Cientistas brasileiros descobrem plantas que removem metais pesados do solo para limpar zonas contaminadas

As plantas hiperacumuladoras de metais pesados podem ser uma solução promissora para a descontaminação de solos, pois absorvem uma quantidade muito maior de metais do que outras espécies.

A planta Pycnandra acuminata (foto) já é usada comercialmente para agromineração na Indonésia. Crédito: Henry Benoît/Biodiversity4all.

Pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no Recife, procuram no Brasil plantas que acumulam altos teores de metais pesados, as chamadas hiperacumuladoras, para promover a chamada agromineração: o uso de plantas para extrair metais de solos contaminados e comercializá-los, atendendo aos preceitos da economia circular.

O projeto foi apresentado em uma palestra na 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) , no campus da UFRPE, em Recife, no dia 14 de julho.

Procurando por hiperacumuladoras

Os pesquisadores realizaram várias expedições em campo e análises de coleções de herbários pelo país para identificar espécies de plantas raras e de alto interesse econômico - as hiperacumuladoras de metais.

Trata-se de espécies que absorvem do solo os metais pesados níquel, zinco, cobre, manganês e outros minérios de alto valor comercial em concentrações centenas ou milhares de vezes maiores em comparação com outras plantas. E por isso elas têm sido usadas para promover a agromineração.

Estima-se que as plantas hiperacumuladoras de metais representem apenas 0,2% de todas as plantas conhecidas atualmente.

“O trabalho de identificar essas plantas é como tentar encontrar agulha no palheiro (...) Mas já encontramos algumas espécies de plantas hiperacumuladoras de níquel, zinco e manganês no país – incluindo algumas novas, que eram desconhecidas (...)”, comentou durante a palestra Clístenes Williams Araújo do Nascimento, professor da UFRPE e pioneiro no desenvolvimento da técnica no Brasil.

Plantas que “exalam” metal: a agromineração. Na foto, a espécie phyllanthus Balgooyi descoberta na selva das Filipinas, com a seiva exalando um brilho verde, composta de até 9% de níquel. Crédito: Divulgação.

Nascimento explicou ainda que essas espécies são adaptadas ao clima temperado e tropical, mas no Brasil, ainda não foi identificada uma hiperacumuladora ideal. “ (...) Estamos promovendo uma verdadeira caça por todo o país, que tem grande potencial para essa área porque tem a maior biodiversidade de plantas do planeta”, disse ele.

Claro, já foram encontradas algumas opções, mas nenhuma ideal, como por exemplo, uma planta que Nascimento e seus colegas identificaram em Pernambuco em 2024, uma espécie de conhecida popularmente como feijão-bravo-preto ou folha-dura (Capparidastrum frondosum), capaz de acumular quantidades de zinco.

Entre as plantas ‘hiperacumuladoras” está a espécie rhinorea bengalensis, que absorve cálcio (em vermelho), níquel (verde) e cobalto (azul). Crédito: Dr. Antony Van Der Ent.

E o pesquisador explicou também que não adianta uma planta concentrar muito metal, mas ser pequena, pois vai produzir pouca biomassa.

Para ser considerada uma planta hiperacumuladora, a espécie precisa ter a capacidade de absorver mais de 100 microgramas por grama de cádmio, ou mais de 300 de cobalto, mais de mil de níquel, 3 mil de zinco e 10 mil de manganês. No caso do níquel, por exemplo, para ser considerada eficiente para a agromineração, a planta candidata precisa poder produzir 10 toneladas do metal por hectare.

Referências da notícia

Planta que 'come' metal pode ser solução para solos contaminados. 19 de julho, 2025. Vitória Rosendo.

Pesquisadores buscam encontrar no Brasil plantas que acumulam altos teores de metais para agromineração. 16 de julho, 2025. Elton Alisson.