Tecnologia na poda: software da USP que evita quedas de árvores nas cidades

Quedas de árvores em cidades podem ser evitadas com podas inteligentes. Pesquisadores da USP desenvolveram um software que usa IA e modelagem 3D para cortes precisos, reduzindo riscos e preservando o verde urbano.

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Prefeituras já demonstram interesse na tecnologia, que promete revolucionar o manejo urbano de áreas verdes.

Nos últimos anos, a queda de árvores em áreas urbanas tem causado prejuízos, bloqueado ruas e até colocado vidas em risco. Em um país onde os temporais e ventos fortes são cada vez mais frequentes, o cuidado com o verde urbano se torna uma questão de segurança pública. Diante desse cenário, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) vêm se dedicando a entender as causas dessas quedas e a desenvolver soluções tecnológicas para evitá-las.

Um dos resultados é um software pioneiro que combina scanner a laser e IA para simular podas e ventos.

A inovação é resultado de anos de pesquisa sobre os fatores que levam uma árvore a cair. A análise começou com a observação de centenas de casos de quedas em bairros centrais da capital paulista. A partir dessas informações, os cientistas identificaram padrões e criaram ferramentas que agora combinam escaneamento a laser, modelagem 3D e inteligência artificial. O objetivo é claro: tornar as podas mais inteligentes, garantindo que o manejo urbano preserve o equilíbrio natural das árvores, em vez de enfraquecê-las

Entendendo o problema: por que as árvores caem?

A primeira fase da pesquisa envolveu um mapeamento detalhado das árvores que caíram nos bairros da região central de São Paulo. A equipe avaliou quase 500 ocorrências e descobriu que as quedas não são causadas apenas por eventos climáticos extremos. Muitas vezes, as raízes já estavam comprometidas ou o tronco apresentava sinais de apodrecimento antes mesmo do incidente.

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Raízes comprimidas, podas drásticas e madeira degradada estão entre os vilões silenciosos das quedas nas cidades.

Três fatores se destacaram como os principais responsáveis pelas quedas: o estado da madeira (quando há fungos ou cavidades internas), o estrangulamento das raízes (causado por calçadas apertadas ou obras mal planejadas) e as podas mal feitas, que desbalanceiam a copa e enfraquecem a estrutura da planta. Esses elementos, somados, revelam que o problema é tão urbano quanto natural, e precisa de soluções que considerem ambos os lados.

A ciência como aliada do manejo urbano

Com base nesses dados, os pesquisadores da USP desenvolveram um sistema inovador que pode transformar a forma como as cidades lidam com suas árvores. O processo começa com um escaneamento tridimensional, feito com um equipamento a laser que captura a forma da árvore em detalhes. Em seguida, entra em cena um algoritmo capaz de simular como a árvore reagiria a diferentes tipos de poda.

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Escaneamento em 3D revela os pontos de maior risco na estrutura da árvore antes mesmo que ela apresente sinais visíveis de fragilidade.

Essa simulação permite que técnicos identifiquem os cortes mais seguros e eficazes, sem comprometer a estabilidade da planta. Além de preservar a saúde da árvore, o sistema ajuda a prevenir acidentes, especialmente em áreas com grande circulação de pessoas. Os primeiros testes foram realizados dentro do campus da USP e mostraram resultados animadores: podas orientadas pelo software mantiveram o equilíbrio da árvore, enquanto cortes tradicionais aumentaram os riscos de queda.

Benefícios e possibilidades: o futuro do verde urbano

A aplicação desse tipo de tecnologia nas cidades brasileiras pode trazer ganhos reais em termos de segurança, sustentabilidade e planejamento urbano. A integração entre ciência, tecnologia e meio ambiente abre espaço para soluções mais inteligentes, que respeitam o ritmo da natureza e evitam intervenções desnecessárias.

Entre os principais benefícios do uso do software, destacam-se:

  • Redução de quedas e acidentes causados por árvores mal podadas
  • Melhoria na saúde e longevidade das árvores urbanas
  • Planejamento mais eficiente por parte das prefeituras
  • Economia de recursos públicos com remoções e reparos
  • Maior consciência ambiental na gestão urbana

Essa iniciativa já despertou o interesse de várias prefeituras, incluindo a de São Paulo, e pode se tornar referência no manejo de áreas verdes em todo o país. Além disso, o próximo passo dos pesquisadores é integrar o software com dados meteorológicos, tornando possível prever o impacto do vento em cada árvore de forma personalizada.

Ao unir conhecimento botânico com engenharia e tecnologia, esse projeto mostra como é possível cuidar das árvores sem comprometer a segurança das pessoas.