Microplásticos são encontrados em sêmen e óvulos, abrindo nova linha de pesquisa sobre fertilidade humana

Plásticos invisíveis chegaram até ao centro da reprodução: óvulos e espermatozoides. Cientistas alertam que seu papel na fertilidade precisa ser mais estudado.

microplásticos, esperma
A fertilidade humana enfrenta um novo desafio invisível: a presença de microplásticos em seus principais fluidos.

A poluição plástica deixou de ser apenas um problema ambiental para se tornar uma preocupação direta para a saúde humana. Nos últimos anos, diversos estudos encontraram microplásticos em órgãos, tecidos e até mesmo no sangue dos seres humanos.

Agora, um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Múrcia encontrou partículas de microplástico tanto no sêmen quanto no fluido que envolve os óvulos femininos, levantando novas questões sobre como essas partículas podem afetar a fertilidade humana.

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Microplásticos são fragmentos de plástico menores que 5 milímetros, encontrados em embalagens, roupas e alimentos.

Microplásticos são fragmentos menores que 5 mm originários de embalagens, tecidos, cosméticos e uma ampla gama de produtos de consumo diário. Sabe-se que eles entram no corpo humano através de alimentos, água, ar e, em menor grau, através da pele.

Estudos anteriores já os detectaram no sangue, nos pulmões e até na placenta. Agora, sua presença em fluidos reprodutivos confirma que eles podem atravessar algumas das barreiras biológicas mais sensíveis.

A evidência que confirma o problema

A equipe, liderada por Emilio Gómez-Sánchez, analisou o fluido folicular de 29 mulheres em tratamento de fertilidade e o sêmen de 22 homens que frequentavam clínicas de reprodução assistida. Para evitar contaminação externa, todas as amostras foram manuseadas de acordo com rigorosos protocolos laboratoriais e utilizaram recipientes de vidro.

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Óvulos e espermatozoides, protagonistas da fertilidade, agora sob a sombra dos microplásticos.

Usando microscopia infravermelha, os pesquisadores identificaram diferentes tipos de polímeros: PTFE (Teflon), polipropileno, poliestireno, PET, poliamida, poliuretano e polietileno.

As descobertas foram impressionantes: microplásticos foram encontrados em 69% das amostras femininas e 55% das amostras masculinas.

Embora o estudo não demonstre que essas partículas prejudiquem diretamente a fertilidade, a preocupação é evidente. Experimentos em animais demonstraram que os microplásticos induzem inflamação, estresse oxidativo, distúrbios hormonais e danos ao DNA. Esses mecanismos, se confirmados em humanos, podem afetar a qualidade dos óvulos, dos espermatozoides e do desenvolvimento embrionário.

"Este é um primeiro passo que levanta mais perguntas do que respostas", reconheceu Gómez-Sánchez durante a apresentação do estudo no congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia. O trabalho foi publicado na revista Human Reproduction.

As implicações para a saúde humana ainda são incertas

A fertilidade humana é um processo complexo, influenciado por fatores como idade, genética e saúde em geral. Somando-se a esse quadro, há um fator externo de difícil controle: a onipresença do plástico na vida moderna. Pesquisadores enfatizam que a presença de microplásticos deve ser considerada como outro fator potencial na equação reprodutiva.

A descoberta também levanta preocupações sociais. A fertilidade masculina diminuiu globalmente nas últimas décadas, enquanto muitas mulheres enfrentam dificuldades crescentes para engravidar. Embora não se possa afirmar que os microplásticos estejam por trás dessas tendências, seu impacto potencial não pode ser descartado.

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Está confirmado que os microplásticos até atravessam as barreiras do sistema reprodutivo.

Os autores admitem que este é um estudo preliminar. As principais linhas de trabalho futuras incluem a ampliação do número de casos para obter resultados mais representativos; a análise do efeito com base no tipo e tamanho das partículas; o estudo da relação com a qualidade dos gametas; e a investigação de hábitos de exposição, como a dieta ou o uso de plásticos em casa.

Os microplásticos não são mais um problema apenas no oceano ou no ar que respiramos: eles atingiram o centro da reprodução humana. Embora ainda não se saiba se sua presença compromete a fertilidade, o simples fato de encontrá-los no sêmen e no fluido folicular obriga a ciência a analisar mais de perto essa nova ameaça.

A grande questão agora não é se convivemos com plásticos, mas em que medida eles estão afetando funções vitais, como a capacidade de gerar vida.

Referência da notícia

O-280 Unveiling the hidden danger: detection and characterisation of microplastics in human follicular and seminal fluids. 02 de julho, 2025. Gomez-Sanchez, et al.