Retrospectiva climática: os eventos extremos que marcaram o Brasil em 2025

Tempestades severas, tornados, nevascas, ondas de calor e chuvas torrenciais: o ano de 2025 foi repleto de eventos extremos. Relembre alguns dos mais marcantes.

O ano de 2025 entrará para a história como o segundo ou terceiro mais quente da história - e deixando dezenas de eventos extremos no Brasil.
O ano de 2025 entrará para a história como o segundo ou terceiro mais quente da história, e deixando um rastro de eventos extremos no Brasil.

O ano de 2025 pode se tornar o segundo mais quente da história, superando 2023, de acordo com o Serviço Europeu de Mudanças Climáticas, o Copernicus. Estudos mostram que o aumento das temperaturas globais aumenta também a frequência e a intensidade de eventos extremos. Aqui vamos relembrar alguns dos eventos climáticos extremos que se destacaram no Brasil ao longo deste ano.

Janeiro: calor extremo inaugura um ano de recordes no Brasil e no mundo

O ano iniciou com um recorde global: este foi o Janeiro mais quente da história dos registros, com 1,75°C acima da média do período pré-industrial (1850-1900). No Brasil, em meio a primeira onda de calor do ano, a cidade de Quaraí, na região da Campanha no Rio Grande do Sul, registrou a maior temperatura do país no dia 23: 42,4°C na estação oficial do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Quaraí (RS) foi castigada pela primeira onda de calor do ano. Créditos: Reprodução/Paulo Ortiz/NNTV.
Quaraí (RS) foi castigada pela primeira onda de calor do ano. Créditos: Reprodução/Paulo Ortiz/NNTV.

Dias depois, no início de Fevereiro, Quaraí (RS) quebrou o recorde histórico, da história das medições em todo o Rio Grande do Sul, alcançando 43,8°C.

Fevereiro: chuvas extremas na grande Recife deixam 7 mortos

No início de Fevereiro, a capital pernambucana foi atingida por tempestades com chuvas que superaram a média histórica do mês em apenas 3 horas (cerca de 90 mm). No total, a chuva se aproximou de 200 mm em 24 horas, segundo a Defesa Civil.

Alagamento em Recife (PE). Créditos: Reprodução/Walli Fontenele/Folha de Pernambuco.
Alagamento em Recife (PE). Créditos: Reprodução/Walli Fontenele/Folha de Pernambuco.

As chuvas foram uma combinação de dois sistemas: a Zona de Convergência Intertropical e o vórtice ciclônico de altos níveis. No total, 7 pessoas morreram e centenas ficaram desabrigadas.

Março: enchente do Rio Acre impacta 30 mil pessoas

Ao longo de Março, chuvas intensas causaram enchentes em diversos rios na Região Norte. Na primeira quinzena, a cheia do Rio Acre ultrapassou em quase 3 metros a cota de inundação, afetando mais de 8 mil famílias na capital Rio Branco (AC).

Cheia do Rio Acre. Créditos: Reprodução/Junior Andrade/Rede Amazônica Acre.
Cheia do Rio Acre. Créditos: Reprodução/Junior Andrade/Rede Amazônica Acre.

Embora sem registro de vítimas fatais, estima-se que mais de 30 mil pessoas tenham sido afetadas, causando diversos transtornos.

Abril: chuvas torrenciais em Angra dos Reis

Na primeira semana de Abril, uma tempestade com chuvas extremas atingiu a cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. De acordo com a Defesa Civil, foram registrados 324 mm de chuva em 24 horas, causando deslizamentos de terra e centenas de desabrigados.

Angra dos Reis alagada após tempestades. Créditos: Aline Massuca/Reuters.
Angra dos Reis alagada após tempestades. Créditos: Aline Massuca/Reuters.

As chuvas extremas foram resultado da passagem de uma frente fria sobre a região. O sistema se intensificou devido às anomalias de temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico, na costa do Sudeste, que estavam até 2°C acima da média, fornecendo um suporte extra de umidade.

Maio: primeiro episódio de neve do ano é registrado no outono

A primeira neve oficial de 2025 foi registrada no dia 29 de Maio, nas Serras Gaúcha e Catarinense. Na Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, o fenômeno chegou a interditar rodovias e cobriu de gelo pelo menos 3 municípios do estado.

Neve em Bom Jardim da Serra (SC), no fim de maio. Créditos: Reprodução/Redes Sociais.
Neve em Bom Jardim da Serra (SC), no fim de maio. Créditos: Reprodução/Redes Sociais.

Embora o início de Junho marque também o início do inverno, a primeira neve do ano foi registrada oficialmente ainda durante o outono, em meio a uma forte onda de ar polar que derrubou as temperaturas na América do Sul.

Junho: enchentes de grandes proporções no Rio Grande do Sul

Praticamente um ano após as enchentes históricas ocorridas no Rio Grande do Sul, em Maio de 2024, um novo episódio de chuvas torrenciais estacionárias sobre o estado gaúcho causaram enchentes de grandes proporções, afetando mais de 100 municípios e deixando 5 mortos e 1 desaparecido, nunca encontrado.

Jaguari (RS) decretou calamidade pública devido à enchente do Rio Jaguari. Créditos: Reprodução/Andressa Gampert/ Prefeitura de Jaguari.
Jaguari (RS) decretou calamidade pública devido à enchente do Rio Jaguari. Créditos: Reprodução/Andressa Gampert/ Prefeitura de Jaguari.

Em algumas cidades na região central do estado, a enchente foi pior do que em 2024. No total, 5 rios ultrapassaram a cota de inundação e a água do Rio Guaíba voltou a invadir Porto Alegre.

Julho: frio histórico deixa o Rio Grande do Sul abaixo de zero

O inverno de 2025 foi marcado por algo que deveria ser comum, mas que estava sumido nos últimos anos: o frio. Entre o final de Junho e o início de Julho uma massa de ar polar intensa derrubou os termômetros em todo o cone sul da América do Sul, trazendo as temperaturas mais baixas das últimas décadas em diversas regiões.

Geada congelou a vegetação em Sobradinho (RS). Créditos: Iara Krisna Puntel.
Geada congelou a vegetação em Sobradinho (RS). Créditos: Iara Krisna Puntel.

No dia 1º de Julho, o estado do Rio Grande do Sul amanheceu com praticamente todas as estações oficiais do INMET abaixo de zero. Em Bagé (RS), a mínima de -4,9°C ficou apenas 1°C acima do recorde histórico (-5,9°C) em 1931. No dia 2, geada generalizada foi registrada na Região Sul, com relatos de que o gelo permaneceu no solo até 10h da manhã.

Agosto: neve cobre cidades no Sul do Brasil

Entre os dias 8 e 9 de Agosto, o Brasil registrou seu terceiro episódio de neve do ano, deixando a cidade de São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul, completamente coberta por gelo.

Neve em São José dos Ausentes (RS). Créditos: Reprodução/Prefeitura de São José dos Ausentes.
Neve em São José dos Ausentes (RS). Créditos: Reprodução/Prefeitura de São José dos Ausentes.

Outras cidades também registraram neve neste mesmo dia e o fenômeno esteve relacionado à um ciclone na costa, que disponibilizou umidade, e uma intensa massa de ar frio que trouxe a quinta onda de frio do ano.

Setembro: tempestade severa destrói fábrica da Toyota em São Paulo

O primeiro mês da primavera foi repleto de eventos extremos, desde tempestades severas com tornados a umidade relativa do ar em 4%, com direito a redemoinho de fogo no Brasil Central.

Fábrica da Toyota, em Porto Feliz (SP), completamente destruída após tempestade severa. Créditos: Reprodução/Redes Sociais.
Fábrica da Toyota, em Porto Feliz (SP), completamente destruída após tempestade severa. Créditos: Reprodução/Redes Sociais.

Um grande destaque foi a tempestade severa que atingiu São Paulo. Um fenômeno conhecido como microexplosão (ventos muito fortes que descem da tempestade e se espalham), destruiu completamente a fábrica da Toyota, na cidade de Porto Feliz (SP).

Outubro: crise hídrica em São Paulo

A crise hídrica chegou com força na Grande São Paulo. Com chuvas abaixo da média durante um período prolongado, o Sistema Cantareira alcançou o menor nível desde a grande crise de 2014/2015, com apenas 24% da capacidade.

Imagem aérea da represa Jaguari, parte do Sistema Cantareira. Créditos: Reprodução/Luis Moura/Estadão.
Imagem aérea da represa Jaguari, parte do Sistema Cantareira. Créditos: Reprodução/Luis Moura/Estadão.

Atualmente, o nível é mais crítico do que em dezembro de 2013, que antecedeu a crise histórica, e o Governo do Estado decretou medidas preventivas, como redução de pressão e suspensão de novas concessões.

Novembro: tornado destrói cidade no interior do Paraná

O grande destaque de Novembro certamente foi a ocorrência de um tornado que destruiu cerca de 90% da cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná. Com velocidade dos ventos estimada em 418 km/h, o evento foi classificado como categoria F4, apenas uma categoria anterior à categoria máxima.

Créditos: Jefferson Silva/ Rádio Campo Aberto/ Coprossel.
Cidade destruída por tornado no interior do Paraná. Créditos: Jefferson Silva/ Rádio Campo Aberto/ Coprossel.

O tornado se desenvolveu em um quadro atmosférico onde um ciclone estava se formando, deixando 6 mortos. Pelo menos outros 4 tornados ocorreram no oeste do Paraná durante este dia.

Dezembro: capital paulista registra calor recorde para Dezembro

Uma onda de calor atingiu com força a Região Sudeste na reta final de 2025. Entre o Natal (25) e o último domingo do ano (28), São Paulo capital quebrou três vezes o recorde de temperatura mais alta para um mês de Dezembro:

  • 35,9°C no dia 25
  • 36,2°C no dia 26
  • 37,2°C no dia 28

Este valor ficou apenas 0,6°C abaixo do recorde absoluto desde 1943, de 37,8°C em outubro de 2014.

Termômetros de rua ultrapassam as temperaturas oficiais em São Paulo capital. Créditos: Reprodução/Internet.
Termômetros de rua ultrapassam as temperaturas oficiais em São Paulo capital. Créditos: Reprodução/Internet.

Enquanto isso, desde o Natal cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina vêm sofrendo com inundações e enchentes devido a chuvas extremas.

Afinal, isso é culpa do aquecimento global?

Embora seja necessário realizar os chamados “estudos de atribuição”, que avaliam quanto um evento extremo específico pode ser associado às mudanças climáticas causadas pela ação humana, já há amplo consenso científico de que o aquecimento global aumenta a frequência e a intensidade desses eventos.

Com mais calor acumulado, a atmosfera precisa redistribuir essa energia extra, favorecendo eventos extremos. Ainda assim, nem todo evento pode ser diretamente atribuído às mudanças climáticas sem esse tipo de análise específica.

Referências da notícia

EVENTOS EXTREMOS: janeiro registrou chuva acima da média, publicado por INMET.