve marinha é formada pela atividade natural dos seres vivos na superfície do mar e é composta por resíduos de plantas, carcaças de animais, fezes, muco, poeira e microrganismos. Seu papel é fundamental para o ciclo da vida e do carbono no oceano, fornecendo alimento em suas camadas mais profundas.

O que cientistas não esperavam descobrir é que, cada vez mais, a composição da neve marinha está mudando: microplásticos como fibras de poliamida, polietileno e PET estão dominando a neve marinha, e as consequências podem ser desastrosas.

Como o plástico está afundando junto com a neve marinha?

O fato é que dezenas de milhões de toneladas de plástico são depositados nos oceanos todo ano. No início, cientistas acreditavam que o material estava destinado a boiar em grandes ilhas ou redemoinhos de lixo, mas as descobertas mais recentes descobriram que 99,8% do plástico afundou para as camadas mais profundas do oceano.

Isso acontece porque o plástico é degradado constantemente e, em alguns anos, se decompõe em pequenas partículas. Essas particulas, por sua vez, são colonizadas por micróbios que neutralizam a flutuabilidade natural do plástico e fazem o material afundar.

A principal conexão entre a superfície e as profundezas do oceano é a neve marinha, e ela parece estar ajudando o plástico a afundar.

Experimentos em laboratório mostraram que todo tipo de microplástico é capaz de se agregar à neve marinha, e que materiais como o polipropileno e o polietileno, normalmente flutuantes, afundam prontamente quando incorporados à ela. Como se já não fosse o suficiente, os cientistas descobriram ainda que a neve marinha contaminada com microplásticos cai muito mais rápido que a natural, chegando rapidamente ao oceano profundo.

Um modelo estimou que, em 2010, os oceanos do mundo produziram 340 quadrilhões de agregados de neve marinha, capazes de transportar até 463 mil toneladas de microplásticos para o leito do mar. E este número pode estar aumentando.

O impacto do microplástico na vida marinha ainda é incerto, mas já está sendo identificado em criaturas do oceano profundo, como o larváceo gigante Bathochordaeus Stygius. Isso significa que o plástico pode estar rompendo o frágil balanço da cadeia alimentar oceânica, que havia permanecido intacto por milhares de anos.

Aos poucos, as pesquisas devem revelar mais detalhes sobre o impacto dos microplásticos no oceano. Infelizmente, a inacessibilidade e a dificuldade em obter amostras do oceano profundo ainda são um grande problema para os cientistas.

Enquanto isso, o que podemos fazer para minimizar este impacto? A ação mais óbvia é destinar corretamente o lixo que produzimos. Se for à praia, não largue detritos na areia. Se possível, recicle o plástico no seu dia-a-dia. E sempre opte por consumir produtos com menos plástico em sua composição. Cada pequena ação somada, no final, pode causar grandes impactos positivos no meio-ambiente.