Estudo da USP alerta para risco de malária urbana no Brasil devido a novo vetor invasor

O mosquito Anopheles stephensi, vetor transmissor da malária na Ásia, pode ser introduzido futuramente no Brasil devido às mudanças climáticas e ao comércio marítimo. Saiba mais aqui.

Imagem do mosquito Anopheles stephensi, vetor da malária, originário da Ásia e que já está presente também em vários países da África. Crédito: Somboon Bunproy/ Shutterstock.com.

A malária é uma doença infecciosa grave causada por parasitas do gênero Plasmodium, e transmitida aos humanos através da picada de fêmeas do mosquito Anopheles (conhecido como mosquito-prego) infectadas com o parasita.

Então, os hospedeiros primários e vetores de transmissão dos parasitas são os mosquitos fêmeas do gênero Anopheles, sendo os humanos os hospedeiros secundários. Os mosquitos se infectam com o parasita inicialmente alimentando-se do sangue de uma pessoa infectada, e depois transmitem a doença para outras pessoas ao picá-las.

No Brasil, o vetor principal da malária é o mosquito Anopheles darlingi, presente, principalmente, em zonas florestais.

No Brasil, a maioria dos casos de malária se concentram na região amazônica, sendo esta então a área endêmica para malária no país, registrando mais de 99% dos casos autóctones. Em 2024, foram registrados no total 142 mil casos no país.

E agora, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) alertam para a possível introdução de um novo vetor de malária no Brasil nos próximos anos: o mosquito da espécie Anopheles stephensi. Ele é originário da Ásia, mas já foi detectado em alguns países da África, mostrando uma rápida expansão. O estudo com as análises foi publicado na revista Scientific Reports.

Vetor transmissor de malária na Ásia pode ameaçar o Brasil

O novo vetor (para o Brasil) é o mosquito Anopheles stephensi, originário da Ásia e identificado como espécie invasora pela primeira vez em 2012, em Djibuti, no continente africano; atualmente, já foi detectado em outros países como Índia, Irã, Iraque, Paquistão, Egito, Tailândia, Nigéria e Quênia.

Essa expansão para a África é preocupante devido à capacidade do mosquito de colonizar ambientes urbanos, o que representa um risco de epidemias em áreas densamente povoadas.

A malária é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Plasmodium, o qual se reproduz dentro das fêmeas do mosquito Anopheles, e assim é transmitido para os humanos através da picada do mosquito infectado. No sangue humano, o parasita invade e destrói os glóbulos vermelhos. Crédito: Kateryna Kon/Shutterstock.com.

E segundo os pesquisadores da USP, o comércio marítimo poderia facilitar o transporte do Anopheles stephensi para o Brasil, já que o nosso país tem tem negociações com outros países em que este vetor está presente. E de que forma? Os ovos e os mosquitos adultos podem ser levados junto com as mercadorias nas embarcações.

Se o novo vetor chegar ao Brasil, há risco de que os ventos marítimos facilitem o transporte dos portos para áreas urbanas, como Santos e São Paulo - explicou André Luís Acosta, autor principal do estudo, em entrevista ao Jornal da USP.

E ainda as semelhanças climáticas entre as regiões afetadas e o Brasil mostram que nosso país poderia, de fato, ser afetado pelo Anopheles stephensi, o que traz mais preocupações. Com a possível introdução deste novo vetor no país, a transmissão pode ocorrer também em áreas rurais e urbanas, ampliando o alcance da malária, o que representa um risco de crise em saúde pública.

Se o clima é parecido, o risco já é muito grande, porque o principal limitante inicial para as espécies invasoras se expandirem após introduzidas é o clima”, comentou Acosta.

O papel das mudanças climáticas em cenários futuros

Os pesquisadores se baseiam em modelagem climática projetando cenários futuros entre 2021 e 2100 de aptidão climática - áreas com condições favoráveis (de temperatura e precipitação) para ocorrência de mosquitos vetores de doenças como a malária.

Os resultados mostraram que 40% da população global está em áreas com aptidão climática para o mosquito Anopheles stephensi, e até 2100 esse número pode chegar a 56%. No Brasil, as áreas mais afetadas seriam as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Referências da notícia

Future global distribution and climatic suitability of Anopheles stephensi. 01 de julho, 2025. Acosta, et al.

Pesquisadores alertam para possível introdução de novo vetor de malária no Brasil. 21 de agosto, 2025. Yasmin Constante.