Exoplaneta está crescendo a uma velocidade de 6 bilhões de toneladas por segundo!

Um exoplaneta errante está se alimentando de gás e poeira em uma velocidade impressionante e foi observado pelo VLT do ESO.

Exoplaneta errante maior do que Júpiter ainda está crescendo e se alimentando de 6 bilhões de toneladas por segundo. Crédito: NASA
Exoplaneta errante maior do que Júpiter ainda está crescendo e se alimentando de 6 bilhões de toneladas por segundo. Crédito: NASA

Objetos no Universo podem crescer através de um processo que é chamado de acreção. Isso acontece quando o objeto central acaba atraindo material que está em seu ambiente e acumulando fazendo o objeto central crescer. Planetas crescem por esse processo já que durante sua formação, eles atraem gás, poeira e pequenos corpos aumentando gradualmente de tamanho. Esse processo pode continuar mesmo depois que o planeta já está formado, caso ele ainda esteja em uma região rica de poeira e gás.

Os planetas errantes são corpos que não estão ligados gravitacionalmente a nenhuma estrela ou objeto. Eles vagam pelo espaço interestelar após terem sido ejetados de seus sistemas de origem ou formados isoladamente. Apesar de parecerem condenados ao isolamento, esses planetas podem acabar atravessando nuvens de gás e poeira permitindo que eles voltem a acumular matéria e crescer.

Usando dados do Very Large Telescope (VLT) do ESO, um grupo de astrônomos detectou um exoplaneta errante que está se alimentando com uma velocidade surpreendente. Ele consome cerca de 6 bilhões de toneladas de gás e poeira por segundo sendo a maior taxa de acreção já registrada para qualquer planeta. A descoberta estabeleceu um novo recorde para taxa de acreção de planetas e também ajuda a entender como os planetas podem evoluir mesmo longe de um sistema planetário.

Planetas errantes

Planetas errantes são exoplanetas que vagam sozinhos pelo espaço e não orbitam nenhuma estrela ou objeto. Esses objetos acabam viajando livremente e a única luz que consegue iluminá-los é a luz emitida por estrelas e galáxias distantes. Por causa disso, observar um planeta errante é um desafio dentro da Astronomia porque a luz refletida por eles acaba sendo extremamente fraca.

Alguns telescópios conseguem observá-los por meio de técnicas como microlente gravitacional ou pela emissão de calor residual, visível no infravermelho.

Há diferentes hipóteses de como um planeta errante pode surgir, uma delas é que eles se formam dentro de sistemas planetários e são ejetados devido a interações com outras estrelas ou planetas gigantes. Outra hipótese é de que eles já nascem isoladamente, a partir do colapso direto de nuvens de gás e poeira. Essas diferentes hipóteses podem indicar que há mais planetas errantes pela galáxia do que o esperado.

Processo de acreção

O processo de acreção é um fenômeno astrofísico bastante comum no qual um objeto ganha massa ao atrair e acumular matéria de seu entorno. Esse material é puxado pela força da gravidade e, ao se aproximar do corpo central, forma um disco de acreção. Esse processo é comumente observado em objetos extremos, como buracos negros, estrelas de nêutrons e anãs brancas, onde são observados radiação intensa por causa da energia liberada durante o processo.

Entretanto, a acreção não ocorre apenas em buracos negros e em outros objetos extremos como eles. Os planetas também crescem por meio desse mesmo processo, embora em escalas muito menores. Durante a formação de um sistema planetário, aglomerados de matéria aumentam sua gravidade, atraindo mais gás e poeira, o que permite que evoluam até se tornarem planetas completos. Esse mecanismo de crescimento por acreção explica até mesmo a formação do planeta Terra.

6 bilhões de toneladas por segundo!

Astrônomos publicaram recentemente que observaram um objeto que está tendo um surto de crescimento. As observações, realizadas com o VLT do ESO, mostraram que esse planeta errante está se alimentando de gás e poeira ao seu redor a uma taxa impressionante de 6 bilhões de toneladas por segundo. Esse é o maior ritmo de crescimento já registrado para qualquer tipo de planeta.

Grupo de astrônomos encontram exoplaneta que está se alimentando a uma taxa de acreção enorme e descobre que essa taxa varia com o tempo. Crédito: Almendros-Abad et al. 2025
Grupo de astrônomos encontram exoplaneta que está se alimentando a uma taxa de acreção enorme e descobre que essa taxa varia com o tempo. Crédito: Almendros-Abad et al. 2025

O objeto estudado, chamado oficialmente de Cha 1107-7626, tem uma massa estimada entre 5 e 10 vezes a de Júpiter. Ele está localizado a cerca de 620 anos-luz de distância na direção da constelação de Camaleão. O impressionante é que mesmo sendo gigante, esse planeta ainda está em formação e é alimentado por um disco de gás e poeira que o circunda. No entanto, a taxa de alimentação não é constante, ano passado, o planeta estava acretando mais rápido do que apenas alguns meses antes.

Semelhanças com estrelas

Ao comparar a luz emitida antes e durante o surto de acreção, os astrônomos conseguiram entender um pouco melhor sobre esse evento inédito. A atividade magnética parece ter desempenhado um papel nesse processo, algo que só havia sido observado em estrelas antes. Isso sugere que até mesmo objetos de baixa massa podem possuir campos magnéticos capazes de impulsionar eventos de acreção.

Além disso, a equipe observou mudanças na química do disco ao redor do planeta durante o episódio. Com as observações, eles encontraram vapor d’água durante o surto que não foi observado antes. Isso aproxima ainda mais a formação de planetas e de estrelas já que eles vem de um processo semelhante. Essa nova descoberta mostra que um planeta pode agir de forma semelhante à uma estrela.

Referência da notícia

Almendros-Abad et al. 2025 Discovery of an Accretion Burst in a Free-Floating Planetary-Mass Object The Astrophysical Journal Letters