La Niña perde força e caminha para o seu fim

A La Niña de 2021 e 2022 começou a perder força no início deste mês e iniciou sua lenta trajetória em direção a seu fim! As previsões indicam que provavelmente ocorrerá um retorno das condições neutras no Pacífico durante o outono.

La Niña
As anomalias negativas de TSM sobre o Pacífico Tropical caracterizam o evento de La Niña em fevereiro de 2022. Fonte: NOAA.

Nas últimas semanas a La Niña, fase negativa do padrão climático El Niño Oscilação Sul (ENOS), tem dado sinais de enfraquecimento no Pacífico Tropical. As águas frias em superfície que dominavam grande parte das porções central e leste do Pacífico, agora estão menos intensas e mais restritas para leste, devido às mudanças nas condições oceânicas e atmosféricas sobre os trópicos.

Desde o início do evento na primavera de 2021, o Pacífico Tropical registrou um resfriamento substancial e persistente, registrando anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) em grande parte de sua extensão, principalmente no setor central-leste. Esse resfriamento atingiu seu pico entre meados do mês de dezembro de 2021 e início de janeiro de 2022, quando todas as regiões de monitoramento do ENOS - Niño 4, Niño 3.4, Niño 3 e Niño 1+2 - registraram anomalias próximas de -1°C.

A partir de então as anomalias negativas têm perdido força gradativamente na porção mais central da bacia, fazendo com que as águas mais frias ficassem mais restritas ao setor leste, próximo à costa oeste da América do Sul. A região do Niño 3.4, principal usada para monitorar o ENOS, passou de uma anomalia de -1.1°C em dezembro para -0.7°C nessa última semana. Mas quais fatores têm impulsionado essa mudança de padrão?

Apesar da La Niña estar perdendo força, o evento continua ativo e a atmosfera continuará respondendo a ele. Portanto, continuaremos a sentir seus efeitos nos próximos meses!

O primeiro deles está ocorrendo nas profundezas do Pacífico Tropical! Os últimos registros de temperaturas das águas subsuperficiais do Pacífico Tropical mostram uma ampla bolha de águas mais quentes avançando para leste. Essas águas mais quentes cessam o resfriamento em superfície e tem contribuído para um aquecimento das temperaturas.

Entretanto, essa bolha de águas quentes não será forte o suficiente para iniciar um evento de El Niño - fase positiva do ENOS. Ela somente irá aquecer as TSMs até atingirem temperaturas próximas a normal, ou seja, impulsionarão o retorno à neutralidade.

O segundo fator está associado ao comportamento dos ventos de leste que sopram no Pacífico Tropical, os ventos alísios. Durante a La Niña os alísios ficam mais fortes que o normal, favorecendo a ressurgência de águas mais frias no leste da bacia e transportando essas águas frias em superfície para oeste. Nas últimas semanas esses ventos começaram a perder força, iniciando uma quebra do processo de manutenção da La Niña.

Até quando vai durar a La Niña?

Apesar de mais fraca, as condições de La Niña ainda prevalecem tanto no oceano quanto na atmosfera. O índice atmosférico SOI - Southern Oscillation Index - continua positivo, o que significa que a pressão atmosférica sobre o Taiti está maior do que sobre Darwin na Austrália. Essa alteração de pressão está associada ao fortalecimento dos ventos alísios, que apoiam a manutenção da La Niña. Portanto, ainda sentiremos os efeitos da La Niña nos próximos meses.

De acordo com a última previsão probabilística divulgada pelo Centro de Previsão Climática (CPC) da NOAA, a La Niña continuará durante o outono do Hemisfério Sul com 77% de probabilidade e há 56% de chance de um retorno a fase neutra entre os meses de maio a julho. Portanto, a La Niña perderá força gradativamente até chegar ao seu fim no final no outono de 2022, aproximadamente.

Embora alguns modelos já apontem um aquecimento do Pacífico Tropical a partir do inverno, indicando anomalias positivas de TSM na região do Niño 3.4, ainda é muito cedo para inferir um possível evento de El Niño e tudo indica por ora que até o meio deste ano estaremos em uma fase neutra do ENOS.