Grande Barreira de Corais sofre pior declínio da história em 2024
Novo relatório aponta perda massiva de corais causada por calor recorde nos oceanos e reforça alerta sobre impactos da crise climática global nos ecossistemas marinhos.

A Grande Barreira de Corais da Austrália enfrentou, em 2024, o maior declínio já registrado em sua história, segundo um novo relatório do Instituto Australiano de Ciências Marinhas (AIMS). O documento revelou que entre um quarto e um terço da cobertura de corais duros foi perdida em três regiões principais do recife, após uma intensa onda de calor marinha agravada pelo fenômeno El Niño.
O evento ocorreu durante um raro branqueamento global em massa, que afetou recifes ao redor do mundo. As águas anormalmente quentes geraram estresse térmico nos corais, levando-os a expulsar as algas simbióticas responsáveis por sua cor e energia – um processo que os deixa esbranquiçados e vulneráveis à morte.
Em áreas específicas, como o norte e o sul da Grande Barreira, a situação foi ainda mais crítica: até 70% dos corais vivos desapareceram. De acordo com o relatório, os impactos de 2024 superaram todos os eventos anteriores em intensidade e abrangência desde o início do monitoramento científico, há quase quatro décadas.
"Incêndios florestais subaquáticos"
Pesquisadores que visitaram a região em 2024 e 2025 relataram cenas chocantes de branqueamento generalizado tanto na Grande Barreira quanto no Recife de Ningaloo, na costa oeste australiana. Um dos cientistas descreveu a situação como “incêndios florestais subaquáticos”, tamanho o grau de devastação observado.

A perda é especialmente desanimadora por ter ocorrido após alguns anos de recuperação parcial. Corais de crescimento rápido, que haviam ajudado na regeneração do recife após branqueamentos anteriores, foram justamente os mais afetados. O relatório afirma que esses organismos eram “extremamente vulneráveis” e que sua perda já era prevista como uma possibilidade preocupante.
Com base na intensidade e frequência dos eventos recentes, os autores do relatório alertam que a Grande Barreira pode estar se aproximando de um ponto de não retorno. “Existe a possibilidade real de que o recife não consiga mais se recuperar como fazia no passado”, aponta o documento.
Patrimônio ameaçado
A Grande Barreira de Corais é o maior sistema de recifes do mundo, com cerca de 345 mil quilômetros quadrados. Ela abriga mais de 1.500 espécies de peixes e mais de 400 tipos de corais duros. O ecossistema gera bilhões de dólares por ano para a economia australiana, principalmente por meio do turismo.
O relatório lembra que os oceanos absorvem cerca de 90% do excesso de calor gerado pelo aquecimento global. Nos últimos oito anos, as temperaturas oceânicas bateram recordes consecutivos, tornando os eventos extremos mais frequentes e severos.
Apelo por ação urgente
O Conselho de Conservação de Queensland, principal coalizão ambiental do estado, classificou o relatório como um “chamado à ação”. Em nota, a organização pediu o fechamento de usinas a carvão e a aceleração da transição energética da Austrália, como forma de conter os efeitos das mudanças climáticas.
Os cientistas também reforçaram a necessidade de aumentar os investimentos em pesquisa para adaptação e proteção dos recifes. Mesmo que o mundo consiga limitar o aquecimento global, eles alertam que os recifes do futuro dificilmente se parecerão com os do passado.
“A perda de biodiversidade parece inevitável”, conclui o relatório, destacando que as decisões tomadas hoje serão determinantes para a sobrevivência dos recifes nos próximos anos.
Referências da notícia
CNN Brasil. Grande Barreira de Corais teve maior declínio da história em 2024. 2025