Os lagos estão ficando menos azuis! Qual a razão e relação com o clima?

Os lagos azuis ao redor do planeta, em sua maioria localizados em latitudes altas do hemisfério norte, estão correndo o risco de perderem seus belos tons de azul. Isso revela mais uma das consequências provocadas pelo impacto das mudanças climáticas.

Consequência das mudanças climáticas
A alteração na cor dos lagos representa uma perda da saúde do ecossistema.

Os lagos puramente azuis que conhecemos hoje em dia são especificamente encontrados em regiões mais altas e frias, onde há intensa precipitação e cobertura de gelo no inverno, além de também serem mais profundos. Esses lagos fazem parte de menos de um terço dos lagos ao redor do mundo. Já os lagos comumente marrom-esverdeados são facilmente encontrados em regiões interioranas mais secas, e representam quase 70% dos lagos do mundo.

Sabemos que a alteração na coloração dos lagos de azul para esverdeado pode ser influenciada sazonalmente pela presença de sedimentos e mudanças no padrão de crescimento das algas; tudo isso ocorrendo em um processo natural. A principal questão estudada agora consiste na relação que a elevação e profundidade do lago, precipitação e temperatura do ar desempenham na determinação da cor da água dos lagos.

As consequências dessa mudança na coloração não são apenas estéticas, recreativas e culturais, como na Finlândia ou Suécia. Ela define, em muitos casos, uma perda da saúde do ecossistema, já que esse local específico não obterá os mesmos serviços ecossistêmicos quando eles mudarem de azul para verde.

Além disso, dependendo do destino dessa água dos lagos (água potável, pesca ou sustento), quando eles se tornam mais esverdeados, a qualidade dessa água pode ser diretamente impactada, resultando em tratamentos mais caros para posteriormente serem devidamente utilizadas.

Uma pesquisa recente, publicada na Geophysical Research Letters, pioneira em inventário global sobre a cor dos lagos, afirma que os raros lagos azuis ao redor do mundo estão correndo o risco de ficarem marrom-esverdeados devido ao processo de intensificação do aquecimento global.

Para determinar a cor da água mais comum nesse estudo, os cientistas utilizaram 5.14 milhões de imagens de satélite de 85.360 reservatórios e lagos em um período de 2013 a 2020, com a finalidade de cobrir uma amostra suficientemente representativa dos lagos ao redor do mundo. Além disso, a pesquisa identificou, pela intensificação das mudanças climáticas, como diferentes níveis de aquecimento podem influenciar na cor da água.

Ninguém jamais estudou a cor dos lagos em escala global - disse Xiao Yang, autor do estudo e hidrólogo de sensoriamento remoto.

Mesmo que estudos anteriores tenham utilizado uma metodologia mais refinada e complexa no entendimento geral do ecossistema dos lagos, a definição da cor da água é uma métrica simples e extremamente viável de ser executada em escala global através da análise das imagens de satélite.

Como resultado, os autores desenvolveram um mapa interativo para que suas descobertas pudessem ser melhor analisadas. Inclusive, foi detectado que a porcentagem dos lagos azuis presentes nas montanhas rochosas, nordeste do Canadá, norte da Europa e Nova Zelândia está decrescendo em decorrência dos efeitos das mudanças climáticas.

De que maneira isso acontece?

De acordo com a autora e ecologista aquática da Illinois State University, Catherine O’Reilly, o aquecimento das águas produz diretamente um aumento das florações das algas que, por sua vez, tendem a alterar a cor dos lagos para o marrom-esverdeado.

Essa abordagem fornece uma maneira de estudar como os lagos remotos estão se comportando frente aos cenários de mudanças climáticas.

Como exemplo, os Grandes Lagos da América do Norte estão vivenciando um aumento da proliferação de algas; paralelamente a isso, estão entre os lagos de aquecimento mais rápido hoje em dia. Outro exemplo são as regiões remotas do Ártico, que estão apresentando lagos intensamente mais verdes que o normal.

Além disso, à medida que o aquecimento continua e cresce, os lagos provavelmente também perderão sua cobertura de gelo, afetando suas principais atividades culturais principalmente no inverno dessas regiões.