O café e o cacau não desaparecerão devido às mudanças climáticas, mas pagar por eles ficará cada vez mais caro
Embora esses grãos cobiçados não sejam extintos, as mudanças climáticas e os desafios logísticos podem fazer com que desfrutar de seus produtos seja um luxo inatingível para muitos.

Uma manhã sem uma xícara de café é simplesmente impensável para algumas pessoas. O mesmo vale para um pedaço de chocolate que levanta seu ânimo depois de um longo dia. São pequenos prazeres cotidianos que parecem garantidos. Mas e se o preço começar a subir tanto que eles não fiquem mais tão acessíveis?
Isto não é exagero da mídia; é uma tendência documentada em relatórios recentes do Banco Mundial e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
As mudanças climáticas, somadas às tensões logísticas e geopolíticas, estão alterando profundamente a produção e os mercados globais de café e cacau.
O clima, a primeira peça do dominó
Cacau e café não são quaisquer produtos: eles dependem de climas muito específicos.
Chuvas excessivas, secas prolongadas e calor extremo estão afetando diretamente a produtividade na África Ocidental, um importante produtor de cacau, e em países produtores de café como Brasil, Vietnã e Indonésia.
Enquanto isso, o café arábica está enfrentando escassez significativa no Brasil, e o robusta tem sofrido com a seca no Vietnã.
"As mudanças climáticas estão afetando a produção de café a longo prazo", alertou Boubaker Ben-Belhassen, diretor da Divisão de Mercados e Comércio da FAO, em nota publicada pelo El Impulso.
Quem perde com esse aumento de preços?
Quando ouvimos que o preço do café ou do cacau está “nas alturas”, podemos pensar que os agricultores estão comemorando. Mas a realidade é diferente.
Dados do Banco Mundial indicam que em países como Etiópia e Burundi, o café representa mais de 30% da receita de exportação.
No entanto, muitos agricultores continuam na corda bamba: eles precisam lidar com secas, pragas, preços instáveis e, além disso, não recebem o valor integral que pagamos por uma xícara de café na cafeteria.

Por outro lado, não são apenas os produtores que estão em apuros. Em países que dependem de importações — como grande parte da América Latina, África e Ásia — o aumento dos preços pode significar que uma família tenha que escolher entre produtos de café ou cacau e outros alimentos básicos.
Uma trégua temporária, mas a incerteza persiste
Algumas projeções do Banco Mundial sugerem uma possível melhora na oferta para a temporada 2024-2025.
Como aponta a FAO, os sistemas globais de produção são vulneráveis a eventos climáticos extremos, tensões geopolíticas e mudanças regulatórias que podem alterar o equilíbrio entre oferta e demanda. Diante desse cenário, o investimento em inovação se torna crucial.
Embora possa parecer contraditório, esta crise de preços pode abrir caminho para sistemas alimentares mais resilientes e conscientes da sua fragilidade face às mudanças climáticas.
Café e chocolate continuarão existindo, pelo menos por enquanto. Mas se quisermos que eles continuem fazendo parte do nosso dia a dia, teremos que olhar além da embalagem brilhante e pensar em mais do que apenas o aroma rico de uma xícara fumegante.
Referências da notícia
El cacao, el café y el té elevan el costo mundial de las importaciones de alimentos para los países más acomodados. 2024. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
Los precios del cacao y el café repuntan frente a nuevas preocupaciones relacionadas con la oferta. 07 de janeiro, 2025. John Baffes e Kaltrina Temaj.
Estudio ONU/FAO: El cambio climático dispara el precio del café un 40%. 17 de março, 2025. Juan Bautista Salas.