Cinzas vulcânicas aumentam concentração de fitoplâncton até em locais distantes da erupção, diz estudo

Um novo estudo sugere que cinzas liberadas por erupções vulcânicas aumentam temporariamente os níveis de fitoplâncton nos oceanos, mesmo a distâncias consideráveis do local da erupção, como a 100 km, por exemplo.

ilha vulcânica Nishinoshima, Japão
A ilha vulcânica de Nishinoshima, no Japão, em foto de 13 de junho de 2014. Crédito: JAPAN COAST GUARD/AFP/Arquivo.

O fitoplâncton é um conjunto de microrganismos invisíveis (a olho nu) fotossintetizantes que flutuam nas camadas superficiais dos oceanos. Esses microrganismos são algas unicelulares, cianobactérias e outras espécies microscópicas.

E o fitoplâncton exerce um papel fundamental nos ecossistemas aquáticos: captura gás carbônico, sustenta a cadeia alimentar, uma vez que é um organismo produtor, e produz cerca de metade do oxigênio disponível na Terra.

Um estudo publicado recentemente na revista científica Progress in Earth and Planetary Science sugere que as cinzas emitidas por erupções vulcânicas podem aumentar a concentração do fitoplâncton nos oceanos, mesmo a distâncias consideráveis do local da erupção, como a 100 km, por exemplo.

Cinzas vulcânicas favorecem a proliferação de fitoplâncton em locais distantes da erupção

O grupo de pesquisadores japoneses analisou as cinzas liberadas por uma erupção vulcânica de grande escala na Ilha Nishinoshima — que faz parte das Ilhas Ogasawara, no Japão.

Para isso, eles analisaram imagens de satélite de clorofila-a ao redor das Ilhas Ogasawara no período da erupção. Tais imagens foram obtidas do sensor Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) do satélite Aqua da agência NASA, e também do satélite meteorológico japonês Himawari-8 da agência espacial japonesa JAXA.

Essa erupção ocorreu entre dezembro de 2019 e julho de 2020, liberando uma quantidade substancial de cinzas no oceano. Estudos anteriores mostraram que houve aumento do fitoplâncton próximo ao local do vulcão, porém, os efeitos dessas cinzas em áreas mais distantes não eram bem compreendidos, até agora.

imagem de satélite mostrando fitoplâncton no oceano
Imagem de satélite mostra fitoplâncton florescendo na superfície do oceano, formando uma faixa de cor leitosa azulada (abaixo, à direita). Crédito: Divulgação/NASA.

Os pesquisadores descobriram que as cinzas desta erupção foram transportadas pelo vento e pelas correntes oceânicas para as águas ao redor da Ilha Mukojima, localizada 130 km a nordeste de Nishinoshima, servindo como fonte de nutrientes para o crescimento do fitoplâncton também naquela área.

Logo, essa descoberta sugere que as cinzas vulcânicas podem aumentar a proliferação das águas marinhas mesmo a distâncias consideráveis do local vulcânico.

fitoplâncton
Representação do fitoplâncton no mar, organismos microscópicos que são capazes de armazenar gás carbônico e liberar oxigênio. Crédito: Divulgação.

Os pesquisadores também fizeram simulações numéricas com um modelo oceânico global, as quais corroboraram os resultados. O aumento de clorofila observado perto de Mukojima em 4 de julho de 2020 foi devido às cinzas vulcânicas liberadas pelo vulcão de Nishinoshima em 28 de junho, seis dias antes.

Joji Ishizaka, professor na Universidade de Nagoya e coautor do estudo, explicou em um comunicado como isso aconteceu:

As cinzas vulcânicas da erupção foram liberadas na atmosfera e caíram junto com a fumaça em direção ao nordeste. A água do mar contendo cinzas então viajou aproximadamente 130 km até Mukojima. Durante essa jornada, as cinzas atuaram como nutriente, promovendo o crescimento do fitoplâncton. Consequentemente, observamos um aumento significativo no fitoplâncton ao redor de Mukojima seis dias depois.

Esta pesquisa mostrou que os nutrientes das erupções vulcânicas podem impulsionar o crescimento do fitoplâncton mesmo em pontos distantes do local da erupção, e contribui para pesquisas futuras sobre os efeitos da atividade vulcânica nos ecossistemas locais.

Referências da notícia

Relation between eruption at Nishinoshima and chlorophyll-a concentration at Ogasawara Islands in 2020. 30 de setembro, 2025. Katada, et al.

Volcanic ash may enhance phytoplankton growth in the ocean over 100 km away. 02 de outubro, 2025. Gaby Clark.