Inundações e deslizamentos de terra deixam mais de 140 mortos no Congo

A cidade de Kinshasa, capital e maior cidade da República Democrática do Congo, que possui 15 milhões de habitantes, foi atingida por fortes chuvas que deixaram mais de 140 mortos, além de muitos estragos após inundações e deslizamentos de terra.

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Centenas de casas desabaram em deslizamentos de terra na madrugada de terça-feira. Foto: Reuters

Na última terça-feira (13) fortes chuvas provocaram inundações e deslizamentos de terra na cidade de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo com 15 milhões de habitantes. Além dos inúmeros estragos, mais de 140 mortes foram registradas pelas autoridades congolesas.

Mais um dos muitos episódios de desastres ambientais mortais de 2022 atinge o Congo, fato que deixou mais de 140 mortos na capital Kinshasa.

Uma das piores enchentes dos últimos anos na República Democrática do Congo foi registrada nesta terça-feira (13), afetando inclusive a maior cidade e capital Kinshasa que teve diversos bairros, grandes infraestruturas e estradas importantes afetadas pelas fortes chuvas. O que tornou o episódio difícil de ser esquecido no entanto, não foram os prejuízos materiais, e sim a morte de mais de 140 pessoas.

Cerca de 40 mil residências foram inundadas, onde 280 delas desabaram. Por conta das pessoas que foram vítimas fatais dessa força da natureza, o presidente Félix Tshisekedi, que está em Washington para uma cúpula EUA-África, declarou três dias de luto e disse que encurtaria sua viagem, voltando para Kinshasa na quinta-feira após se encontrar com o presidente Biden.

Inundações devastadoras

Durante este ano de 2022 foram vários os episódios de inundações devastadoras em áreas da África Ocidental e também Central. São diversos fatores que influenciam nesse aumento, sendo uma mistura considerada mortal entre o desenvolvimento urbano desenfreado e caótico, além das mudanças climáticas em que dezenas de cidades africanas estão enfrentando diante seu rápido crescimento.

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Muitos bairros, grandes infraestruturas e estradas importantes da capital ainda estavam debaixo d'água ou em ruínas na quarta-feira, após a chuva torrencial do dia anterior. Foto: Samy Ntumba Shambuyi/Associated Press

Vale destacar que na Nigéria, o país mais populoso da África, centenas de pessoas morreram, cerca de um milhão pessoas ficaram desabrigadas e pelo menos 200 mil casas foram destruídas em outubro deste ano, após a pior enchente do país em uma década. Aliá, cientistas disseram em um relatório no mês de novembro que a estação chuvosa, que vai de abril a outubro, foi 20% mais úmida do que seria sem os efeitos das mudanças climáticas.

Neste último episódio registrado no Congo, cerca de 141 vítimas fatais já foram confirmadas segundo Jean-Jacques Mbungani Mbanda, ministro da saúde do país, mas o número ainda pode crescer nos próximos dias, pois as buscas ainda continuam diante de todo o caos instalado na capital.

Não foi a primeira vez que inundações e deslizamentos de terra deixaram mortos. Em 2019, dezenas de pessoas morreram depois que as chuvas inundaram partes baixas da cidade, isso porque muitas casas estão em assentamentos informais construídos perto do rio ou em encostas propensas a deslizamentos de terra. Porém, a inundação desta semana foi considerada muito mais destrutiva.

Relatos mostram que um dos deslizamentos de terra interditou uma rodovia importante que serve como rota de abastecimento entre Kinshasa e Matadi, sendo uma saída crucial do país pelo Oceano Atlântico.

Urbanização e as mudanças climáticas

As mudanças climáticas provocam impactos negativos em todo o globo e não é novidade notícia de destruição e mortes provocadas pelas chuvas, no entanto, os países africanos estão entre os mais afetados.

Além disso, também estão se urbanizando mais rapidamente, apresentando grandes desafios, pois suas cidades em constante expansão enfrentam enormes perdas econômicas causadas por desastres ambientais. Eles lutam há muito tempo para garantir fundos para a adaptação climática.

Há dois anos atrás, o Banco Mundial fez uma estimativa de que a interrupção do transporte causada por cada dia de inundação em Kinshasa custou US$ 1,2 milhão às famílias – um valor que não inclui danos à infraestrutura e perdas para empresas e cadeias de suprimentos. No episódio desta semana, nem se tem ideia deste número ainda.

Fortes chuvas na Nigéria durante este ano inundaram pelo menos 270 mil acres de terra arável, o que provocou agravamento e incertezas sobre a segurança alimentar na região. No geral, 2,5 milhões de acres de terra arável foram inundados na África Ocidental e Central por causa das chuvas acima da média deste ano, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos da ONU.

Antes mesmo desse último episódio devastador no Congo, a ONU havia alertado na semana passada que em média 48 milhões de pessoas devem passar fome na região no próximo ano, incluindo nove milhões de crianças, enquanto os governos lidam com os efeitos das mudanças climáticas e também com as consequências da guerra na Ucrânia.

Vale ressaltar que na reunião da COP27 neste outono, os diplomatas concordaram em estabelecer um fundo que garantiria ajuda aos países pobres para lidar com os desastres climáticos agravados pelos grandes emissores de gases do efeito estufa. Em sua fala, Tshisekedi, o presidente congolês disse que “centenas de vidas humanas perdidas” deveriam ter sido evitadas se os países poluidores tivessem respeitado seu compromisso de combater a mudança climática.