Como a África influencia na formação de furacões

Diversos processos físicos que ocorrem na África podem influenciar o número de furacões formados no Atlântico Norte a cada temporada. Enquanto alguns fenômenos a partir da África Ocidental favorecem a ocorrência de furacões, outros desfavorecem.

Furacão observado a partir do espaço.

A temporada de furacões do Atlântico Norte está oficialmente aberta desde o dia 1º de junho de 2019 e terminará em 30 de novembro. No entanto, o pico da temporada vai de meados de agosto até o fim de outubro. Mas furacões mortais podem se formar a qualquer momento da temporada, desde que as condições atmosféricas sejam favoráveis.

Com uma distância aproximada de 6 mil km dos Estados Unidos, a África tem participação na gênese dos furacões que atingem o Caribe e parte da América do Norte anualmente, assim como na supressão dos mesmos. Mas como isso é possível? No trópico, os ventos alísios sopram de leste para oeste e, portanto, as perturbações tropicais e a poeira do Saara geradas na África são conduzidas para oeste através do escoamento, alcançando locais remotos.

Durante o verão do Hemisfério Norte, os meteorologistas dos Estados Unidos voltam seus olhos para a África e o Atlântico Norte. Isso porque esses locais podem ser decisivos na formação de um furacão que pode terminar com fortes impactos ao país. A intensidade da monção africana por exemplo, é uma das pistas utilizadas na predição dos ciclones tropicais. Monitorar a evolução das trovoadas na África e no Atlântico Tropical Norte é uma das principais atividades dos previsores de furacões.

África x furacões

Nesta época do ano, os contrastes de temperatura aumentam entre o ar profundamente quente sobre o deserto do Saara e o ar mais frio e úmido das áreas florestadas do Golfo da Guiné e da África Central. Esse contraste resulta em um sistema de vento denominado jato tropical de leste em cerca de 4 km de altitude. As ondas de leste africanas são lotes de energia que se formam a partir das instabilidades do fluxo deste jato, e apresentam um pico em julho quando as diferenças térmicas se agravam na África Ocidental.

Cerca de 10 ondas tropicais se propagam pelo continente africano em direção ao Atlântico a cada mês do verão boreal. Essas ondas levam entre uma a duas semanas para atravessar o vasto oceano em direção aos Estados Unidos sob orientação da Alta das Bermudas-Açores. Entretanto, nem todas ondas tropicais que deixam a África sobrevivem a tamanha jornada, já que o ambiente atmosférico pode se tornar hostil durante a longa viagem.

Para que uma onda tropical evolua em um furacão, é importante que a temperatura da superfície do oceano esteja quente e que a atmosfera esteja úmida, instável e sem cisalhamento vertical do vento. Nestas condições de intensificação, o campo de pressão vai perdendo o aspecto de onda com o fechamento das isóbaras, e a Força de Coriolis vai atuando cada vez mais no sistema, de modo que as trovoadas giram ao redor do centro de baixa pressão até que o ciclone atinja o status de um furacão (vento sustentado mínimo de 119 km/h = furacão de categoria 1).

Ao mesmo tempo que a África pode ser o berço dos grandes furacões do Atlântico Norte, ela pode suprimir tanto o desenvolvimento das ondas tropicais como dos furacões. É que durante a monção de verão do norte africano, os movimentos convectivos e o vento horizontal ao longo do Saara colocam em suspensão na atmosfera uma grande carga de poeira. Em muitos casos, a massa de ar quente, seca e com material particulado (sal e poeira) é transportada para oeste ao longo do Atlântico.

Quando este fenômeno ocorre, há um aumento da estabilidade atmosférica sobre o oceano, visto que o ar seco é mais denso e se encontra abaixo do ar úmido (menos denso). Desta forma, o crescimento vertical das nuvens se torna prejudicado. Outro efeito do ar seco em inibir a evolução de um furacão já formado é o resfriamento evaporativo em decorrência de downburst. Ciclones tropicais precisam do calor latente liberado na convecção, qualquer processo que diminua essa fonte de calor impactará no desenvolvimento do sistema.