Falhas no sistema de proteção contra inundações em Porto Alegre são apontadas desde 2015, segundo documento oficial

Falhas na drenagem urbana de Porto Alegre foram informadas desde 2015, por meio do Plano Municipal de Saneamento. Falta da capacidade hidráulica foi um dos problemas apontados.

Porto Alegre
Sistema de drenagem da capital gaúcha possui falhas em seu funcionamento, que foram apontadas em documento do Departamento Municipal de Água e Esgotos. Foto: Lauro Alves.

As recentes chuvas que atingiram o estado do Rio Grande do Sul deixou 157 mortes, até a última atualização, e mais de 2 milhões de pessoas afetadas. Segundo a Defesa Civil do estado, até esta última segunda-feira (20), 85 pessoas ainda estão desaparecidas.

Tais eventos extremos eram previsíveis e seus efeitos poderiam ser evitados, e falhas na manutenção da infraestrutura de saneamento são apontadas desde 2015.

Sucessão de eventos extremos de precipitação no estado

Esta não foi a primeira vez que chuvas intensas causam estragos no Rio Grande do Sul:

  • Setembro de 2023: mais de 2 mil pessoas ficaram desabrigadas e cerca de 50 mil pessoas foram atingidas pelas enchentes, inundações e alagamentos.
  • Novembro de 2023: acumulado de precipitação ultrapassou 300 milímetros, mais de 600 mil pessoas foram afetadas em quase metade das cidades do Rio Grande do Sul.
  • Abril de 2024: chuvas fortes deixam mais de 150 mortos no estado e nível do Guaíba atinge a cota de 5 metros em Porto Alegre, deixando a capital inundada por semanas.

O cenário da capital gaúcha foi o mais preocupante. O sistema de proteção contra inundações não conseguiu bombear a água e permitiu que o centro histórico e dez bairros fossem diretamente atingidos, prejudicando mais de 150 mil pessoas e prejuízos em diversos equipamentos públicos, como praças, escolas, vias públicas e serviços de saúde

O sistema de proteção da capital conta com um conjunto de diques projetado para conter até 6 metros de água, e um deles é o muro da avenida Mauá. Porém, as águas começaram a inundar o centro da cidade quando a cota do Guaíba atingiu 4,5 metros, em decorrência das brechas entre o muro e as portas, assim como o funcionamento precário das comportas.

Sistema contra inundações apresentava falhas há muito tempo

No entanto, depois de duas semanas desde o inicio das inundações na cidade, apenas 8 das 23 estações de bombeamento estão em pleno funcionamento. Isto demonstra a incapacidade do sistema em lidar de maneira eficaz com o desastre.

A ineficácia do sistema de proteção contra as cheias já era apontada no Plano Municipal de Saneamento de 2015.

No documento foi apontado a falta de capacidade hidráulica instalada, capaz de suportar a vazão de água abaixo do necessário, além de mencionar o estado precário das instalações, sistemas mecânicos e elétricos. Além disso, o diagnóstico apontou as condições operacionais das casas de bombas, com algumas atuando em níveis operacionais abaixo dos 50%, entre elas, as que retiram água do centro da capital.

Porto Alegre
Rodoviária alagada na capital Porto Alegre após as fortes chuvas. Foto: Reprodução/Folha do Leste.

A repetição de falhas durante os eventos de 2023 mostra que estas medidas não foram completamente eficientes, levantando questões a respeito da manutenção e da capacidade do sistema em lidar com eventos de tamanha magnitude.

Como funciona o sistema de bombas em Porto Alegre?

O equipamento consiste em um conjunto de bombas, que é capaz de retirar a água de um lugar para o outro por meio da energia elétrica, mecânica e hidráulica. O sistemas de proteção de Porto Alegre envolve cerca de 65 km de diques e um muro de concreto de 2,67 quilômetros. Além disso, conta com 14 portões ou comportas e 22 estações de bombeamento de esgoto pluvial.

O sistema ficou 51 anos sem que a água do rio Jacuí tocasse o muro, até novembro de 2023, quando a capital Porto Alegre totalizou 325 milímetros de precipitação.

As águas do Guaíba voltaram a baixar nesta última segunda-feira (20), permitindo que a cidade de Porto Alegre comece a retomar algumas atividades. Mas agora o cenário é de muito entulho nas ruas, como colchões, móveis, sofás e outros objetos destruídos pela enchente, além da quantidade de lama.

A Secretaria de Serviços Urbanos de Porto Alegre (SMSUrb) está auxiliando na limpeza das ruas e elaborou um plano para agilizar o recolhimento do lixo. Cerca de mil toneladas de lixo foram retiradas das ruas da cidade.

Diante deste cenário de guerra, a melhoria de políticas públicas de gestão no setor de saneamento é essencial para evitar que desastres como este aconteçam de novo, garantindo a qualidade dos serviços prestados à população.

Referência da notícia:

Departamento Municipal de Água e Esgotos. Plano Municipal de Saneamento Básico, Porto Alegre/RS, 2015.