Inteligência artificial pode ajudar a resolver mistério sobre o Sol

Uma aplicação inédita de inteligência artificial pode nos ajudar a resolver um mistério sobre a atmosfera solar. A questão sobre aquecimento de uma parte da atmosfera tem sido um grande mistério para os astrônomos.

inteligência artificial atmosfera do Sol
Astrônomos utilizam inteligência artificial para entender dinâmica da atmosfera do Sol

O Sol possui diversas camadas e zonas que tem características próprias. A luz que observamos vem em maior parte de uma zona mais interna da atmosfera solar chamada fotosfera. A fotosfera é a camada mais profunda e possui entre 6 mil a 7 mil graus Celsius.

Depois da fotosfera temos a cromosfera que também possui uma temperatura de cerca de 7 mil graus Celsius. A parte mais externa é a corona solar, visível somente em eclipses totais, é a parte mais superficial do Sol. Por ser mais longe do centro do Sol é esperado que seja mais fria, porém é a parte mais quente da atmosfera chegando a 1 milhão de graus Celsius.

Esse é conhecido como o problema do aquecimento da corona solar. Astrônomos não conseguem explicar como que a parte mais externa chega a temperaturas bem mais altas que as partes internas. Estudo na Universidade de Northumbria na Inglaterra recente utiliza da ajuda de inteligência artificial pra conseguir responder a questão.

Partes do Sol

O Sol é dividido em algumas partes que possuem características próprias. A parte mais interior é o núcleo solar onde majoritariamente acontece o processo de fusão nuclear. É no núcleo que grande parte da energia solar é liberada através de fusão nuclear de hidrogênio para formar hélio.

Partes do Sol
Partes do Sol separadas por camadas desde o núcleo até a corona. Crédito: NASA/Goddard

Depois do núcleo temos as zonas de radiação e convecção, respectivamente. E por fim, temos a atmosfera solar que é dividida entre fotosfera, cromosfera e corona. A fotosfera é a parte visível para nós enquanto a corona é a parte mais externa.

A corona solar

Nós conseguimos observar a corona solar como o anel que é visível quando acontece um eclipse solar. É formada de um fluido com íons chamado de plasma. É uma parte bastante extensa podendo chegar a mais de 10 milhões de quilômetros e com uma temperatura de 1 milhão de graus Celsius.

Na corona solar, há campos magnéticos que podem se enrolar e ao se reconectarem podem liberar partículas do plasma em forma de ventos solares. Nós temos evidências dos ventos solares quando atingem a Terra e formam as auroras nos polos.

Problema do aquecimento da corona solar

Uma das grandes perguntas da Física solar é: por que a corona solar é tão quente? A parte mais interna da atmosfera possui até 7 mil graus Celsius enquanto a corona chega a mais de 1 milhão de graus Celsius.

A intuição era que partes mais próximas do núcleo, que chega a mais de 15 milhões de graus Celsius, fossem mais quentes enquanto a temperatura esfriasse quanto mais distante do núcleo.

O que está aquecendo a corona solar fazendo ela chegar a temperaturas tão altas que poderia até ser uma parte do próprio núcleo? Essa é uma pergunta que possui duas teorias mas a falta de observações nos mantém com o mistério sem solução.

Campos magnéticos

Uma das principais teorias é que quando os campos magnéticos se enrolam e se reconectam, uma quantidade de energia é liberada nesse processo e essa energia aquece o plasma fazendo chegar nas temperaturas tão altas.

Um flare solar registrado pelo observatório da NASA
Flare solar em branco registrado pelo Solar Dynamics Observatory da NASA no dia 2 de julho desse ano. Crédito: NASA/SDO

Porém, para confirmar essa teoria é necessário observar o processo através de pequenas explosões chamadas nanoflares. Essas explosões no corona poderia nos ajudar a entender se os campos magnéticos são os principais responsáveis pelo aquecimento. A dificuldade, no entanto, é observar esses nanoflares por serem pequenos demais.

Inteligência artificial na busca por padrões

Ao alimentar os dados de observatórios solares, como o IRIS e o Solar Orbiter, para um modelo de aprendizado máquina é possível treiná-lo para detectar os nanoflares. Ao observar os nanoflares com mais frequência seria possível entender como é o processo de aquecimento da corona solar.

A IA está sendo treinada para encontrar esses nanoflares com mais facilidade e conseguir associar a regiões que há variação de temperatura. Isso seria uma direção para entender a dinâmica complexa da corona.