A forte massa de ar frio que cruza o país: é realmente sem precedente?

Para a maior parte do Brasil, um dos assuntos mais falados da semana foi a chegada de um sistema frontal intenso e gelado. Para muitos estados, o sistema aliviou as temperaturas e trouxe umidade pondo um fim em um longo período de estiagem.

forte frente fria
A chegada da onda de ar frio com neve marcou o inverno de 2020.

Frio, neve e geada, foi assim que boa parte do Brasil passou esta semana. A intensa massa de ar polar chegou no Brasil na quarta-feira (19) e derrubou as temperaturas pelo sul do país. As primeiras precipitações de chuva congelada e neve ocorreram na quinta-feira (20), no mesmo dia a frente já havia cruzado toda a região sul e adentrado no sudeste do Brasil. Na sexta-feira (21), as temperaturas despencaram no sudeste e no centro-oeste e o sistema frontal chegou ao norte do país.

Este tipo de evento não é comum, mas não chega a ser um fato histórico e nem um evento causado por mudanças climáticas. Sistemas frontais intensos podem se deslocar por milhares de quilômetros e, inclusive, atravessar de um hemisfério para outro. No norte do Brasil, na Bacia Amazônica, este tipo de fenômeno já tem terminologia: “friagem”. O termo se refere a brusca queda de temperatura em resposta à entrada de massas polares pelas bacias da prata e do Paraguai que penetram em direção ao norte.

É necessário destacar que as massas de ar que se deslocam para muito longe de sua região de origem perdem suas características e somente os resquícios alcançam longas distâncias.

Há mais de 50 anos atrás, um estudo do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos mostrou que um sistema frontal do hemisfério sul, em 1957, foi capaz de alcançar o sul da Venezuela por volta de 10º N, provocando a queda na temperatura e precipitação intensa na região.

Outro caso de forte sistema frontal foi relatado há mais de 40 anos atrás. O estudo da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional descreveu que em meados de julho de 1975, um forte sistema frontal cruzou as latitudes tropicais da América do Sul. Temperaturas congelantes foram relatadas no sul do Brasil, e a atividade diária de tempestades na bacia do rio Amazonas deu lugar a nebulosidade estratiforme baixa. Frances C. Parmenter, autor do trabalho, relatou que o sistema frontal demorou apenas 9 dias para partir do sul da Argentina e cruzar a linha do equador.

Outro acervo na literatura acadêmica sobre fortes frentes frias são trabalhos de meteorologia no nordeste do Brasil que relatam a chegada de sistemas frontais na região, como por exemplo:

Neste sábado (22), o sistema frontal já cobriu praticamente todo o estado do Amazonas, mas está perdendo sua força rapidamente. No domingo (23), a frente fria avançará pelo ES e sul da BA com chuva fraca e muito frio. No interior do continente, aos poucos o escoamento de norte volta a predominar e as temperaturas deverão voltar a subir gradativamente, embora as mínimas ainda sejam baixas com geada em grande parte do Sul do país.