Nova análise de amostras da Lua da Apollo 17 pode contar uma nova versão da história do solo lunar
Nova análise realizada por geofísicos em amostras lunares pode contar uma nova versão da história do solo lunar.

As missões Apollo foram realizadas pela NASA entre os anos de 1969 e 1972. Ao todo foram 11 missões tripuladas onde a mais famosa foi a missão Apollo 11 onde a humanidade chegou na superfície lunar pela primeira vez. No entanto, as missões não foram apenas para levar astronautas à Lua, mas também para entender mais sobre o nosso satélite natural desde sua composição até suas características.
Com isso, algumas das missões trouxeram de volta centenas de quilos de rochas e solo lunar. Quando as amostras chegaram à Terra, elas foram distribuídas para análises científicas em diferentes laboratórios. Algumas delas, acabaram sendo armazenadas sem serem abertas para que pudessem estudá-las no futuro com tecnologias mais avançadas. Essas amostras lunares ajudam a entender a evolução lunar porque fornecem pistas diretas sobre a história geológica da Lua.
Um novo estudo trouxe à tona resultados da reanálise da amostra 76535, coletada pela missão Apollo 17 em 1972. Essa rocha, armazenada por décadas, foi reanalisada com métodos mais modernos junto com simulações computacionais. Os pesquisadores queriam responder algumas perguntas em aberto sobre a localização dessa rocha e como ela foi formada. Com o estudo, eles descobriram detalhes que ajudam a entender a história da Lua e também a nossa própria história.
Missão Apollo 17
Muitas pessoas acreditam que a Apollo 11 foi a única missão que chegou a colocar astronautas andando no solo lunar. Isso está bem longe da verdade porque, depois da Apollo 11, outras missões colocaram astronautas na Lua como, por exemplo, a Apollo 17 que foi a última missão tripulada da NASA à Lua. Ela aconteceu no dia 7 de dezembro de 1972 e foi composta por Eugene Cernan, Harrison Schmitt e Ronald Evans.
A missão pousou no vale Taurus-Littrow, uma região que foi escolhida para poder estudar características geológicas de montanhas antigas e depósitos de material vulcânico. Um dos principais objetivos da Apollo 17 foi a coleta de amostras lunares, e a missão trouxe cerca de 110 quilos de rochas e solo para a Terra. Entre essas amostras estavam rochas de diferentes idades e composições.
Mistério da amostra
Algumas das amostras que os astronautas da Apollo 17 coletaram foram analisadas imediatamente quando retornaram à Terra. Já outras foram armazenadas para serem estudadas no futuro com tecnologia mais avançada. No entanto, uma dessas amostras, conhecida como 76535, trouxe mais perguntas do que respostas para pesquisadores. Ela foi encontrada a quase 50 quilômetros de profundidade mas apresentava nenhum sinal de choques que são característicos de rochas profundas.
Os pesquisadores concordaram que a química e textura indicam que ela se originou nas profundezas da crosta lunar. No entanto, a falta de sinais de ter originado na parte mais profunda intrigava os pesquisadores. Estudos anteriores sugeriram que um impacto, como o que criou a Bacia Polo Sul-Aitken, poderia trazer à tona rochas mais profundas e poderia ter colocado a amostra 76535 onde ela foi encontrada.
Novo estudo
Com esse enigma em mente, um grupo de pesquisadores reanalisou dados da amostra 76535 junto com a ajuda de simulações computacionais. As simulações eram de impactos que a Lua pode ter sofrido durante sua vida. Um desses impactos seria o que formou a Bacia Serenitatis e que poderia ter trazido a rocha à superfície durante as fases finais de sua formação. Essa abordagem acaba sendo mais simples do que as hipóteses propostas durante essas décadas.

Os resultados da análise e dos dados computacionais indicam que esse impacto ocorreu há cerca de 4,25 bilhões de anos. Isso coloca que o impacto aconteceu aproximadamente 300 milhões de anos antes do que se estimava. As simulações mostraram que, quando esse colapso que formou uma cratera gigante aconteceu, material que estava mais profundo na superfície da Lua podem ter sido trazidos à tona de forma lenta.
Como ajuda a entender sobre a Terra?
Um ponto importante do estudo é que entender a história geológica da Lua ajuda a entender a história geológica da Terra. Isso porque, muitas vezes, os geofísicos acabam se baseando na história lunar para entender a terrestre. A superfície da Terra se modificou muito por causa da atividade tectônica, outros processos geológicos e até pela interação com a atmosfera. Diferente do que acontece com a Lua que a superfície é um pouco mais preservada do que aqui.
Se a amostra 76535 mostra que o impacto que criou a Bacia Serenitatis ocorreu há 4,25 bilhões de anos, isso sugere que algumas crateras também podem ser mais antigas do que se estimava. Essas descobertas podem levar os cientistas a reconsiderar a velocidade de resfriamento da Lua e a frequência de grandes impactos no Sistema Solar interno. Estudar a história lunar nos ajuda a entender eventos similares que afetaram a Terra.
Referência da notícia
Bjonnes et al. 2025 Evidence for an Early Formation of Serenitatis Basin at 4.25 Ga Shifts Lunar Chronology Geophysical Research Letters