Mudança alimentar impulsionou a evolução física dos primeiros humanos, diz novo estudo
Segundo o estudo, os hominídeos já tinham gosto por plantas ricas em carboidratos muito antes de terem dentes para comê-las, e isso impulsionou a sua evolução física.

À medida que os primeiros hominídeos migraram das florestas africanas para áreas de pastagens, a necessidade de energia para o corpo (calorias) os levou a desenvolver um gosto por plantas gramíneas, especialmente grãos e o tecido vegetal rico em amido escondido no subsolo da região.
E um novo estudo feito por pesquisadores do Dartmouth College e publicado na revista científica Science mostra que esses hominídeos começaram a se alimentar com esses alimentos antes mesmo de terem dentes ideais para isso.
Esta é a primeira evidência de registros fósseis humanos em que comportamentos benéficos à sobrevivência surgem antes das adaptações físicas que os facilitam.
Se alimentando mesmo com limitações físicas
Mudanças alimentares e alterações morfológicas correspondentes podem, às vezes, evoluir em sucessão, e não simultaneamente — um processo evolutivo denominado impulso comportamental. É isso que este estudo mostra.
Os pesquisadores analisaram dentes fossilizados de várias espécies de hominídeos, começando com o mais distante Australopithecus afarensis, em busca de isótopos de carbono e oxigênio remanescentes do consumo de plantas conhecidas como graminoides (gramíneas, juncos e ciperáceas).
Para fins de comparação, eles também analisaram os dentes fossilizados de duas espécies de primatas extintas que viveram aproximadamente na mesma época: macacos terrestres gigantes semelhantes a babuínos, chamados Theropithecus, e pequenos macacos comedores de folhas, chamados colobinos.
E eles descobriram que os hominídeos consumiam essas plantas muito antes de seus dentes evoluírem para mastigá-las com eficiência ou de terem sistemas digestivos ideais para comer essas plantas mais resistentes. Só 700 mil anos depois é que a evolução lhes deu os dentes ideais para isso, molares mais longos.
“ (...) falamos sobre mudanças comportamentais e morfológicas como algo que evolui em sincronia. Mas descobrimos que o comportamento pode ser uma força evolutiva por si só, com grandes repercussões na trajetória morfológica e alimentar dos hominídeos”, explicou Luke Fannin, aluno de pós-doutorado em Dartmouth e autor principal do estudo.
Nathaniel Dominy, um dos coautores do estudo, explica também que as assinaturas químicas encontradas nos fósseis são um resquício inconfundível do consumo de grama, independente da morfologia dos hominídeos. A necessidade de se alimentar das gramíneas que existiam superava o desafio físico de mastigar e digerir os tecidos vegetais resistentes.
Embora os dentes dos hominídeos tenham se tornado consistentemente menores — encolhendo cerca de 5% a cada 1.000 anos — os molares cresceram mais. A mudança na dieta dos hominídeos para graminoides superou essa mudança física durante a maior parte de sua história, afirmam os autores do estudo.
Essa descoberta sugere que o sucesso dos primeiros humanos decorreu de sua capacidade de se adaptar a novos ambientes, apesar de suas limitações físicas.
Referências da notícia
Behavior drives morphological change during human evolution. 31 de julho, 2025. Fannin, et al.
Changes in diet drove physical evolution in early humans. 31 de julho, 2025. Morgan Kelly/Dartmouth College.