Como a Amazônia fabrica sua própria chuva? Ciência desvendou esse mistério
Novo estudo revela que árvores usam água rasa na seca para manter o ciclo da chuva, reforçando a importância da floresta para o clima e a agricultura nacional.

Um novo estudo realizado na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, revela um segredo vital da Amazônia: durante a estação seca, a maior parte da água que as árvores usam para transpirar — processo que libera vapor e forma nuvens — vem das camadas mais rasas do solo. Isso contraria a ideia de que, em tempos de pouca chuva, as raízes buscam água apenas em profundidades maiores.
A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, é fundamental para o ciclo da água no Brasil. Através dos chamados “rios voadores” — correntes de vapor atmosférico — a umidade da floresta é transportada por milhares de quilômetros, gerando chuva em várias regiões do país, inclusive onde está o principal polo agrícola nacional.
Grande parte dessa umidade é resultado da transpiração das árvores: elas puxam a água do solo, liberam-na pelas folhas e alimentam as chuvas locais e distantes. Durante a seca, cerca de 70% da chuva que cai sobre a floresta é produzida por esse ciclo.
Estudo revela uso de água superficial na seca
A pesquisa, publicada na revista científica PNAS, analisou duas regiões contrastantes da Floresta Nacional do Tapajós: o platô, onde o lençol freático está a cerca de 40 metros de profundidade, e o baixio, mais próximo ao leito de igarapés, com água subterrânea a até 30 metros.
Esse processo é essencial para manter o ciclo hidrológico da floresta, sobretudo no momento em que há menos precipitação. A capacidade da Amazônia de produzir chuva mesmo na seca é o que garante a transição entre estações e sustenta a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos da região.
Diversidade de árvores é chave do ciclo hídrico
A pesquisa também destaca que diferentes espécies de árvores têm estratégias variadas para acessar a água. A chave está na chamada resistência ao embolismo, um traço hidráulico que determina a habilidade de uma árvore em extrair água de solos mais secos.

Espécies com maior resistência conseguem puxar água mesmo de solos superficiais secos, enquanto outras, mais vulneráveis, dependem de raízes mais profundas. Essa diversidade funcional ajuda a manter o equilíbrio do sistema, garantindo que a floresta como um todo consiga continuar reciclando água mesmo em condições adversas.
Além disso, a presença de espécies adaptadas a usar água rasa reforça o papel da Amazônia como uma “fábrica de chuvas”, crucial para as regiões agrícolas do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Desmatamento ameaça ciclo da água
O estudo reforça uma mensagem clara: sem floresta, não há chuva. E sem chuva, não há floresta. A Amazônia depende da própria capacidade de reciclar a água para sobreviver. Interromper esse ciclo, seja pelo desmatamento ou pela degradação do solo, pode levar a um colapso do sistema hidrológico.
O alerta se torna ainda mais urgente diante da aprovação de projetos de lei que facilitam o desmatamento, como o chamado "PL da Devastação". A equação é simples: menos árvores, menos chuva, menos floresta — e maior risco climático, social e econômico.
Referências da notícia
G1. Como a floresta fabrica a própria chuva? Pesquisa desvenda segredo da Amazônia. 2025