Descoberta de terras raras no Sul do Brasil aponta concentração até seis vezes maior que na China

Estudo liderado por universidades gaúchas revela potencial inédito em Caçapava do Sul, com teores de terras raras muito acima dos padrões internacionais e impacto direto em setores de alta tecnologia.

Pesquisadores coletam amostras de solo em Caçapava do Sul (RS), onde foram identificadas concentrações de terras raras até seis vezes superiores às encontradas na China.
Pesquisadores coletaram amostras de solo em Caçapava do Sul (RS), onde foram identificadas altas concentrações de terras raras. Crédito:Unsplash

Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade do Pampa (Unipampa) anunciaram a descoberta de rochas e solos com altíssima concentração de elementos de terras raras (ETRs) em Caçapava do Sul, na região central do Rio Grande do Sul. As análises preliminares indicam teores até 12 vezes superiores aos observados em solos de Cuba e seis vezes maiores do que os da China, líder mundial na produção desses elementos.

A pesquisa integra um projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com previsão de conclusão até dezembro de 2026. A descoberta é significativa, considerando a importância estratégica das terras raras na produção de equipamentos eletrônicos, motores elétricos, turbinas eólicas e outras tecnologias essenciais para a transição energética global.

Apesar do nome, terras raras não são exatamente escassas. O termo "raro" refere-se à complexidade de sua extração e purificação, além do desafio geológico envolvido. No Brasil, esses elementos ocorrem em várias regiões, mas sua exploração comercial ainda é limitada, muitas vezes dependente de investimentos estrangeiros.

Rochas com alto teor de elementos de terras raras

A coordenação do projeto está a cargo do professor Marcelo Barcellos da Rosa, do Departamento de Química da UFSM. Ele explica que a equipe identificou rochas do tipo carbonatito, como as encontradas na Picada dos Tocos, altamente ricas em minerais como apatita, pirocloro, monazita-(Ce) e aeschynita-(Ce), além de elementos estratégicos como nióbio e tântalo.

Um dos achados da pesquisa é a rocha de corbonatito Picada dos Tocos, rica em elementos de terras raras - Laboratório de Pesquisas Químicas e Farmacêuticas /Divulgação/UFSM
Um dos achados da pesquisa é a rocha de corbonatito Picada dos Tocos, rica em elementos de terras raras. Créditos: Laboratório de Pesquisas Químicas e Farmacêuticas /Divulgação/UFSM

Cada universidade parceira possui uma função específica no estudo: a UFSM lidera a coleta e análise de amostras de solo, vegetação e água; a UFRGS atua na caracterização mineralógica e geológica; enquanto a Unipampa se concentra na análise ambiental da fauna local e identificação das áreas mais promissoras.

Segundo Lucas Mironuk, pesquisador da UFSM, as concentrações já identificadas em rochas, solos e até na vegetação nativa, como a carqueja, são altamente promissoras. “A qualidade dos dados confirma um potencial comparável – e, em alguns casos, superior – às principais jazidas internacionais”, afirma.

Potencial estratégico ainda inexplorado

Hoje, o Brasil detém cerca de 23% das reservas mundiais conhecidas de terras raras, ocupando o segundo lugar global em concentração. No entanto, ainda não figura entre os maiores produtores ou exportadores desses materiais, e a maior parte das iniciativas de extração é controlada por capital estrangeiro.

As principais reservas brasileiras conhecidas estão localizadas em Minas Gerais (Araxá, Poços de Caldas e Tapira), Goiás (Catalão e Minaçu), São Paulo (Jacupiranga e Itapirapuã) e Amazonas (Pitinga). Com a nova descoberta em Caçapava do Sul, o Rio Grande do Sul se insere nesse mapa estratégico de recursos minerais.

Além de seu valor econômico, as terras raras são cruciais para o desenvolvimento tecnológico e sustentável. Elas estão presentes em sensores, discos rígidos, motores elétricos e geradores eólicos. Os ímãs produzidos com esses elementos são valorizados por sua resistência à desmagnetização e capacidade de operar em altas temperaturas – características essenciais para o avanço da indústria de energia limpa.

Referências da notícia

Revista Fórum. Terras Raras: novas descobertas no Brasil com concentrações no solo até 6 vezes maiores que a China. 2025