Epagri confirma tsunami em Santa Catarina

Segundo estudo divulgado pela Epagri, um tsunami com características meteorológicas atingiu Santa Catarina em 2019, provocando destruição e prejuízos a pescadores e moradores do litoral catarinense.

Tsunami é confirmado no litoral de Santa Catarina em 2019, diz estudo divulgado pela Epagri.
Tsunami é confirmado no litoral de Santa Catarina em 2019, diz estudo divulgado pela Epagri.

Há pouco mais de um ano, no dia 29 de outubro de 2019, o Litoral Centro Sul de Santa Catarina registrou a ocorrência de uma onda do tipo tsunami. O registro foi feito pelas estações maregráficas da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).

Segundo o estudo realizado sobre os registros, a onda se formou inicialmente em Balneário Rincão, passando por Imbituba, Florianópolis e se dissipando próximo a Balneário Camboriú duas horas e meia, aproximadamente, depois do primeiro registro.

O trabalho foi liderado pelo pesquisador Rogério Candella, da Marinha do Brasil no Rio de Janeiro, em parceria com o oceanógrafo Carlos Eduardo Araújo, da Epagri/Ciram. A caracterização do fenômeno foi publicada na revista Natural Hazards na semana passada.

De acordo com a rede de radares meteorológicos, estações meteorológicas e estações maregráficas da Epagri, que fazem parte do sistema de monitoramento costeiro na região, o fenômeno registrado foi de características meteorológicas, ou seja, um meteotsunami.

A onda causou alagamentos repentinos, “carregando” barcos e carros ao longo da costa, deixando rastros de destruição e trazendo prejuízos para pescadores e moradores na região. Não foi a primeira vez que que ondas ocasionaram prejuízos na costa catarinense, mas rapidez e a força do evento chamaram a atenção.

Meteotsunami

Ao contrário dos tsunamis encadeados pela atividade sísmica, os meteotsunamis são impulsionados por distúrbios da pressão do ar frequentemente associados a eventos climáticos de rápida movimentação, como tempestades severas, rajadas e outras frentes de tempestade.

Por ter influência atmosférica, os meteotsunamis são rápidos e não há um modelo que preveja a sua formação com antecedência, explica Araújo.

A tempestade gera uma onda que se move em direção à costa e é amplificada por uma plataforma continental rasa, uma enseada, baía ou outra feição costeira. Esses fenômenos são raros, perigosos e geralmente ocorrem durante a passagem de linhas de instabilidade atmosféricas intensas.

Frederico Rudorff, gerente de monitoramento e alerta da Defesa Civil de Santa Catarina, ressaltou que não é apenas o vento que provoca o tsunami meteorológico, mas sim a combinação peculiar de fatores.

Rudorff explica que a perturbação da pressão atmosférica sobre o mar, a velocidade e a direção de deslocamento da tempestade em relação à linha de costa e a batimetria local, podem gerar uma ressonância e uma amplificação da onda.

De acordo com a publicação, o marégrafo da Epagri que opera no porto de Imbituba, foi fundamental para a detecção do meteotsunami. Esse marégrafo opera em condições análogas à rede mundial de prevenção e detecção de tsunamis, registrando o nível do mar a cada 60 segundos.

Acompanhando a mudança do nível do mar nas outras estações, se concluiu que este meteotsunami se caracterizou por duas ondas principais, que no seu ponto máximo atingiram 75 e 118 cm, e que viajaram pela costa de Sul a Norte do estado em uma média de 84 km/h.

Não foi a primeira vez que o fenômeno foi registrado no Brasil. De acordo com o estudo de Araújo e Candella, oito meteotsunamis foram registrados entre os anos de 1977 e 2020. Seis deles ocorreram na região Sul do país, onde a atmosfera costuma ser mais instável devido à passagem de sistemas de baixa pressão.

Em Santa Catarina já houve registros na praia do Pântano do Sul, em 19 de novembro de 2009. Em Araranguá, no Sul do estado, houve um registro em 2016 e em 2019, no município de Imbituba.

Justamente por ter influência atmosférica, os meteotsunamis são rápidos e não há um modelo que preveja a sua formação com antecedência, explica Araújo. “Só sabemos o que está acontecendo e, talvez poderemos prever no futuro, se tivermos uma rede de monitoramento”, ressalta o oceanógrafo.

Para os especialistas, a confirmação do fenômeno mostra a importância do monitoramento em prevenir prejuízos materiais e possíveis perdas de vidas.