Foi descoberta uma cadeia de vulcões submarinos próxima à Antártica com implicações profundas para o clima global

Em uma recente expedição, geofísicos a bordo do navio de pesquisa "RV Investigator" descobriram uma cadeia de montanhas submarinas entre a Tasmânia e a Antártica, que abrange 20.000 km². Saiba mais aqui!

Geofísicos a bordo do navio "RV Investigator" descobriram uma cadeia montanhosa entre a Tasmânia e a Antártica, com 20.000 km2.

Numa expedição recente, geofísicos a bordo do navio de pesquisa RV Investigator, da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), desvendaram uma cadeia de montanhas submarinas que se estende por uma área de 20.000 km², localizada entre a Tasmânia e a Antártica. O resultado desta campanha de investigação demonstra a sua composição com oito vulcões inativos com altitudes até 1.500 metros acima do nível do mar, tendo elevado potencial para redefinir a compreensão que temos sobre os processos geológicos e climáticos desta porção do território.

Vulcões antárticos revelam novas evidências sobre os contextos geotérmico e oceanográfico

Estes vulcões formaram-se nos últimos 20 milhões de anos devido ao magmatismo de um ponto quente. Os pontos quentes circunscrevem-se a regiões no manto terrestre, abaixo da crosta, onde plumas de magma se elevam e formam novos montes vulcânicos.

O Dr. Chris Yule, geofísico da CSIRO a bordo do "RV Investigator", destacou que quatro destes vulcões são resultado de evidências científicas recentes, enquanto dois montes submarinos e uma falha geológica parcialmente mapeados em expedições anteriores foram agora completamente detalhados.

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Os resultados agora apontados ocorreram durante as investigações da CSIRO na tentativa de mapear os fluxos de calor da Corrente Circumpolar Antártica. Ao longo de cinco semanas, a CSIRO mapeou o leito do oceano para compreender como as correntes oceânicas profundas afetam o degelo das plataformas na Antártida. O objetivo seria o de criar mapas que indiquem a distribuição de calor nesta parte do mundo.

“O conhecimento da profundidade e forma do leito marinho é crucial para quantificar a influência das montanhas, colinas e vales submarinos na Corrente Circumpolar Antártica e na entrada de calor na Antártica”, destaca a Drª. Helen Phillips, co-chefe científica nesta expedição.

Phillips revelou também a importância destas evidências para a compreensão das dinâmicas oceânicas, destacando que a Corrente Circumpolar Antártica interage com o leito marinho e as montanhas circundantes, sendo responsável pela criação de turbulências na corrente e formação de turbilhões.

Estes turbilhões desempenham um papel crucial no transporte de calor e carbono da superfície para camadas mais profundas, atuando como um amortecedor crítico face ao aquecimento global.

Satélite de alta resolução procura avaliar o leito marinho antártico e o seu impacto na regulação climática global

Os investigadores presentes nesta expedição dão conta também da utilização de um novo satélite desenvolvido pela NASA e pelo CNES (Centre National d'Études Spatiales). Esta tecnologia permitiu que os investigadores obtivessem imagens de alta resolução do leito marinho.

imagens de satélite
Imagens de novo satélite da NASA revelam as cadeias montanhosas submarinas próximos à Antártica.

A Corrente Circumpolar Antártica, que flui no sentido horário ao redor do continente, é a corrente mais forte do mundo e a única que conecta todos os oceanos globais. Portanto, é de particular importância para os cientistas compreenderem o que se está a suceder nos oceanos devido às mudanças climáticas.

Benoit Legresy, responsável pela campanha de investigação, ressalta que mais de 90% do calor causado pelo aquecimento global e cerca de 25% das emissões de CO2 antrópicas foram absorvidos pelos oceanos, desempenhando, assim, um papel fundamental, como um amortecedor climático. Legresy destaca, ainda, a urgência de rastrear as direções de calor e do carbono no sistema climático global, de modo a aumentar a eficácia dos estudos relacionados com as mudanças climáticas.

Estamos a trabalhar num ponto de entrada onde o calor é direcionado para a Antártica, contribuindo para o degelo e o aumento do nível do mar. Precisamos agora de entender como esta porta funciona, quanto calor passa por esse meio e como poderá mudar no futuro.

Benoit Legresy

As evidências sobre esta cadeia de vulcões submarinos é uma via para enriquecer o nosso conhecimento sobre a geologia deste território, destacando, de igual modo, a interconexão crítica entre os processos oceânicos e as alterações climáticas globais.

Os trabalhos científicos para a combinação de mapas da altura da superfície do mar com o movimento de calor no Oceano Austral são ainda parcos, mas constituem-se como uma ferramenta de grande utilidade e expetativa para capacitar governos e comunidades no planeamento de estratégias de adaptação perante o aumento do nível do mar.

Referência da notícia
Agius M. Australian research ship discovers new volcano range. Cosmos (2023).