NASA revela quais serão os riscos climáticos agravados no mundo com um aquecimento de 2ºC

Precisamos limitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C para evitar impactos mais catastróficos no futuro. A NASA elencou os riscos climáticos agravados que teremos se esse cenário de aquecimento se concretizar.

aquecimento global
Estudo da NASA elenca quais serão os riscos climáticos agravados no mundo se a temperatura média do planeta aumentar em 2ºC, em relação ao nível pré-industrial.

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (WMO), e conforme já noticiamos aqui, julho de 2023 foi confirmado como o mês mais quente já registrado na história da Terra. A temperatura média global em superfície ficou 1,5°C acima da média do período pré-industrial, ultrapassando a barreira da “segurança climática” alertada pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Um aumento de 2ºC na temperatura média global, acima dos níveis pré-industriais, é considerado um limiar crítico acima do qual ocorrerão efeitos perigosos das mudanças climáticas geradas pelo homem. É necessário limitarmos esse aquecimento, porém, parece que está cada vez mais difícil conseguir isso. Para frisar esses efeitos, um estudo da NASA revelou quais serão os riscos climáticos agravados sob esse cenário de aquecimento. Veja abaixo.

Que dados foram utilizados?

Os autores usaram um conjunto de dados de previsões geradas originalmente por 35 dos principais modelos climáticos do mundo – especificamente, os colaboradores do Coupled Model Intercomparison Project - Phase6 (CMIP6), que inclui modelos desenvolvidos pelo Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA. Inclusive, o modelo CMIP também é utilizado pelos cientistas do IPCC.

Então, pesquisadores da NASA Earth Exchange (NEX) pegaram os dados do CMIP6 e melhoraram significativamente a sua resolução aplicando a técnica conhecida como “downscaling”, resultando no conjunto de dados NASA Earth eXchange Global Daily Downscaled Projections (NEX-GDDP) CMIP6, que foi lançado recentemente. Esses dados são projeções climáticas diárias globais até o ano 2100. As seis variáveis utilizadas foram: umidade relativa do ar, precipitação, radiação de onda longa e de onda curta em superfície, velocidade do vento e temperatura do ar próximo à superfície.

Como será o clima terrestre com 2°C de aquecimento?

O estudo analisou os impactos projetados desse aquecimento para entender como os diferentes efeitos climáticos podem se combinar. Vejamos:

Conforme a imagem abaixo, haverá um aquecimento significativo da temperatura do ar em superfície (> 3 ºC) no polo Ártico, conhecido como “amplificação do Ártico”, bem perceptível no Alasca, Canadá, norte da Europa e Rússia. No Brasil, haverá um aumento também, mas a uma taxa relativamente mais baixa.

Padrão espacial simulado da anomalia da temperatura do ar (ºC) próximo à superfície (no SSP2-4.5, cenário intermediário de emissões) na década de 2040. Fonte: Park et al. (2022).

Em relação à precipitação (figura logo abaixo), é projetado um aumento generalizado nas latitudes altas do Hemisfério Norte (> 50ºN). Os aumentos mais notáveis serão sentidos no sudeste da Groenlândia, no leste e oeste da África e no sul da Ásia. Por outro lado, haverá uma diminuição na África Austral, sudoeste da América do Norte, sul da América do Sul, Austrália, no Sahel e no Mediterrâneo e, principalmente, na Bacia Amazônica, onde a precipitação anual diminuirá aproximadamente 98 mm por ano.

Padrão espacial simulado da anomalia de precipitação (mm/ano) (no SSP2-4.5, cenário intermediário de emissões) na década de 2040. Fonte: Park et al. (2022).

Na maioria das áreas terrestres prevê-se uma diminuição da umidade relativa do ar (figura abaixo), com exceção no leste e oeste da África e no sul da Ásia, onde, como já comentado, esperam-se as maiores precipitações. Diminuições significativas ocorrerão na América Central, no sul da América do Norte, no Mediterrâneo e no sul da África. Contudo, a redução mais significativa ocorrerá na Amazônia (-1,7%), particularmente na borda sudeste das florestas tropicais, chamada de “Arco do Desmatamento”, onde estão ocorrendo grandes mudanças na cobertura e uso do solo.

Padrão espacial simulado da anomalia de umidade relativa do ar (%) (no SSP2-4.5, cenário intermediário de emissões) na década de 2040. Fonte: Park et al. (2022).

A radiação de onda curta descendente (DSWR) e a radiação de onda longa descendente (DLWR) são duas componentes importantes do equilíbrio de radiação da superfície terrestre, influenciando os ciclos de energia e água da Terra. Para a DSWR, a maior redução é esperada no Sahel, África Ocidental e Oriental e sul da Ásia, com um aumento mais moderado no Mediterrâneo, norte da Europa e leste da América do Norte e centro-leste do Brasil. Já para a DLWR, projeta-se um grande aumento no Sahel e África Ocidental, enquanto mudanças relativamente menores são esperadas na Amazônia, sudeste Asiático e sul da América do Sul.

E por fim, o vento: essa variável foi a que menos teve mudanças significativas. O que mais se destaca é uma forte diminuição da velocidade do vento na América do Norte Central e Oriental, no norte da Europa e no Tibete. E também um aumento dos ventos em quase toda a América do Sul, principalmente no sudeste do Paraguai e sul do Brasil.

Também foram analisados dois indicadores climáticos: estresse térmico (efeitos combinados da temperatura e da umidade no corpo) e o Índice Climático de Incêndio Florestal (FWI, em inglês). A maior parte do planeta sofrerá com um maior estresse térmico, principalmente na Amazônia, América do Norte central e leste, no Mediterrâneo e no leste e norte da Ásia. As altas temperaturas e a seca se combinam perigosamente, aumentando o risco de incêndios extremos principalmente no centro-oeste da América do Norte, no Mediterrâneo, África do Sul e na faixa central do Brasil. E provavelmente, esses incêndios serão mais intensos e durarão por mais tempo.