A necessidade de um pacto global sobre a poluição do ar

Apesar de ser uma das maiores ameaças à saúde humana da atualidade, a poluição do ar é um problema que pode ser reduzido e controlado. Cientistas de diversos países se juntam para pedir com urgência a criação de um pacto entre os países para o controle e redução da poluição do ar no mundo.

Atualmente a poluição do ar é uma das maiores ameaças à saúde humana. Créditos: Organização Mundial de Saúde

A poluição do ar é uma das maiores ameaças modernas à saúde da população. O mais intrigante é que, apesar de crítico, este problema pode ser reduzido e controlado com algumas ações já conhecidas. Por essa razão, cientistas de diversos países, em parceria com as Nações Unidas, lançaram na semana passada em Nova Iorque, um documento com os principais pontos sobre o tema, propondo com urgência a adoção de uma pacto global para o controle e redução da poluição do ar.

Estimativas mostram que a poluição do ar é responsável por, pelo menos, 5 milhões de mortes prematuras por ano. Apesar de todos sofrerem, os impactos dessa poluição são sentidos mais intensamente pelas parcelas mais vulneráveis da população: pessoas em situação de pobreza, idosos, crianças e mulheres. As consequências são uma ampla variedade de doenças agudas e crônicas, que podem afetar praticamente todos os órgãos, sistemas e processos do corpo humano.

As parcelas mais vulneráveis à poluição do ar incluem crianças e mulheres. Créditos: Dominic Chavez/World Bank/Flickr.

O documento publicado traz também um panorama do custo da poluição do ar para a sociedade do ponto de vista econômico. Doenças relacionadas à poluição do ar causam perda de produtividade e, consequentemente, impactos negativos no produto interno bruto (PIB) de um país, além de contribuírem para desigualdades sociais já existentes.

Deve ser contabilizado, também, o custo do tratamento dessas doenças para os governos, que pode chegar, em países em desenvolvimento, a 7% de todo o orçamento destinado à saúde. Uma estimativa feita em 176 países mostrou que em 2015, 3,8 trilhões de dólares foram gastos com doenças relacionadas à poluição atmosférica.

A maior fonte de poluição atmosférica no mundo é a queima de combustíveis fósseis e de biomassa. São essas mesmas fontes as responsáveis pelos maiores índices de emissões de carbono negro (black carbon), metano, ozônio troposférico e gás carbônico (CO2). Lembrando que o aumento nas concentrações de CO2 e o metano na atmosfera também está associado às mudanças climáticas. Outra fonte, que afeta principalmente mulheres em países de baixa renda, é a queima de combustíveis sólidos, como carvão e lenha, usados em atividades domésticas, como cozinhar.

"Chamado à ação"

O documento foi lançado pelas Academias Nacionais de Ciência e Medicina da África do Sul, do Brasil, da Alemanha e dos Estados Unidos com a premissa da "inequívoca evidência científica dos fortes impactos da poluição do ar a saúde". O objetivo é chamar à ação líderes de governos, empresas e cidadãos para a redução da poluição em todos os países.

Dentre as propostas está a criação de um pacto global sobre a poluição do ar que auxiliaria o cumprimento de outros acordos, resoluções, protocolos e iniciativas já existentes. A equipe pontua que já existem soluções políticas e tecnológicas para a redução dos produtos nocivos gerados pela combustão, e estas devem ser melhor desenvolvidas e compartilhadas em todo o globo.

O Brasil foi representado pelos Professores Maria de Fatima Andrade, Paulo Artaxo, Nelson Gouveia e Paulo H. N. Saldiva da Universidade de São Paulo (USP) e Simone Georges El Khouri Miraglia, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O documento está disponível em português aqui.