Por que os planetas do Sistema Solar possuem as órbitas inclinadas?

Pesquisadores usaram dados do projeto exoALMA para entender como as órbitas dos planetas são formadas e porquê são inclinadas.

Os planetas possuem órbitas inclinadas e astrônomos usam dados do ALMA para conseguir explicar o motivo.
Os planetas possuem órbitas inclinadas e astrônomos usam dados do ALMA para conseguir explicar o motivo.

Ao olhar para as ilustrações das órbitas dos planetas, temos a impressão de que elas são completamente alinhadas em um plano ao redor do Sol. No entanto, as órbitas possuem inclinações em relação ao plano do Sol algumas segundo pequenas, como a da Terra, e outras sendo mais extremas como a do planeta anão, Plutão. Essas inclinações indicam processos que aconteceram quando o Sistema Solar estava se formando.

Como não conseguimos observar diretamente todos os planetas do Sistema Solar no plano do Sol, é difícil conseguir ter uma noção de como foi esse processo. Por isso, o estudo de discos protoplanetários no Universo são importantes para entendermos como o Sistema Solar surgiu. Esses discos são o berço dos planetas e contêm todo o material que forma os sistemas planetários.

Um grupo de astrônomos publicou um estudo na revista Astrophysical Journal Letters comparando modelos teóricos de discos protoplanetários com dados obtidos pelo exoALMA. O estudo sugere que distorções e interações gravitacionais no disco durante a formação dos planetas foram responsáveis pelas inclinações observadas nas órbitas do Sistema Solar. Esses resultados ajudam a explicar como pequenas perturbações iniciais podem gerar a configuração orbital inclinada que vemos hoje.

Inclinação das órbitas

Como sabemos, as órbitas dos planetas no Sistema Solar não são completamente alinhadas e apresentam pequenas inclinações em relação ao plano de referência do Sol. A órbita da Terra, por exemplo, está levemente inclinada em relação ao plano do Sol. Alguns anos atrás, alguns astrônomos argumentaram que a inclinação da órbita da Terra seria por causa da influência de uma estrela que passou próxima.

Essa aproximação teria causado pequenas perturbações gravitacionais que causaram uma mudança gradual no plano orbital da Terra ao longo de milhões de anos.

Essas perturbações poderiam ter afetado outros planetas também e causado a inclinação de vários deles. No entanto, a influência de uma estrela isolada não consegue explicar o fenômeno em todos os planetas do Sistema Solar. Uma outra hipótese sugere que há fatores adicionais, como por exemplo perturbações no disco protoplanetário que originou o Sistema Solar, que deram origem à essa configuração.

Projeto exoALMA

O projeto exoALMA é uma iniciativa que utiliza o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) para estudar discos em torno de estrelas jovens. O objetivo é entender a formação de sistemas planetários e a evolução do material que dá origem aos planetas. Com isso, o projeto permite que os astrônomos consigam comparar diferentes sistemas e entender como fatores físicos influenciam a configuração final dos planetas.

Observações de discos planetários pelo projeto do ALMA conseguiram capturar perturbações e distorções que causariam a inclinação dos planetas. Crédito: Winter et al. 2025
Observações de discos planetários pelo projeto do ALMA conseguiram capturar perturbações e distorções que causariam a inclinação dos planetas. Crédito: Winter et al. 2025

Um disco protoplanetário é uma estrutura em forma de disco composta por gás e poeira que envolve estrelas recém-formadas. Esse disco contém o material que eventualmente formará planetas, luas e outros corpos do sistema. Observando esses discos, astrônomos podem estudar processos de acreção, migração planetária e formação de planetesimais. As observações do ALMA, que possuem dados de radiação milimétrica e submilimétrica emitida pelo disco, são essenciais para observar esses discos.

Explicação

Com alguns dados do projeto exoALMA, astrônomos perceberam que a inclinação das órbitas pode ser explicada pelo próprio disco protoplanetário. Isso porque algumas observações mostraram que o disco pode estar levemente dobrado ou distorcido, alterando naturalmente o movimento de gás e poeira. Essas deformações influenciariam como a poeira se acumula e como os planetas se estruturam.

Para testar essa hipótese, os pesquisadores usaram mapas de velocidade do gás ao redor de estrelas jovens e compararam com modelos de rotação. Eles trataram os discos como uma série de anéis levemente inclinados, estimando o grau de deformação e comparando entre diferentes sistemas. Eles chegaram à conclusão que uma pequena distorção é comparável às diferenças de inclinação observadas entre os planetas do Sistema Solar.

Relação com a estrela

O grupo também descobriu que o grau de deformação dos discos protoplanetários pode estar ligado à atividade da estrela central. Isso é esperado porque a estrela jovem é quente o suficiente para que a radiação consiga afetar o processo de formação. Esse é um dos motivos por que apenas planetas pequenos e rochosos se formaram perto do Sol. A radiação pode estar associada com a turbulência e perturbação nos discos.

No entanto, para que essa hipótese seja confirmada, mais dados são necessários. O estudo consegue mostrar que a curvatura dos discos é um fator importante na formação e evolução dos planetas. Esses dados só conseguem ser comparados com simulações numéricas e modelos de formação. Por isso, é necessário que tenha observações de diferentes estágios do disco protoplanetário.

Referência da notícia

Winter et al. 2025 exoALMA. XVIII. Interpreting Large-scale Kinematic Structures as Moderate Warping The Astrophysical Journal Letters