Acidificação dos oceanos: o que realmente significa ultrapassar o sétimo limite planetário?
É oficial: sete dos nove limites vitais da Terra estão fora da "zona segura", de acordo com o Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (PIK).

A lista de limites planetários ultrapassados continua crescendo: a acidificação dos oceanos foi oficialmente adicionada aos seis já ultrapassados. Esta avaliação, liderada pelo Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (PIK) e por Johan Rockström, ilustra um quadro preocupante: dos nove processos-chave que mantêm o equilíbrio da Terra, sete estão agora fora da "zona segura".
Em apenas quatro anos, quatro limites foram ultrapassados. Para a pesquisadora Natacha Gondran, essa transgressão é particularmente grave: ela enfraquece o papel vital do oceano, que absorveu grande parte do dióxido de carbono (CO₂) e do nitrogênio que emitimos desde a Revolução Industrial. Em outras palavras, estamos minando o sistema que até então amortecia nossos excessos.
Cada vez que um limite é ultrapassado, a viabilidade da Terra para a humanidade diminui. Cada transgressão nos afasta ainda mais do incrível equilíbrio proporcionado pelo Holoceno, o período que começou há 10.000 anos e é o mais favorável para a humanidade.
O que são limites planetários?
O conceito foi introduzido em 2009 por Johan Rockström e uma equipe internacional de pesquisadores. Ele define um conjunto de nove processos biofísicos dos quais depende a estabilidade do sistema terrestre. Esses limites não são pontos de inflexão claros, mas sim zonas de segurança: ultrapassá-los aumenta drasticamente o risco de desestabilização ecológica e social.
Esses limites não operam isoladamente. A desestabilização de um deles, por exemplo, os ciclos do nitrogênio e do fósforo, intensifica a pressão sobre outros, como o clima ou o oceano. É esse efeito dominó que agrava a situação: a degradação se acelera e se torna cada vez mais irreversível.
La septième limite planétaire franchie : lacidification des océans.
— Les Écologistes - EELV (@EELV) September 25, 2025
La planète nous envoie un signal clair : il est temps dagir. pic.twitter.com/9lryteGLPc
Hoje, sete limites já foram ultrapassados: clima, biodiversidade, uso da terra, ciclos biogeoquímicos (nitrogênio e fósforo), água doce, novas entidades marinhas e acidificação dos oceanos. Os limites restantes são a camada de ozônio, que permanece dentro da zona segura graças aos esforços internacionais, e os aerossóis atmosféricos, cuja poluição já causa 4,2 milhões de mortes prematuras anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Acidificação dos oceanos, em termos simples
O oceano é um imenso sumidouro de carbono: a cada ano, das 40 bilhões de toneladas de CO₂ emitidas, ele absorve aproximadamente 25% a 30% do excesso de CO₂ liberado pela queima de petróleo, gás e carvão. Esse serviço regula o clima, reduzindo o pH da água e, consequentemente, aumentando a acidez oceânica. Desde o início da era industrial, o pH na superfície do oceano já diminuiu em cerca de 0,1, o que equivale a um aumento da acidez entre 30% e 40%.
O principal indicador é a saturação de aragonita (Ω), uma forma de carbonato de cálcio utilizada por corais, moluscos e crustáceos para formar suas conchas e esqueletos. Abaixo de um limiar crítico, esses organismos não conseguem mais sobreviver. O limiar global foi estabelecido em 2,86, ou 80% do valor pré-industrial (3,57). Ultrapassar esse limiar indica que as condições estão se tornando corrosivas para algumas espécies marinhas.
Quando o oceano sofre...
A acidificação dos oceanos não é um fenômeno abstrato: seus efeitos já são visíveis. O branqueamento em massa dos recifes de coral, como o da Grande Barreira de Corais, ilustra a gravidade da situação. Os moluscos estão tendo dificuldade para formar suas conchas e certas espécies de plâncton, a base da cadeia alimentar, estão diretamente ameaçadas. Os organismos marinhos estão gastando mais energia para regular sua química interna, o que reduz seu crescimento, reprodução e resistência a outros fatores de estresse.
Os peixes sofrem as consequências: perda do olfato, desorientação e alteração de comportamento. O enfraquecimento da vida marinha implica em menor resiliência dos ecossistemas e graves impactos econômicos e sociais, especialmente para as populações costeiras que dependem da pesca e do turismo.
Como esperado!
Ultrapassar esse limite não é uma surpresa: os pesquisadores já previam isso há muito tempo, assim como previram que o limite de aquecimento global de 1,5°C seria ultrapassado. Existem soluções, mas elas exigem ações globais rápidas: uma eliminação acelerada dos combustíveis fósseis, a proteção de florestas e áreas úmidas, uma redução drástica das emissões agrícolas e uma mudança profunda em nossos padrões de consumo.
Durante a apresentação deste relatório de 144 páginas na ONU, Johan Rockström e outros cientistas enfatizaram a necessidade urgente de os governos darem ouvidos à ciência.
Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia, e Mary Robinson, figura proeminente na luta pela justiça climática, ressaltaram que todas as decisões orçamentárias e políticas devem ser avaliadas com base em sua capacidade de manter o planeta dentro de seus limites.
Referências da notícia
La 7e limite planétaire est officiellement dépassée : l’acidification des océans. 24 de setembro, 2025. Wagner, T.
Planetary Health Check 2025: A scientific assessment of the state of the planet. 24 de setembro, 2025. Rockström, et al.
La septième a été franchie : quelles sont les neuf limites planétaires et pourquoi leur dépassement doit nous inquiéter. 25 de setembro, 2025. Elise De M.