Encontrados lagos que possuem mais plástico do que as grandes Ilhas de plásticos dos oceanos

Estudo publicado recentemente na revista Nature encontrou ecossistemas de água doce com uma concentração de microplásticos maior do que a concentração das grandes ilhas de plásticos dos oceanos.

pesquisadoras coletando amostras
As pesquisadoras Veronica Nava e Barbara Leoni coletando amostras. Crédito: Veronica Nava.

A poluição por plásticos impacta ecossistemas em escala global, afetando até mesmo locais remotos onde a presença do ser humano é mínima, como já noticiamos aqui na Meteored Brasil.

As ilhas de plástico são extensas áreas no oceano que acumulam uma quantidade enorme de lixo, principalmente partículas de plástico transportadas pelos ventos e correntes oceânicas. Apesar do nome, outros materiais também constituem esse lixão, como aparelhos eletrônicos, metais, garrafas, equipamentos de pesca, etc.

E essa poluição não tem limites! Agora, uma pesquisa recente publicada na revista Nature identificou que alguns ecossistemas de água doce do mundo possuem uma concentração de microplásticos maior do que as grandes zonas de acumulação dos oceanos, conhecidas como Ilhas de plástico.

Quais lagos foram analisados?

A pesquisa, liderada pela Universidade de Milano-Bicocca, coletou amostras de águas superficiais de 38 lagos localizados em 23 países diferentes, distribuídos por 6 continentes. Entre tudo o que foi encontrado, destaca-se principalmente o poliéster, polipropileno e polietileno.

Entre aqueles em que se identificou a maior contaminação por microplásticos estão o lago Maggiore (Itália), o Lugano (entre Suíça e Itália), o Tahoe (nos EUA), o Neagh (Irlanda do Norte) e Pantà de Sau, em Catalunha (este último um dos que comparativamente mostrou os piores níveis de microplásticos).

fio de nylon, corda, fundo do lago
Um pedaço de corda de nylon (um tipo de plástico) de uma linha de ancoragem a 100 m de profundidade em Palaos (Oceania). Isso pode causar danos aos corais por muitos anos. Créditos: Luiz A. Rocha, California Academy of Sciences.

Os lagos são como sentinelas da poluição, pois acabam acumulando resíduos plásticos que se dispersam por diversas fontes como reservatórios ou a atmosfera. Além disso, ao chegarem às suas águas, os lagos podem reter, modificar e transportar os resíduos plásticos através das bacias hidrográficas até aos oceanos”, afirmou Miguel Cañedo Argüelles, coautor do estudo.

O plástico leva cerca de 450 anos para se decompor na natureza, por isso sua poluição é um grande problema. Já outros materiais que compõem as ilhas de plástico, como madeira e ferro, são corroídos com o tempo. Verónica Nava, da Universidade de Milano-Bicocca e coautora do estudo, afirma: “Além de impactar negativamente na água potável que precisamos, a poluição plástica tem efeitos nocivos sobre os organismos aquáticos e o funcionamento dos ecossistemas”.

Os efeitos do plástico nos ecossistemas de água doce

De acordo com Nava, “o plástico que se acumula na superfície dos sistemas aquáticos pode promover a liberação de metano e outros gases de efeito estufa. Esses resíduos podem interagir com a atmosfera, a biosfera e a litosfera, afetando os ciclos biogeoquímicos”.

plástico flutuando
Um saco plástico flutuando em torno de um dos recifes de coral de Omã. Crédito: Tane Sinclair-Taylor.

Ela continua dizendo que “a circulação entre os diferentes elementos da terra, que passam da matéria viva à matéria inorgânica através de reações químicas, ainda não é totalmente compreendida, sendo necessária uma avaliação holística da poluição plástica em lagos”.

Os resultados desse estudo mostram que nenhum lago, nem mesmo os mais distantes da atividade humana, pode ser considerado intocável. “Esse resultado deve nos levar a rever as estratégias de redução da poluição e os processos de gestão de resíduos”, conclui Nava.