Anatomia da morte de uma estrela! Novas observações mostram detalhes da morte de estrela igual ao Sol

Observações do James Webb mostraram detalhes do interior da Nebulosa da Borboleta que deu respostas sobre o que acontecerá com o Sol e como metais são espalhados no meio interestelar.

A Nebulosa da Borboleta é uma velha conhecida dos astrônomos e James Webb pode ter respondido algumas perguntas sobre a estrutura. Crédito: NASA/Hubble
A Nebulosa da Borboleta é uma velha conhecida dos astrônomos e James Webb pode ter respondido algumas perguntas sobre a estrutura. Crédito: NASA/Hubble

Quando estrelas como o Sol chegam ao final de suas vidas, elas não terminam em supernovas como muitas pessoas acham. As supernovas acontecem apenas com estrelas muito mais massivas onde a parte externa é ejetada e a parte interna é colapsada. Em vez disso, estrelas como o Sol, ao esgotar seu combustível nuclear, passa pela fase de gigante vermelha, expandindo suas camadas externas e liberando grande parte para o espaço.

Esse processo pelo qual o Sol passará um dia, e que todas estrelas semelhantes a ele passam, é um processo muito menos violento em comparação com supernovas. Esse material expelido forma estruturas bem coloridas conhecidas como nebulosas planetárias. As nebulosas são compostas por gás e poeira que brilham devido à radiação emitida pela estrela que resta no centro. No núcleo da nebulosa, resta apenas uma anã branca que é a forma final de estrelas menores.

Um exemplo desse processo que tem chamado atenção de astrônomos por décadas é a Nebulosa da Borboleta. Essa nebulosa foi formada após a morte de uma estrela semelhante ao Sol indicando o que acontecerá com a nossa estrela no futuro. Recentemente, o telescópio James Webb observou detalhes dessa nebulosa justamente no centro dela, onde a remanescente permanece. Isso ajuda a ter ideia do que acontecerá com o Sol e como o material expelido por estrelas pode dar origem a novas estrelas e sistemas planetários.

Morte de um estrela pequena

A ideia mais comum é que toda estrela termina como supernova, mas esse não é o caso para maioria das estrelas. Apenas estrelas muito massivas terminam seus dias como supernovas que formam estrelas de nêutrons e buracos negros no seu centro. O Sol, como outras estrelas de massa média, terminam suas vidas de uma forma bem menos violenta que uma supernova. O primeiro passo é chamado de gigante vermelha.

No estágio de gigante vermelha, o Sol aumentará de tamanho engolindo planetas próximos e perderá suas camadas externas lentamente para o espaço. Esse processo libera quantidades de gás e poeira de forma gradual.

Ao final desse processo que demora milhões de anos, o que resta é apenas uma anã branca. A energia dessa anã branca ilumina o material expelido formando essas nebulosas planetárias que são conhecidas pela cor e formato. Apesar de não ser uma explosão como acontece em supernovas, o processo gradual é importante para enriquecer o espaço com elementos que a estrela formou durante a vida e formará novas estrelas e planetas.

Nebulosa da Borboleta

Uma dessas nebulosas que tem sido um objeto de estudo importante para astrônomos entenderem o processo é a Nebulosa da Borboleta, também conhecida como NGC 6302. Essa nebulosa foi formada quando uma estrela semelhante ao Sol chegou ao final de sua vida e expulsou as camadas mais externas em forma de gigante vermelha. O que resta no centro dessa nebulosa é uma anã branca extremamente quente, que emite radiação capaz de iluminar a nebulosa que tem um formato de borboleta.

Por causa desse formato que lembra uma borboleta com asas abertas, a simetria da nebulosa chama atenção de muitos astrônomos desde as primeiras observações do Hubble. Algumas observações recentes do telescópio James Webb revelaram detalhes da estrutura e da composição dos gases presentes na nebulosa. Isso ajuda astrônomos a entender melhor os processos que ocorrem quando estrelas de massa média, como o Sol, morrem.

Novas observações

As novas imagens do telescópio James Webb mostram detalhes do centro da Nebulosa da Borboleta e de seu anel de poeira, conhecido como toro. As observações foram feitas usando o instrumento de infravermelho médio e mostraram que esse toro contém silicatos cristalinos, como quartzo, e grãos de poeira. Fora dessa região, a emissão de diferentes átomos e moléculas mostra que elementos que exigem mais energia para ionizar estão próximos ao centro, enquanto os que precisam de menos energia estão longe.

Detalhes do centro da Nebulosa da Borboleta mostram como ela foi formada, como os elementos são espalhados pelo meio interestelar e qual é o futuro do Sol. Crédito: Matsuura et al. 2025
Detalhes do centro da Nebulosa da Borboleta mostram como ela foi formada, como os elementos são espalhados pelo meio interestelar e qual é o futuro do Sol. Crédito: Matsuura et al. 2025

A espectroscopia dos dados observacionais ajudou a identificar com detalhes a distribuição de elementos na nebulosa. Os astrônomos responsáveis por essa análise conseguiram localizar, pela primeira vez, a estrela anã branca central, responsável por aquecer a nuvem de poeira ao seu redor. Essa estrela é uma das anãs brancas mais quentes já registradas em nebulosas planetárias, atingindo cerca de 220.000 Kelvin.

Ciclo galáctico

Outro ponto importante nas observações da Nebulosa da Borboleta é sobre como essas estrelas médias podem contribuir com a dispersão de material no meio interestelar. Quando elas vão liberando as camadas em um processo de milhões de anos, o meio interestelar é enriquecido com com elementos mais pesados. Esses elementos foram formados no processo de fusão durante a vida da estrela.

Com o tempo, esse material que foi liberado se mistura ao gás e à poeira presentes no espaço, aumentando a densidade de certas regiões. A gravidade faz essas regiões colapsarem, formando novas nuvens moleculares que poderão formar estrelas e planetas futuramente. Nessas nuvens, os elementos pesados se juntam a discos de gás e poeira que dão origem a planetas e estrelas formando um ciclo galáctico.

Referência da notícia

Matsuura et al. 2025 The JWST/MIRI view of the planetary nebula NGC 6302 – I. A UV-irradiated torus and a hot bubble triggering PAH formation Monthly Notices of the Royal Astronomical Society