Como os humanos podem afetar a força dos ciclones tropicais?

Ciclones tropicais são extremamente dependentes das condições de temperatura da superfície dos oceanos. Porém, estudos recentes sugerem que, indiretamente, os seres humanos podem influenciá-los, causando redução na intensidade destes sistemas através da emissão de aerossóis.

Aerossóis enfraquecem os furacões
O impacto das atividades humanas no clima do planeta se mistura a um emaranhado de outros fatores tornando o cenário climático mundial extremamente complexo.

Os ciclones tropicais têm nomes diferentes que depende exclusivamente da sua localização geográfica: furacões nascem no Atlântico, tufões no Pacífico ocidental e Ciclones tropicais no Oceano Índico. Todos estes sistemas referem-se ao mesmo tipo de tempestade. A formação e desenvolvimento dos ciclones tropicais são função da temperatura dos oceanos onde se foram. As águas quentes providenciam umidade e calor essenciais para que o sistema se mantenha.

Nas décadas passadas, inúmeros estudos sugeriram que o aquecimento global poderia aumentar o número e a intensidade dos ciclones tropicais. Contudo, pesquisas recentes mostraram que as emissões humanas de gases de efeito estufa já deveriam ter causado um pequeno aumento nas intensidades de ciclones tropicais em todo o mundo. Embora tenha havido um aumento de gases do efeito estufa na atmosfera e os oceanos tenham claramente esquentado nas últimas décadas, a tendência global da força dos ciclones tropicais não coincide com o aumento destes fatores.

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Pesquisadores estão tentando compreender o impacto de outro fator: os aerossóis. Aerossóis são partículas minúsculas o suficiente para flutuar no ar por dias ou semanas. Estas partículas são emitidas tanto por fontes naturais, quanto por fontes antropogênicas (a queima de combustíveis fósseis, por exemplo, produz tanto gases do efeito estufa quanto aerossóis). Os aerossóis têm uma longa lista de diferentes impactos sobre os seres humanos e o meio ambiente, incluindo graves efeitos à saúde.

Os aerossóis podem esfriar o clima do planeta, refletindo a luz solar de volta ao espaço, agindo em oposição ao aquecimento causado por gases de efeito estufa. Muitos cientistas, que datam de pelo menos 2006, estudaram o efeito dos aerossóis nos ciclones tropicais, incluindo como podem neutralizar os gases do efeito estufa.

Cenários

Tendo em vista este grande quebra-cabeças de fatores com grandes incertezas que influenciam a intensidade potencial dos ciclones tropicais, a NOAA produziu simulações considerando quatro cenários diferentes: 1) E se nunca começarmos a queimar combustíveis fósseis? (ou seja, sem gases de efeito estufa, sem aerossóis); 2) E se emitíssemos gases de efeito estufa, mas não aerossóis? 3) E se emitíssemos aerossóis, mas não gases de efeito estufa? e 4) Qual o cenário considerando os gases de efeito estufa e os aerossóis?

Começando pelo mais simples: se não tivéssemos começado a queimar combustíveis fósseis, a temperatura da superfície do mar e a intensidade potencial teriam permanecido praticamente as mesmas de 1850 até agora. Mas se observarmos o que acontece com os gases de efeito estufa e os aerossóis - ou seja, a realidade, o cenário 4) - a temperatura da superfície do mar aumentou claramente, mas a intensidade potencial dos ciclones tropicais não. Ele oscilou um pouco, mas não vemos a mesma tendência clara de alta da temperatura da superfície do mar até as últimas duas décadas.

Quando analisamos os cenários 2) e 3) as coisas ficam bem interessantes. O modelo computacional mostra que o aquecimento proporcionado por gases de efeito estufa na temperatura da superfície do mar é duas a três vezes maior que o efeito de resfriamento dos aerossóis. No entanto, o aumento da intensidade potencial causado pelos gases de efeito estufa é quase igual à diminuição causada pelos aerossóis.

Apesar da atuação dos aerossóis agir contra o efeitos dos gases do efeito estufa, um estudo publicado na revista “Natural Hazards” mostrou que na ausência de fortes reduções nas emissões destes gases, a futura força potencial de gases de efeito estufa dominará cada vez mais o impacto dos aerossóis, levando a aumentos substancialmente maiores nas intensidades de ciclones tropicais.